Desejo.

Pois se tivesses um desejo? O que desejarias?

Ouro?

Fama?

Amor?

Nada disso? Então o que?

Vingança?

Ah sim, entendo teu desejo, afinal, a fama, o ouro e o amor, já foram amizades fiéis.

Como? Claro, que sim. Perdão. Que tolice a minha, nunca foste amado. Tivestes apenas uma ilusão. Mas não adianta ficar tão desiludido meu caro, muitos avisos te foram dados. Todos os que te estimavam, te encheram de recomendações quanto ao caráter do objeto de tua estima. Mas tolo como és, nem ao menos tentastes te esquivar dos feitiços da tua devoção.

Por vontade própria, te deixaste levar por mentiras sussurradas ao teu ouvido. Mas eram mentiras tão doces, não é mesmo? Que tiniam em teu coração como o mais bem lavrado sino de prata.

Mentiras que te faziam perdoar o imperdoável. Que faziam os olhos cegarem, os ouvidos ensurdecerem e o ódio crescer contra os que realmente te bem queriam.

O que foi? Por que choras? Assim como um devotado camponês, semeaste e colheste os frutos de teus atos.

Afastaste teus amigos, pois eles tinham inveja! Não era o que dizias?

Saíste da casa de teus pais, já que eram intrujões, que nada sabiam quanto ao ser que te maravilhava. Superprotetores e antiquados nos seus atos, era o que tu dizias.

Gastastes toda tua riqueza para satisfazer cada pequena e mesquinha vontade da tua doce amada. Até ao ponto de dever fortunas quase sem fim a homens da pior espécie. Mas o que importava? O importante era a felicidade do objeto do teu pueril amor.

No entanto, assim como o ouro teve fim em teus bolsos, teve fim a devoção de tua amada.

Mas o que é isso meu caro? Por que gritas de forma tão desesperada?

Esperas alguma piedade? Aviso-te que não a terás. De quem quer que seja.

Por ventura, não chegaste a cometer crimes hediondos tentando ter mais uma vez ao teu lado tua musa?

Não só mataste teus pais de forma cruel e premeditada, como feriste o pobre novo joguete de tua cigana frívola e gananciosa.

Sabias que o pobre tolo está beirando a morte? Logo ele entrará no reino dos esquecidos graças ao teu ciúme idiota.

E sabes o que é o mais cômico de toda a tua sina? Ela, tua querida amada, é a principal acusadora de teus crimes. Inclusive anda ao lado dos teus perseguidores neste exato instante.

Mas que cara de surpresa é essa, meu rapaz?

Não entendestes ainda? Que prova ainda quer?

Ela jamais te quis bem. Tu nunca passaste de uma algibeira repleta aos olhos dela. Como tu, outros existiram e existirão.

Por favor, rapaz, para de urrar. Assim tu atrairás teus perseguidores.

Dá-me tua mão para que te erga. E agora retira da face a expressão de tristeza e solidão.

Como não consegues? Depende apenas de tua vontade para que a tristeza parta. E nunca estivestes só. Mesmo agora, na hora mais negra, tens companhia. Afinal, a desilusão, o desespero e a loucura não vivem ao teu lado?

Por que ranges os dentes? Não te zangues, meu caro. Faz parte de a minha natureza ser cruel.

Mas deixemos de falar tolices.

Estou aqui para te propor uma pequena barganha. E veja bem. Restituir-te-ei o ouro perdido, a fama, a estima de todos e ainda uma doce vingança. Que te trará enorme prazer.

O que quero em troca? Ora, coisa de pouca monta para você.

Como assim já não possuís nada? Tolo. Tens algo que é de inestimável valor. Todos os homens possuem. Se bem, que o teu exemplar se encontra corrompido um bom bocado.

Mesmo assim, tem um grande valor.

Ouve! Os cães já se fazem próximos. Logo teus perseguidores estarão sobre ti.

E então? Aceitarás minha proposta, meu caro?

Basta que digas que sim. Que aceites o trato.

Aceitas? Sim? Muito bem, meu caro. Segue-me, te levarei a lugar distante e seguro. Onde te restituirei o ouro e a glória. Onde tramaremos tua vingança, e no tempo certo a levaremos a cabo.

Mas fique ciente. No último dia, tomarei o que me deves.

Por que sorrio? Ora, meu caro, te transformarei em um de meus filhos.

Lapidarei teu tesouro, que agora passa a ser meu, até que ele seja totalmente corrupto.

E tu te afogues na escuridão de meu reino.

Agora venha.

Temos muito a fazer...

TTAlbuquerque
Enviado por TTAlbuquerque em 21/09/2013
Código do texto: T4491425
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