Verdade.

Olá. Como vai?

O que?

Não, você não me conhece. Mas eu te conheço.

Durante muito tempo tenho te observado... Estudado... Entendendo sua natureza.

E quer saber? Você é perfeita para o que preciso.

Hum?

Por que se sente tão zonza e relaxada?

Ora, eu te dopei. Simples.

Não... Não vou me aproveitar de você. Pelo menos não sexualmente, até por que minha querida, você é promíscua demais... Chega ser nojenta a sua volúpia descabida.

Hum?

Dinheiro? Não, sou uma pessoa de certas posses, por assim dizer. Não quero o seu dinheiro.

Quero te ensinar uma verdade.

Qual verdade?

A minha verdade.

O que? Te matar?

Não seja ridícula. A morte é definitiva, em certos casos, uma dádiva. Para uma coisa como você, algo demasiado benéfico.

Como te disse, quero te ensinar... E garanto que minhas aulas durarão por um longo tempo e quando já não houver nada a te dizer... Te darei de presente a algum ser tão abjeto quanto você.

O que você me fez? Nada, absolutamente nada.

Inocente? Você? Por favor... Não ofenda a minha percepção dos fatos. Você é uma criminosa. Do pior tipo.

Como assim? Qual crime? Ora, são tantos e todos tão enormes e mesquinhos.

Mas para que não digas por aí que sou um mau professor, te direi alguns.

Lembra-se de João? Sim, João. Aquele rapaz que era apaixonado por você.

Sim é verdade, você tem razão... Ele se matou. Mas por que?

Por sua causa. Sim, por sua causa.

Você ficava o tempo todo ao lado dele, o fazendo de seu confidente, de seu amparo e fortaleza. Dava presentes dos mais caros e dizia que ele lhe era especial. Qualquer jovem imaturo e romântico se entregaria aos encantos de uma pessoa tão amável quanto você... Tão ardilosamente amável quanto você.

Tanto o fez, que ele acabou por se apaixonar perdidamente.

E à partir daí que a sua real natureza se mostrou.

Te entregavas aos mais sórdidos e canalhas dos homens, mas não a ele... E ainda ficava o procurando, sempre com palavras doces e histórias tristes de como se sentia mal por não conseguir o amar. E o tolo, prostrado ante aos seus encantos, se permitia acreditar em suas mentiras.

Mas não satisfeita, você o humilhou ao gravar uma de suas sórdidas noites de lasciva e enviar uma cópia para ele...

O que? Ora, já disse, não ofenda a minha percepção da verdade. Sei que foi você que enviou... Eu mesmo invadi o seu computador e vi isso, assim como, ao vídeo.

Como você foi cruel e suja...

"Com todos, menos com você João. Você não merece."

O infeliz se sentiu um ser mísero, algo menor que um verme... Se sentiu menos homem. Você feriu tudo nele, orgulho, amor, confiança... Esperança. Você o quebrou.

E ele, se quebrou, para acabar com toda a dor e angustia.

E você, em mais um ato de horrenda sordidez, foi ao velório e enterro, agindo como se tivesse perdido uma parte sua. Encenando perfeitamente seu papel de boa moça. Mas no segredo da sua alcova, riu.

Por que essa cara de choro? Ainda não comecei as aulas propriamente ditas. Por falar nisso, me permita ir me trocar.

Volto em alguns minutos.

...

...

Obrigado por me aguardar.

O que? Se sou médico? Não, de forma alguma. Sou apenas... Um entusiasta, por assim dizer.

Hum? O que farei? Ora, já disse, te ensinarei a verdade.

Vê este alicate?

Vê? Sim? Bom.

Este alicate, será um dos nossos instrumentos de ensino. Com ele, extrairei os seus dentes, para que esse seu sorriso falso e vil, perca seu encanto.

Falando nisso, em "encanto", se recorda de Ana?

Por que esse olhar de surpresa? Conheço todos os seus pecados. Todos.

Como eu dizia, se lembra dela?

Lógico que sim, que tolice a minha. Ela agora vive, se aquilo pode ser chamado de vida, nas ruas, vendendo o corpo.

Por sua causa...

Usando dos seus encantos, você se aproximou dela, a seduziu, a enganou... A desgraçou.

Ela tinha família, um pai e uma mãe que a amavam, e um noivo.

E você destruiu a todos quando fez com que ela saísse de casa para viver a sua promessa de amor. Um falso e sórdido amor.

Você a usou como um brinquedo sexual. Um brinquedo que você compartilhava com todos... E tudo.

Novamente essa cara de surpresa?

Ainda não percebeu? Nada sobre você é secreto para mim.

Como pôde exigir que ela se entregasse à um cavalo? Isso foi mais que cruel... Foi desumano. A besta destruiu o corpo dela com seu membro. E não satisfeita, com o papel que legou à pobre estúpida apaixonada, você filmou toda a cena e enviou cópias aos pais e ao ex noivo.

O pai agora é um bêbado dos mais sórdidos, o pobre rapaz por sua vez, sumiu no mundo de tanta vergonha e tristeza... Mas o pior foi a mãe, que indo atrás de Ana para a salvar da condição tenebrosa em que você a jogou, foi escorraçada como uma cadela leprosa pela própria filha. Ela se matou sabia? Pulou sob os pneus de um caminhão.

Por sua causa.

Agora te apresentarei dois utensílios muito interessantes...

Este, fará com que seus olhos não se fechem... Os moldei inspirado em algo semelhante que observei em um filme.

Interessante não?

Permita que eu o coloque em você...

Não faça caso minha querida. Quanto mais lutar contra a condução de nossas aulas, pior para você... E mais divertido será para mim.

...

...

Pronto.

Ficou bom.

Permita que eu tire uma foto.

Sorria.

...

Deixe-me ver.

Ficou ótima.

Veja.

...

Agora, te apresentarei um novo utensílio. Este aqui, manterá sua boca aberta para que eu possa extrair seus dentes.

Um por um.

Lentamente.

Já leu Poe?

Tolice a minha, claro que já.

...

Novamente essa sua rebeldia? Pois bem... Espere um instante.

...

...

Observe esse prego. Grande não?

Preste atenção no que vou dizer agora, eu pregarei este prego em sua canela caso continue com sua rebeldia.

E então? O que escolhe? Colocar o utensílio ou o prego?

...

...

Chorar não mudará o rumo das aulas minha querida. Como te disse, só ao final do curso que a sua presença não me será mais quista.

...

...

Pois bem, já que não te decides, eu usarei o prego.

...

...

Calma, gritar assim só te cansará. E então? Mais um prego?

Ah...

Muito bem.

Agora, a primeira lição propriamente dita.

Como diria o poeta, a vida é um moinho e vai triturar teus sonhos tão mesquinhos... E eu, sou o vento que gira as pás desse moinho. Sou o vento que tráz a verdade.

Qual verdade?

Ora, a única verdade... A minha verdade.

Tudo o que se faz a alguém, seja algo bom ou mau... Um dia retorna.

É a "Lei do Retorno", ou como diria um amigo, "a volta do anzol".

Essa é a verdade.

Agora, continuemos nossa aula.

Temos muito o que fazer...

Para que você não se sinta entediada, ligarei a televisão.

Veja! Os videos que você tão ardilosamente gravou para humilhar e destruir cada uma das suas vítimas. Uma verdadeira maravilha, não?

Agora enquanto assiste às suas obras de "arte", eu continuarei a lição...

Retirando os seus belos dentes.

Vamos lá...

...

...

Sim.

Grite...

Grite o quanto quiser.

Agora a título de curiosidade, responda.

Está gostando da aula?

Me diga... Gostou da verdade?

Da minha verdade?

Não?

Não há problema quanto a isso.

Temos muitas outras lições pela frente...

Muitas.

TTAlbuquerque
Enviado por TTAlbuquerque em 12/11/2013
Reeditado em 13/11/2013
Código do texto: T4568400
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