Em Mãos Erradas

Jorge morava num bairro nobre de São Paulo, classe média alta e dono de várias empresas, até que resolveu pegar férias e chamar seu amigo de infância, " neguinho " que morava numa favela da Lapa. Ele ia convidar o rapaz para viajar para Angra dos Reis, e ao chegar no morro, desceu da sua Rand Rover branca e subiu a pé. Já estava anoitecendo e ao passar por um grupo de garotos fumando maconha, ficaram o encarando e falando no radinho, como se tivessem passando informações dele para outras pessoas. A polícia nunca entrava naqueles becos, por ordens de poderosos traficantes do Estado. No meio da viela, Jorge ouve gritos de uma adolescente , pedindo socorro... O empresário correu até a garota e avistou um vulto de um homem saindo correndo, atravessando uma cerca de arame farpado e machucando sua perna.
Jorge foi até a jovem e a pegando nos braços, ela estava gravemente ferida, com roupas rasgadas e ematomas no pescoço e pergunta:
- Quem fez isso com você?!
- Foi o... Foi o meu...
Ela fecha os olhos, morrendo na hora, sem conseguir dizer o nome do seu assassino, fazendo Jorge se emocionar, abraçando a vítima. No entanto, o grupo de rapazes que ele viu na estrada aparecem e ao vê-lo com a menina, acharam que foi ele que a estuprou e matou a garota, sem pensarem duas vezes, se uniram e deram uma surra no pobre coitado, até deixá-lo inconsciente. Levaram-no para um barraco abandonado e ao acordar todo sujo de sangue, avistou umas dez pessoas fortemente armadas com revólveres e facões.
- O que aconteceu?!
- Cala a boca seu almofadinha, quem faz as perguntas somos nós caralho! - disse um traficante tatuado
- É bom abusar de menininha né seu filho da puta?! Tu vai morrer hoje seu covarde! - falou outro bandido
A família da Cíntia, a menina assassinada, estava presente no julgamento clandestino e queriam ver Jorge morrer diante deles. Porém a ordem devia vir do líder da facção, que estava preso e tentavam ligar pra ele. Mais uma vez deram outra surra no empresário, tapas na cara e coronhadas na cabeça...
Um dos criminosos olhou em seus olhos e o interroga:
- O que tu veio fazer aqui na nossa quebrada Jack?!
- Meu nome é Jorge...
- Cala a boca porra, seu nome é Jack e pronto, olha na minha cara e me fala o que tu tava fazendo na minha boca?!
- Eu vim visitar um amigo meu... O neguinho...
-Você deve ta tirando com minha cara filho da puta! O neguinho eu apaguei semana passada, por que tava me devendo uma grana e agora tu aparece do nada e estupra aquela criança caralho! Vou arrancar sua cabeça hoje na frente dos pais dela, aqui é a lei do cão ta ligado?! Nem adianta pedir ajuda, os vermes não sobe nosso morro por que sabe como "nóis age"!!
- Eu não matei ela...
O traficante se irrita e dá um tiro na sua perna, onde Jorge grita de dor, Carlinhos era o bandido que tomava conta da favela, mesmo atrás das grades e ao saber da história, ele decreta:
- Xeque-Mate irmão...
Os pistoleiros vinham armados até o barraco para dar cabo da vida do empresário, onde ele estava sendo vigiado por outro traficante. Quando ele cheirava cocaína, Jorge aproveitou a distração e entrou em luta corporal com o rapaz, que acaba sendo desarmado. A vítima tentou fugir do local, mas os assassinos aparecem e o jogam de volta para o barraco violentamente. A família da garota aparecem nervosos e o pai dela, estava furioso:
- Mata logo esse maníaco maldito que tirou a vida da minha princesa!
- Pode deixar seu Oswaldo, vou apagar ele agora e juntar o corpo dele na mesma vala do neguinho!
- Não me mate por favor, não fui eu...
- Suas últimas palavras vagabundo...
Jorge avistou a perna do pai de Cíntia machucada como um corte e lembrou do que a menina disse... foi o meu... O empresário revela:
- Foi ele que matou a própria filha, eu vi o assassino se machucar na perna quando fugia do local e Cíntia chegou a me dizer, foi o meu... só que ela morreu antes de revelar quem foi...
- Você ta moscando... Ele falou que se machucou em casa otário...
- Então pergunte onde ele estava ontem anoite e tenta confirmar, vocês não são justiceiros?!
O traficante ligou os fatos e descobriram que seu Oswaldo era o autor do crime e libertaram Jorge do cativeiro. O bandido soltou o empresário e disse:
- Vaza daqui mano! Você não viu e nem ouviu nada, a parada agora é com outro, se quiser ficar vivo, mantenha-se calado! - falou batendo a porta na sua cara...
O homem foi embora em silêncio, sabendo que outro julgamento recomeçava, mas desta vez a sentença seria certa... Afinal aprendeu que na favela, a dura realidade é apenas dos mais fortes...
Alexandre S Nascimento
Enviado por Alexandre S Nascimento em 18/11/2013
Reeditado em 24/09/2016
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