Transmissões ao vivo - 11°DTRL

Pessoal, escrevi esse conto ás pressas para poder participar do DTRL. Meu objetivo era conseguir participar dessa edição, pois estava devendo, por isso o conto não ficou o esperado. Mas é aberto a interpretações. Vou tentar me preparar melhor para a próxima edição.

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Ela via a tortura.

Todo dia.

Convivia com ela, os espelhos assim permitiam. Eram três. Um grande e vertical que deixava as pessoas altas e magras. Um largo e vertical que deixava as pessoas altas e gordas. E por último, um largo e horizontal, que deixava as pessoas baixas e gordas. Mas independente da quantidade de espelhos e de seus efeitos, ela os odiava.

Deixemos os espelhos de lado por um minuto

Ela vivia sozinha.

A casa era gigantesca para uma pessoa só. Vivia com a solidão e o silêncio, temperados com um pouco de uísque. Não ousava falar consigo própria, pois sua voz ecoava por todos os cômodos, rebatendo e aqui e acolá, causando uma sinfonia nada agradável.

Ela também tinha pesadelos.

Sonhava com tempos passados, quando ainda era uma pessoa feliz. Pensando assim, pareciam tempos distantes, mas não. Tudo não passava de um passado não muito distante, quando... Ela nem ousava se lembrar.

Voltando aos espelhos...

Eles mostravam o que ela detestava ver.

Eles mostravam a morte em seu estado puro e natural, sem cortes nem catchup. E a banhavam com o sangue jorrado. Eram momentos diários, e sua audiência sempre era certa.

O espelho grande e vertical mostrava um homem grisalho, sem dentes, enrugado e curvado. Esse sempre segurava uma foice numa mão e uma criança na outra. E sempre cortava os braços primeiro. Depois as pernas. E por último o pescoço. Ela assistia a tudo aquilo sem poder fazer nada. E todo dia era assim.

Frequentemente, os espelhos falavam com ela.

Diziam coisas sem sentido, embaralhadas, a convidando para fazer parte daquela festa. O que eles não sabiam é que ela já fazia. Era a Dj da festa. Regia.

Os outros dois não tinham controle de si próprios.

Chacinavam todo dia.

E ela se banhava em líquido vermelho, inútil.

Depois ela tomava um banho de verdade e dormia.

Quando acordava, os espelhos a esmagavam.

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 09/08/2013
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