Alucinações

Aquela situação estava ficando cada vez mais desagradável, minhas alucinações aumentavam a cada dia que passava e via espíritos por toda parte, espíritos de pessoas que já morreram, mas parece que querem algum favor de minha pessoa. Ouço vozes todas as noites me impedindo de cair no sono depois de um dia tedioso no trabalho. Quando ousavam em me encontrar pareciam me acenar querendo me dizer alguma coisa ou querendo pagar alguma dívida, pois em toda minha vida fui um medroso. Sempre tinha medo de ficar sozinho e dormir no escuro por isso pedia a Sergio meu pai hoje já falecido para deixar a luz do corredor acesa assim poderia dormir em paz, mas mesmo com toda essa segurança escutava vozes algumas noites e eram principalmente quando não conseguia dormir e meus pensamentos viajavam pelo meu subconsciente tentando encontrar respostas para minhas aflições. Sem sucesso. Hoje levo esse fardo em minhas costas. Perdi muitos amigos por não ter coragem de fazer coisas que pessoas normais encaravam sem problema algum. Sinto-me um fracassado, não tive coragem de enfrentar meus medos por espera de um dia tudo aquilo desaparecer. Errado. Meus pais estão mortos. Tudo aconteceu graças a mim! Sim a mim! Certa vez ambos saíram para trabalhar. Sergio e Andréia na caminhonete da empresa de meu pai e fiquei “sozinho” em casa. Foi ai que meu medo tomou conta e não consegui parar meus pensamentos que tão profundos eram me colocando em uma situação desesperadora. Vi espíritos de pessoas que nunca vi em minha vida e sai correndo para o quarto de meus pais e liguei imediatamente gritando dizendo que estava prestes a morrer. Desligaram o telefone e vieram o mais rápido possível ao meu socorro, mas então ouve a tragédia. Meu pai estava muito rápido e acabou colidindo de frente a uma parede de cimento fortemente revestida. Depois daquela noite nunca mais eu os vi voltar para casa. Desmaiei e acordei no outro dia sem saber o que fazer e ligando para a polícia pedindo para encontrar os dois. Logo encontraram e me ligaram, mas não pude olhar para cara deles e dizer que sinto muito porque suas faces foram amassadas, pareciam até com um gorduroso quilo de carne moída. Foi horrível e tudo isso ocorreu porque não soube enfrentar meus medos de frente e dizer que não queria mais sua presença infame em minha vida patética que levava. Enfim resolvi enfrentar tudo aquilo e primeiramente procurei um psicólogo para contar sobre minhas visões.

- Então caro meu caro amigo Juliano conte-me sobre sua vida para ver o que posso fazer por você

- Olha espero que realmente acredite em mim, pois estou sem saída e por isso recorri ate sua clínica, quando era pequeno sempre tive meus medos, mas em especial pelo escuro e por espíritos. Pode parecer um tanto quanto patético, mas para mim nunca foi e isso foi se desenvolvendo até um certo ponto onde vejo espíritos em quase todos os lugares que vou, não sei bem o que querem de mim pois ficam acenando e dando risadas. Não sei o que faço.

- Vejo que a sua situação e mais grave do que parece, irei lhe ajudar mais primeiro precisa controlar seus pensamentos e suas emoções Juliano, só assim saberá enfrentar seus medos.

- Mas não consigo, graças a isso matei meus pais quando fui criança. Ás vezes tenho vontade de morrer porque acho que nunca serei uma pessoa normal.

- Você é normal como todos nós, o primeiro passo você já deu para a mudança que foi vindo até minha clínica para tratar de um problema pessoal seu, estou muito orgulhoso que criou coragem e me disse toda a verdade para eu poder lhe ajudar.

Conversamos durante 40 minutos sobre minhas alucinações e ele me receitou alguns livros para eu começar a ler, ambos falavam sobre liderar seus pensamentos. Por fim aceitei sua receita e sai o agradecendo muito por se importar pelo o que eu estava passando. Passei na livraria mais próxima e comprei os dois livros que ele havia me receitado. Cheguei em casa tomei um leve banho e novamente ouvi vozes.

“Você está perdido e não irá se libertar nunca é um fraco e por isso não sairá da estaca zero. Tudo isso não passa de uma perda de tempo esqueça tudo e aceite sua situação.”

- Não! Chega de me fazer seu prisioneiro! Eu irei me libertar, não agüento mais viver de alucinações que me mantém nessa vida miserável que levo. Primeiro meus pais, mas digo uma coisa não irá me destruir!

Ao terminar de dizer as luzes se apagaram. Senti um vento forte sobre meu corpo. Coloquei a toalha e peguei meu celular para iluminar a casa com a lanterna embutida encontrando minhas roupas que estavam em meu quarto. O encontrei com a porta fechada ao tentar abrir estava trancado. Bati forte com o intuito de derrubar a porta, mas parecia que outra pessoa estava a segurando pelo outro lado. Tentei várias vezes, mas em vão. De repente a porta se abre sozinha facilmente fazendo um ronco medonho. Peguei meu celular para iluminar as coisas em minha volta e pude ver minhas roupas que iria vestir depois do banho todas rasgadas e jogadas no chão enquanto a cama estava pichada com uma frase:

“Acha que pode me desafiar?”

Senti calafrios dos pés a cabeça, mas eu não podia me render agora. Estava prestes a me tornar um novo homem, um cidadão normal como todos os outros e não podia demonstrar medo algum.

- Estou lhe desafiando, por que não aparece para resolvermos tudo?

Senti um cheiro de podre vindo até mim, quando olho vejo meu pai colado com minha mãe, pude os identificar pelos sapatos. A cara estava toda amassada sem reconhecimento algum. Os dois estavam colados e rastejando ao meu encontro.

- Filho, você é um medroso não se lembra? É um fracasso e precisa aceitar os fatos. Você é um fracassado! Junte se aos seus pais.

-Não! Dessa vez não! Eu ordeno que saiam de minha mente nesse exato momento, meus pais já estão mortos, vocês são aberrações criadas pelo meu subconsciente. Suma de minha vida eu ordeno que todos os medos e acontecimentos caiam em um submundo sem fim!

Gritei com fé e com clareza, sabia que tudo estava prestes a acabar. Vi um clarão iluminar toda minha casa, depois acordei em minha cama no dia seguinte sem lembrar absolutamente de nada. Sai para meu trabalho, era segunda feira e esta semana iria ser diferente, iria ser o começo de uma nova vida. Uma vida normal e feliz. Logo ao sair meu visinho me cumprimentou.

-Bom dia Juliano, está muito bem hoje.

-Bom dia José, hoje escrevo um novo capítulo em minha vida.

Rafael Fernando Cibi
Enviado por Rafael Fernando Cibi em 23/07/2013
Reeditado em 23/07/2013
Código do texto: T4400757
Classificação de conteúdo: seguro