O ASILO MALDITO DTRL

O dia ensolarado de verão dava um aspecto alegre ao vistoso, mas antigo prédio de três andares, recém pintado da cor azul e com um lindo jardim de rosas vermelhas a circundá-lo.

Tudo naquele lugar transcendia a paz, o silêncio reinava. Os parcos idosos que caminhavam pelo jardim pouco falavam, andavam de cabeça baixa sem ao menos admirar uma pétala de rosa daquele lindo horto. E a única enfermeira que os acompanhava neste passeio matinal mantinha-se entretida com uma revista de fofoca nas mãos, sem prestar atenção devida a estes cidadões desgastados pelo tempo.

Para mim aquilo não era muito normal. Apesar de ser rotina para um motoboy como eu, entregar os remédios em vários asilos de minha cidade, muito deles caindo aos pedaços com os velhos amarrados em suas camas, outras vezes mijados e outros sendo agredidos pelas enfermeiras, alguns até me pedindo um cigarro, quando eu entrava com um aceso. Aquele era diferente!

_Fala ai meu fiel!_Tudo bem?Cumprimentei o porteiro daquele asilo com a minha linguagem típica da profissão, quando cheguei à portaria.

_Bom dia!_O que o senhor deseja?Perguntou o porteiro. Um senhor de meia idade, negro, gordo, baixinho e um tremendo mal humorado, diga-se de passagem.

_Eu me chamo Rafael, trabalho na farmácia, vim aqui trazer uma encomenda para dona Maria!Respondi já meio irritado.

_Espere só um momento, que vou interfonar para a recepção!Disse enquanto ligava de um aparelho celular.

_Valeu!Foi só o que respondi.

Depois de alguns minutos falando no celular ele me disse:

_O senhor pode entrar, mas primeiro me diga o seu nome e deixe me ver a sua identidade!Disse ele enquanto pegava uma prancheta encima da sua mesa e uma caneta.

_Ta tranqüilo!Respondi enquanto tirava a habilitação do meu bolso e entregava em suas mãos.

Ele deu uma rápida conferida, fez algumas anotações em sua prancheta, e me entregou o meu documento.

_É só o senhor deixar a moto aqui no estacionamento, caminhar por está alameda e ir até a recepção, dentro daquele prédio e procurar a Maria!Disse o homem enquanto me indicava o caminho.

Muito contrariado, fiz o que o homem mandou!Deixei a minha motoca parada no estacionamento ao lado da cabine e fui caminhado por uma alameda que era margeada por lindos canteiros de rosas.

Enquanto caminhava, uma idéia louca começou a passar pela minha cabeça. Tem algo de muito estranho aqui. Será que isso aqui é um asilo para zumbis?Só pode ser, pois eu nunca vi um lugar com velhos tão comportados!Enquanto essas idiotices passavam pela minha cabeça, continuava a caminhar só que agora por causa do medo os meus passos eram mais rápidos.

A porta de vidro fumê que separava a recepção do jardim deveria ter uns 2 metros de largura.

Mal me aproximei e ela abriu deixando transparecer todo o luxuoso interior daquela sala.

Eu mal podia crer no que meus olhos viam.

O piso do amplo salão, era feito em mármore negro, ao centro existia um lustre que pendia do teto a mais ou menos uns 2 metros do solo, repleto de cristais multicoloridos, no canto esquerdo havia uma escultura de um leão feito em bronze e no lado oposto uma Venus de millus trabalhada em pedra sabão e no fundo do recinto tinha um modesto balcão, que contrastava com todo ambiente, e, uma placa pregada na parede que dizia:

RECEPÇÃO...

Apesar da beleza daquele lugar, tinha alguma coisa muito errada no ar.

Na recepção, apesar de toda beleza que havia naquele lugar, algo me chamava atenção!

Não havia pessoas circulando de um lado a outro como em qualquer casa de repouso normal. La não se via enfermeiras andando apressadas, faxineiras com seus baldes e panos de chão, na mão limpando o ambiente ou um misero parente visitando seus pobres velhotes. Não, ali não tinha nada disso.

Em cima do balcão tinha uma campainha, que logo apertei. Toquei uma duas,três,quatro vezes até surgir como passe de mágica,na minha frente, uma senhora branca,com um óculos de grau de lentes bem grossas me perguntando o que eu queria.

_Fala ai minha tia, Vim trazer uns remédios para dona Maria!Respondi, ainda tremulo por causa do susto que aquela, oferenda, atarracada, me deu, ao sair sei lá da onde, me perguntado o que eu queria. ¨

Juro, aquela mulher parecia um fantasma, um minuto não tinha ninguém ali, no outro ela aparecesse do nada!Coisa estranha.

_Já está pago o remédio?Perguntou-me a adiposa senhora.

_Mas é claro... Que não!Respondi com meu usual tom de sarcasmo.

_Então você terá que ir até o quarto da paciente!Disse-me a velha com um tom de voz tão sombria, que fez os meus poucos cabelos arrepiar.

_Pode deixar, minha tia eu vou ao quarto dessa vovozinha e entrego logo esse bagulho pra ela!Falei já me precipitado a deixar o balcão.

_Calma ai o garotão, você não pode ir entrando assim não. Primeiro tenho que fazer uma ficha com o seu nome, numero do seu RG, para depois deixar você entrar!Disse ela.

_QUE MERDA, VOU TER QUE REPETIR COM ESSA VELHA TODO O PROCEDIMENTO QUE FIZ NA PORTARIA?_AH NINGUÉM MERECE!Pensei alto, comigo mesmo.

_Você disse algo?Perguntou-me a velha.

_claro, que não!Respondi muito contrariado.

_Só uma pergunta!Falei para ela.

_Qual?Ela me perguntou.

_O seu nome, você não me disse!Respondi.

_É Carolina, por quê?Ela me perguntou.

_Por nada Ué!Respondi casualmente.

A Carolina tomou em suas mãos o meu documento e repetiu o mesmo processo, que o porteiro.

Depois de uns quinze minutos de espera, aquela mulher quase analfabeta conseguiu terminar de preencher o maldito formulário.

_O aposento da dona Maria fica no segundo piso, o numero do quarto dela e o 13 e fica no final do corredor do seu lado esquerdo. Você pode ir até lá!Disse-me a Carolina enquanto apontava para uma magnífica escadaria, feita toda em mármore negro, localizada no centro da sala.

Sem responder nada caminhei até a mesma, e subi bem devagar.

No segundo andar, as coisas eram bem diferentes, o corredor era mal iluminado, sujo, as paredes que a tempo não viam uma pintura, tinha manchas de mofo que iam do teto até o chão.

Enquanto eu caminhava procurando o maldito quarto, pude reparar que em sua extensão havia dezenas de quartos, um ao lado do outro. Só que algo diferente acontecia naquele lugar, pois invés de haver portas nos dormitórios, o que lá havia era grades de ferro (aquelas mesmas grades, que são usadas nas celas das penitenciarias) com enormes cadeados as trancando.

Enquanto eu olhava compadecido, para aqueles velinhos enjaulados em suas celas úmidas, dormindo sobre um colchão fino, sujo e no chão, algo de estranho aconteceu:

Uma gritaria absurda ocorreu no fim do corredor.

Meu coração batia acelerado por causa do medo, a minha vontade era fugir daquele lugar o mais rápido que pudesse. Mas não foi o que fiz.

Involuntariamente comecei apertar contra o meu peito, o pacote de fraldas geriátricas que havia trazido da farmácia para a dona Maria. E bem devagar,comecei a caminhar em direção a origem daquela algazarra.

Quanto mais perto chegava, mais clara tornavam-se as palavras que eram berradas:

Uma dessas palavras fez meu sangue gelar. Era alguém com uma voz bem fraca(parecia ser uma mulher) pedindo socorro,as outras três vozes,eram brados de homem que xingavam muito ,zombavam do infortúnio da primeira e riam também.

Meus passos que antes eram cautelosos, agora estavam firmes e rápidos. Eu tinha que ajudar aquela pobre pessoa.

Caminhei rápido, mal pude olhar a minha volta, os gritos estavam mais fortes as luzes do corredor haviam apagado, eu estava imerso em uma escuridão quase total.

Por incrível que possa parecer,só um quarto tinha a luz acessa,era o de número treze, justamente o que eu deveria procurar, e também era lá que acontecia toda aquela balburdia.

Com o coração pesado, de medo talvez, me escondi ao lado da porta do quarto da dona Maria, na tentativa surpreender os agressores, e salvar a pobre velhinha.

Encoberto pela escuridão pude ver o que se passava dentro daquele recinto. Uma pobre senhora magra, com os olhos bem fundos, o rosto cheio de rugas e aparentando ter no Maximo uns oitenta anos de idade, sendo agredida a socos e ponta pés por três homens, altos, musculosos e que deveriam ter no Maximo uns trinta anos de idade.

Com a raiva subindo pelo meu corpo, e um pacote de fraldas nas mãos, parti para o ataque.

Saí das sombras ligeiro, distribuindo golpes para todos os lados tentei em vão salvar aquela velhinha, armado apenas com minha boa vontade,pois nem brigar eu sei, garanto, porém que consegui acertar a cabeça de alguns deles com o pacote de fralda.

Mas infelizmente eles eram bem mais forte que eu. De nada adiantou os meus chutes, socos, fui dominado.

Meus músculos doíam, eles haviam quebrado com golpes de jiu- jitsu as minhas pernas e os meus braços, a minha dor física era enorme.

Mais o pior, era a dor moral, de ver que depois de me espancarem, me deixaram de lado, em um canto qualquer, e continuaram com seu divertimento macabro de surrar a pobre idosa.

Mesmo com meus ossos esmagados por seus golpes,eu tinha que continuar lutando,reuni todas as forças do meu pulmão e comecei a gritar:

Gritei para aqueles monstros parasse de bater naquela pobre velhinha, foi quando um dos enfermeiros que a estava espancando se cansou dos meus gritos sacou do seu cassetete que estava preso em sua cintura e golpeou a minha cabeça varias vezes, até a massa encefálica de o meu cérebro escorrer pelo buraco aberto por seu porrete.

Com a minha morte constatada, os ditos enfermeiros voltaram a bater na pobre velha até que ela desmaiou.

Eles pegaram o seu corpo quase sem vida do chão o colocaram sobre o fino colchão sujo, saíram da cela deixando o meu corpo para apodrecer junto da velha anciã desacordada, e foram cuidar de outro pobre interno sem família.

Outro velho iria ser a diversão daqueles sádicos enfermeiros, que faziam tudo isso com o aval da direção do asilo...

Antonio C B Filho
Enviado por Antonio C B Filho em 08/09/2013
Reeditado em 08/09/2013
Código do texto: T4472654
Classificação de conteúdo: seguro