A BELA MOÇA DO CAMINHO.

Em uma dessas viagens que fez ao interior, João deixou a pousada e foi fumar um puro lá fora. Contam os mais velhos, que aquele lugar tem dono. Mas João, não acreditava nessas bobagens. O rapaz queria conhecer as redondezas do povoado rural. Até, que encontrou uma moça. Uma bela mulher à beira do caminho, sentada em uma pedra, sozinha, que muito simpática lhe sorriu. Perguntou se ele era novo por aquelas bandas. Ele de pronto respondeu que sim. Foi amor a primeira vista! E pra comemorar aquele repentino apego, a mulher falou de um poço que dava a água mais pura da região, e, convidou João para tomar um banho. Mil e uma novidades passaram pela cabeça do rapaz. Novidades que nem em seus sonhos mais eróticos haveria. Imagina só, só os dois no escondidinho do mato amando... Não dava pra pensar em outra coisa. E assim, o casal desceu uma trilha de terra bastante embrenhada, cheia de mato e arbustos que lhes cortavam a pele com espinhos e folhas afiadas. Filetes de sangue escorreram pelo braço de João. Não importava. Valeria à pena. Há se valeria!!! Por uma mulher daquelas João faria qualquer sacrifício.

O sol já estava se pondo quando chegaram à beira do poço. A bela moça mandou o homem virar de costas, tirar a roupa. Ele obedeceu. Ela se escondeu por trás de uma velha árvore, prometeu surpresas instigantes.

Agora banha! Banha! – Disse ela em alta voz, às escondidas.

Cadê você? – Ele perguntou, abrindo um sorriso cheio de promiscuidades...

Banha logo que eu apareço. Banha!

O frio era de matar. Mosquitos lhe picavam e moscas lhe beijavam o corpo nu. Tabefes eram dados em si mesmo, na coxa, na bochecha...

Vai logo! Banha! Banha!

João buscou a caneca por ali. Apanhou um pouco d’água fria e revirou sobre si arrepiando a pele. Mas João sentiu algo de esquisito no ar. O clima mudou de repente, ficou pesado, mais friento do que era. Indescritíveis transtornos o rapaz sentiu após molhar-se com aquela estranha água. Até as cores verdes de tanto mato ficaram vermelho escuro. Tudo ao redor ficou nefasto. Risadinhas debochadas logo foram ouvidas.

João desistiu do banho, jogou a caneca fora e procurou suas roupas. Não estavam mais lá. Haviam sumido, assim como a bela moça que lhe indicou o maldito poço. Galhos secos quebraram. Ele não estava só. Muitos lhe espiavam por trás das plantas. João se pôs a correr. O desespero tomou o rumo de sua vida. Havia pegado o caminho certo de volta? Já não tinha tanta certeza. João correu, correu e nunca mais chegou a lugar algum. Porém, ao anoitecer de cada domingo, o povoado pode ouvir gritos ao longe. É o pedido de socorro do viajante que nunca mais foi visto.

Dizem que quem passa por ali, a boca da noite, pode ver uma bela moça, a beira do caminho, sentada em uma pedra. Querendo saber de você, se quer tomar um banho no poço. Lavar a alma e abandonar o corpo...

Amário Cosme (Ludovicense)

Ludovicense
Enviado por Ludovicense em 12/11/2013
Reeditado em 19/11/2013
Código do texto: T4567556
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.