Denis andava de um lado para o outro com a arma na mão. Estava disposto a tudo. A sua vida tinha um único objetivo: pegar os Criminosos da Sociedade Inversa. A luz vinha de um lampião a gás e era uma noite fria e chuvosa. Todos estavam ali há quatro horas; havia manchas de sangue no terno e na sua mão esquerda. Quatro pessoas sentadas, amordaçadas e vendadas. Uma delas - a filha do deputado - mesmo estando amordaçada, fazia muito barulho, pois chorava baixo. O menino parecia impassível, nada o abalava; a mulher - mesmo amordaçada - tentava dizer alguma coisa. O ambiente era terrível.
O local fora arrumado por Carlos. Distante, haviam trazido o grupo em um barco alugado, de uma ilha a três horas da costa. Eles estavam num barraco no meio de uma ilha, ao sul de Vitória.
Denis já não ligava mais para nada; há meses havia planejado pegar o deputado, sua única pista contra a Sociedade Inversa. Dois dias antes, quando seguiu as pistas, tudo levava a ele: cartas reuniões e toda a barreia (NÃO SERIA BARREIRA?) nas investigações. Decidiu que o método para descobrir tudo teria que ser radical. Então, falou para Carlos que com uma certa relutância concordou, desde que todos estivem amordaçado e vendados. Denis tinha certeza. Confiava em seu instinto policial e queria saber, do Deputado, quem mais pertencia àquela sociedade desgraçada.
Jogou água na cabeça do Parlamentar para que acordasse e retirou a venda.
- Quem mais Deputado? Quem pertence a Sociedade da Cruz Inversa? – Gritou Denis.
Carlos estava sentado em um canto e assistia àquilo. Agora ele sabia que Denis pretendia matar o Parlamentar. "Que se dane!" Pensou. "É só manter vendada o resto da família. "
O Policial estava distante e não concordava com a paranoia de Denis , mas eles já tinham uma historia e aquilo precisava findar ali. E o Deputado precisava colaborar.
- Vocês são doidos, policiais? Vocês não deveriam proteger a sociedade?
Denis olhou para o relógio e disse:
- Cinco minutos! Você tem cinco minutos ou vou atirar na cabeça da sua filha (de doze anos)!
- Por favor! Não sei que sociedade é essa e você não faria uma brutalidade tão grande! – disse o Deputado. Suas lágrimas misturavam-se com o sangue que escorria da sua face.
Denis encostou a arma na cabeça da menina e começou a olhar para o relógio. Ninguém mais falou. O Parlamentar chorava e dizia que não conhecia a Sociedade. Quando o tempo acabou, Denis disparou a arma e o corpo da menina pendeu para trás.
-Não!!! – gritou o Deputado.
- Mais cinco minutos! - E apontou a arma para a cabeça do menino.
Carlos levantou, sacou sua arma e a apontou para Denis.
- Isso está indo longe demais! Vamos parar por aqui. Atira no deputado e a gente sai. Vamos tomar uma cerveja! Esquece dessa sociedade maluca...Vamos patrão! Meu camarada, você parece que perdeu a noção do que é real...
Denis tinha os olhos vermelhos, seu lábio superior sangrava e ele estava imundo. Abaixou a arma e olhou para Carlos.
- Trinta crianças inocentes foram mortas por essa gente – disse sem tirar o olho do Policial. Setenta mulheres...Você acha que eu vou esquecer?
- Não somos iguais a eles. Não matamos crianças! – Carlos argumentou.
- Desculpa Carlos, mas ando meio paranoico mesmo; depois que perdi o meu braço e ( pela segunda vez) a mulher que eu amava. Então eu retirei a munição da sua arma, quando a entreguei, antes de entrarmos no barco. Papo de arma sem numero, você sabe... Quando entramos em algo assim, entramos sozinhos. Desculpe-me amigo! – Denis apontou a arma para Carlos e atirou. O projétil acertou na altura do olho esquerdo e o Policial caiu.
- Onde estávamos? – disse Denis mexendo no seu braço ruim , acertando com a arma o braço morto, lesado pelo fragmento da explosão.
- Não existe nenhuma sociedade....
- Cinco minutos!
- Está bem, eu conto! – disse o Deputado, enquanto a mulher negava, mesmo amordaçada. Denis a viu implorar para que o marido deixasse o filho morrer, mas que não contasse nada.
Continua
Deuses errados