Lobisomem
 
Hoje é noite de lua cheia, os cães latem raivosos e amedrontados, é o primeiro dia da lua, portanto é bom temer ao sair de casa.
Bom era isso que meus pais diziam e antes deles meus avos, bisavós e assim por diante.
Dizem que na lua cheia um homem se transforma em lobo, mas não um lobo comum e sim em um monstro capaz de amedrontar, perseguir e ate matar.
Por toda minha infância eu ouvi suas historias, me contavam antes de dormir e eu quase sempre tinha pesadelos. Hoje não sou mais criança, mas aquelas historias ainda colocam em situações de medo, pavor e assombro.
Quando eu era pequeno minha avó me deu uma pulseirinha e me dizia que toda vez que a lua ficasse cheia era pra eu coloca la no pulso e durante as luas comuns era pra eu mante la perto de mim durante a noite, então eu a colocava dentro do travesseiro e tudo era pra que eu não sentisse medo.
Durante toda minha vida foi assim que fiz, as vezes que me esquecia minha mãe sempre estava por perto para faze lo por mim.
Um dia resolvi desafiar todas essas regras, afinal com 18 anos já era hora de eu não  mais acreditar nessas historias.
Era lua Nova mais alguns dias e a lua Cheia chegaria e eu ansiava por ela.
Na ultima noite da lua nova tirei minha pulseirinha do travesseiro e guardei na gaveta, deitei e fui dormir e algo estranho aconteceu...
Era umas dez horas da noite começou a me doer forte a cabeça, uma dor insuportável, parecia que ela ia explodir no travesseiro. De dor eu me contorcia na cama, arranquei os lençóis de tanto que me mexia, não suportei comecei com leves gemidos e no fim já estava gritando implorando por socorro.
Foi quando meus pais me ouviram e foram me socorrer, enquanto meu pai me segurava tentando me acalmar minha mãe fez um chá e me deu, aos poucos fui me acalmando a dor passando e só me lembro de acordar na manha seguinte todo roxo, por ter me debatido, e com a pulseirinha no pulso.
Aquela situação me deixou intrigado, perguntei aos meus pais se sabiam o que havia acontecido comigo, mas nenhuma resposta foi o suficiente para esclarecer, afinal que pulseira tão poderosa era essa? Será que eram somente os meus sonhos que ela protegia?
A lua se foi e já começava outro ciclo, ainda não satisfeito com o ocorrido no mês anterior resolvi repetir tudo novamente.
Ultima noite de lua Nova, tranquei a porta do quarto, escondi a pulseirinha no quintal de casa e fui dormir.
Dez horas começaram as dores novamente, comecei a segurar os gritos que queriam escapar da minha boca, mordi então o travesseiro para abafa los. Com o passar dos minutos mais intensa ficavam as dores, me contorcia numa habilidade de ginasta, foi quando tudo começou.
Comecei a sofrer mutações, minhas mãos e pés cresciam, as unhas começavam a amarelar e ficar grossas, um odor saia do meu corpo, o pijama rasgava feito nuvens que se desfazem com o vento, dentes afiados furavam meus lábios e língua, comecei a expelir um liquido esverdeado, os cabelos cresciam espantosamente assim como os pelos do meu rosto e de todo o corpo, os olhos antes azuis, vermelhos ficaram, em seguida tomaram uma cor de mel com pupilas incrivelmente dilatadas, as orelhas ganharam formas pontiagudas e uma audição incrivelmente apurada, tanto que eu podia ouvir as gotas de agua que pingavam do registro caírem no chão do quintal do vizinho.
Aos poucos os cães começaram a latir, uns ferozes outros amedrontados, olhei no espelho e me assustei com tal aberração que eu me tornava.
Olhava para aquela criatura e a abominava, a renegava, queria fugir dela, mas como se ela era eu. Comecei a chorar e meu lamento eram uivos agoniantes. A claridade que entrava pela janela me fascinava, era a lua, redonda, vermelha que me chamava para perto dela.
De repente a porta do quarto foi arrombada eram meus pais aflitos, amedrontados e muito receosos, afinal não sabiam o que esperar de mim.
Minha mãe em prantos, gritava pelo meu nome, implorava pelo teu filho, mas eu estava ali diante dela, mas ela não podia suportar aquela visão dantesca eu era um monstro e quando fui para perto deles meu pai com a cadeira me barrou como se eu fosse um animal, mas eu era um animal; um lobo!
Me transformei na lenda, no mito, no medo da minha infância e eles sabiam por isso me contavam historias e me faziam usar aquela pulseira que com certeza me protegia de alguma forma. Sabiam e já não me aceitavam, me escondiam de mim e deles também.
Eu tinha mais raiva do medo deles do que da minha aparência, era eu o filho de deles, mas em seus olhos eu via apenas o monstro.
Queriam me trancar, acorrentar, tratar selvagemente e foram para cima de mim que não queria ataca los, mas fui obrigado para poder escapar dali, não os machuquei, não mais que a eles a mim. E ao derrubar meu pai vi que ele usa as mesmas sementes da minha pulseira em seu anel de Direito.
Fugi e hoje faz 20 anos que descobri quem sou, ainda faço uso da pulseira e a lua me fascina, pois sou casado ha 19  anos e esta noite, já conversei com a minha esposa, dormirei com meu filho que a meia noite  fará 18 anos e eu estarei ao seu lado sem pulseira alguma.
Roberta Krev
Enviado por Roberta Krev em 21/08/2013
Reeditado em 22/08/2013
Código do texto: T4444917
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