ASSOMBRAÇÃO NÃO EXISTE

A avenida estava deserta e, caminhando a passos lentos, eu passava em frente ao campo santo.

Beirava a meia-noite.

Ao cigarro que apagara, outro o substituía queimando rápido. Longa era a calçada, mas logo eu passaria em frente ao portão que, àquela hora, estaria fechado. Um calafrio percorreu-me. O que é isso? Perguntei-me, sem saber responder.

Acendi outro cigarro.

Faltavam poucos passos para chegar ao portão quando, de repente, ocorreu-me a lembrança de que aquele cemitério era mal-assombrado. Mas, e daí? Nunca acreditei em fantasmas. Isso eu dizia sempre, mas, naquele momento, ali, sozinho... e mais cinco, ou seis passadas, eu estaria de frente com o portal do além...? Parei.

As árvores do canteiro central contribuíam, com sombras disformes, para que o ambiente ficasse mais tétrico, e, o vento frio, passando pelas ramagens, provocava um farfalhar medonho.

E eu, ali parado, estava indeciso. Por que a dúvida? Assombração não existe. Será? Precisava me decidir. Olhando de viés, perscrutei o muro. Tudo estava tranqüilo. Por que não seguir meu caminho?

Acendi outro cigarro. Dei um passo à frente. Dei mais um. E mais um...

Mas, por via das dúvidas, atravessei a avenida, com o cigarro na boca e as mãos nos bolsos, tentando me lembrar de uma oração qualquer.