A ultima prece.
Já não há como vencer... Ou sobreviver neste mundo.
Apesar de nossa ciência ter nos levado até distancias e feitos, que os nossos antepassados apenas sonharam de forma vaga, ela não nos preparou para o que ocorreu. Na verdade, ela nos tirou qualquer chance. Desmistificamos cada parcela dos nossos mitos e medos e por isso quando eles surgiram ante nós, não estávamos preparados.
Assim como foi profetizado, tanto pelas religiões quanto por homens visionários, o mundo teve seu fim. Primeiro os mortos se ergueram para chacinar os vivos. Milhões foram mortos para dias depois se erguerem e matarem mais outros tantos milhões. Apesar do medo e desespero, munidos de nossas armas mais sofisticadas e de um espirito lógico, combatemos e dominamos essa ameaça.
Mas era só o início.
Os mares começaram a vomitar criaturas que pareciam constituídas de pura loucura e escuridão. Os homens que restaram prontamente se puseram em luta contra as abominações e muitos foram transformados em pasto. Novamente usando nossa lógica e conhecimento, criamos armas capazes de combater a nova ameaça. Máquinas colossais, tanques robóticos que como titãs, deram aos homens uma nova faísca de esperança. Após anos de guerra e nossa quase extinção, vencemos as bestas. Mas o destino estava realmente cheio de ódio contra a raça dos homens e uma nova atribulação caiu sobre nós.
A terra se revolveu e explodiu, dela surgiram seres grotescos, semelhantes ao que as religiões definiram como demônios. Criaturas cheias de inteligência e ódio que caçaram cada ser vivo do planeta com sanha assassina e sadismo. Muitos dos humanos sobreviventes mataram os seus entes queridos e a si por medo de serem capturados, pois aos homens era dispensado um tratamento todo especial. Torturas físicas e mentais, estupros de uma selvageria indescritível e outras formas de puro horror foram comuns.
Os demônios mantinham as vitimas humanas vivas durante anos.
Por uma vez mais, a ciência nos salvou. Uma raça de humanoides foi criada. Nós os chamamos de “Nephylins”, híbridos de homem e demônio, que munidos de implantes mecânicos e armas de última geração venceram a guerra.
Cheios de temor que nossos salvadores se virassem contra nós, usamos a salva guarda que tínhamos, liberamos um vírus especial que exterminou cada um dos Nephylins no planeta. Novamente os homens foram covardes e mesquinhos... Talvez por essa razão, mais uma vez, dessa, a derradeira, nossa raça foi ameaçada.
Dos céus, uma criatura de forma humana, mas com seis pares de asas e que parecia ser feita de pura luz surgiu. Um anjo, segundo todos os clamores de júbilo dos sobreviventes, pois pensaram que dessa feita, seriamos salvos.
Mero engano.
O ser devastou a tudo e todos que encontrou em seu caminho, sua expressão era sempre de uma placidez infantil enquanto chacinava e destruía, mas seus olhos, dois profundos poços de escuridão, emanavam o mais puro ódio e desdém.
Munidos de nossas armas restantes, nos entrincheiramos no que antes era a cidade do Vaticano, mas sabemos que na verdade é um esforço inútil. O planeta foi completamente arrasado pelas sucessivas guerras e mesmo que vençamos, não há como mais nada sobreviver. Por isso mesmo, decidimos utilizar a nossa arma mais poderosa, aquela a qual mesmo nos piores momentos, julgamos ser descabida. Um dispositivo que destruiria tudo, mesmo o tecido do espaço tempo. Destruiria a própria realidade.
Nosso líder está agora perante nós, ele nos convida para uma última prece antes que a bomba seja acionada. Unidos em coro recitamos:
“Bendito o Senhor, meu rochedo. Que adestra meu corpo para a guerra; Minhas mãos para a matança.”
E depois disso, o botão foi pressionado e mesmo Deus, deixou de existir.