Devaneios Noturnos

É a noite que escrevo melhor... quando fragmentos de idéias me procuram no escuro insone das madrugadas tardias. Os dias? Os passo a devanear, mas sem nada de concreto – ou melódico – que valha a pena ser tracejado no papel com tinta (ou em tela com bites). Por isso, os passo em marasmo.

À noite, há sonhos. Mesmo que estes as vezes se tornem horrendos pesadelos, fragmentos de medos obscuros adormecidos, que esperam pelas horas escuras frias para adejar para fora dos abismos da mente. Resquícios da mente infantil que não vê a passagem do tempo e retorna, em metáfora, para criar dor e arrepios.

Muitos, são deletados nos primeiros momentos da vigília da manhã. Desses, se houvera algo a dizer, infelizmente nada sobra sob o véu do esquecimento imposto pela aurora. Mas alguns permanecem, e se tornam ditos (nem sempre ditosos) que se vai espalhando por aí ao léu, e que se espera cheguem a olhos que lhes possam apreciar, se não a magnitude que se esperava que tivessem, ao menos o esforço de criar o esboço que traduzisse em letras as inquietações da noite.

À noite, o calor sufocante dos dias mornos ganha por companhia brisa suave, que remove o suadouro e faz aconchegarem-se os corpos de amantes que, ao se tocarem, tocam sonetas que nem sempre é possível – se é que alguma vez o é – traduzir. Palavras murmuradas que nada dizem, mas que carregam em si o calor que abranda os corações que, sabem, terão no dia seguinte a labuta, sendo a lembrança das horas cálidas o único sorvedouro ao longo das imorredouras horas.

À noite, enfim, há o silencio; o luar; as estrelas, palco de amantes nem sempre secretos; de paixões as vezes insanas; de pesares para alguns medonhos; de festas até o alvorecer! Ou do descanso merecido após dia de trabalho, as vezes trabalhoso e, para alguns poucos, prazeroso.

Noite. Cada um tem a sua. A minha? Volto ao princípio: é feita de pequenos pedaços que, ora se juntam, ora apenas dispersam Morfeu, que não consegue visitar-me e conduzir-me à terra daqueles que sonham, se não de olhos abertos, e mente a vaguear.

Sheila Schildt
Enviado por Sheila Schildt em 25/11/2013
Código do texto: T4586139
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