O Eclipse dos Mortos

O Eclipse dos Mortos

- Foi há muito tempo que ocorreu esta estória extraordinária e fantasmagórica que eu vou te contar.

“Começou durante a noite. Nuvens violáceas e finas encobriam as estrelas, mas a lua cheia se projetava estranhamente no céu e um eclipse estava para acontecer”.

“ Mas era no cemitério que os fenômenos mais notáveis iam acontecer. Emanações de rumores ulteriores ao entendimento ressonavam nas sepulturas gélidas que desencadeava aturdimento, medo, aversão e loucura nos vivos que nada viam, mas ouviam tais rumores catacúmbicos ao longe não ousando colar seus olhos nas janelas para ver o espetáculo lúgubre.”

“Todas as pessoas da cidade se trancaram, envolvidas por um pressentimento mortiço de que não deveriam sair de casa nem olhar para fora e muito menos para o eclipse que traria consigo aquele grande mistério blasfemo”.

“Alguns minutos antes da eclipsagem, no cemitério, começou a brotar de todas as sepulturas um gigante fogo-fátuo, acontecimento tenebroso, como se fosse a ira dos cadáveres descontentes e perturbados.”

“As labaredas rubro-amareladas se moviam no ar em movimentos sincopados traduzindo a linguagem secreta dos mortos”.

“Este fogo, gases pútridos dos espectros, continuou chicoteando o ar carregado de sombras até o eclipse começar”.

“E os vivos dentro de suas casas, ouviam todos aqueles barulhos funestos e rezavam para que aquilo que ia acontecer não acontecesse”.

“Quando o eclipse começou o grande fogo-fátuo flutuante foi voltando para as sepulturas como espíritos que retornam ao corpo”.

“Depois dos ruídos sombrios – de ossos se chocando, lamurias e estertores – eles saíram majestosos das tumbas para contemplar pela ultima vez a escuridão total.”

"O céu ficou tão limpo quanto o caos. Sem o brilho das estrelas ou uma esperança demiurgo”.

“Os mortos saíram do inferno, todos eles, e viram as essências do mundo. Acharam as respostas para as perguntas mais cruciais que os aturdiam durante a noite causando os mais terríveis pesadelos que em morte se tornavam realidade. Estas respostas que não encontraram em vida nem na morte”.

“E diante de tal segredo preferiram nunca ter nascido, morrido ou revivido. Assim sendo, lançou, num coro, um murmúrio aos quatro ventos que nunca se dissipou nos ares; um lamurio que é a dor de uma verdade absoluta e caótica; um lamurio que ainda hoje é trazido pelo vento; aquele barulho mais parecido com um assovio bestial que tanto nos assusta e arrepia para todo o sempre”.

- FIM! Terminei minha estória.

- Mas o que aconteceu com os mortos?

- Eu não me lembro.

- Mas... Mas como você sabe de tudo isso se todos os vivos estavam anclausurados em suas casas para não ver o “espetáculo”?

- Porque eu sou um daqueles mortos ressuscitados para ver a verdade nefanda de todos os mistérios da vida e da morte. Há, há, há!

E sua gargalhada cadavérica foi levada pelo vento. Ainda hoje se ouve o ruído dessa gargalhada e é aquele som que se escuta durante as tempestades.

lord edu
Enviado por lord edu em 13/04/2007
Código do texto: T447934