A MAÇANETA

Ao tocar a maçaneta, um calafrio percorreu-lhe a espinha. Estivera sentado, até agora, em frente à televisão, sem pensar em nada. O dia, de certa forma, fora tranqüilo. Um domingo como qualquer outro na vida de um trabalhador.

Esculápio, de manhã, foi à padaria comprar pão.

- Bom dia, “seu Osculápi”. Tá de folga, hoje?

- Bom dia, Manoel. Pois, é... me deram o dia, hoje. Como vai a família?

Embora Esculápio fosse um homem estranho, era querido da vizinhança, e todos o cumprimentavam quando o viam e falavam de suas vidinhas chochas ali naquele fim de mundo.

No caminho de volta, encontrara dona Firmina – uma septuagenária lépida, mas que estava entristecida com o definhamento do marido, acometido de uma doença grave.

- Deus há de olhar por ele, dona Firmina!

- Que Ele te ouça, senhor Esculápio!

Somente Esculápio sabia, o velho Ananias estava partindo. Esculápio, agora, ressentia-se por não ter estudado medicina, como sua mãe desejara. Optara por ser o que era - um jornalista interiorano. Na realidade, nem isso, pois, Esculápio cuidava da composição tipográfica do jornaleco da cidade.

Com a mão na maçaneta, o frio que sentia na espinha, espalhou-se pelo corpo. Será que o senhor Ananias...? Não, não podia ser... Todo o corpo de Esculápio tremia enquanto ele abria a porta lentamente... e, ao ver o rosto de pálido de seu companheiro de trabalho, não teve mais dúvidas!

- Tá bom, já vou me arrumar pra gente ir preparar o necrológio...

- Ué, do que você está falando?! Hoje é dia de descanso... e ninguém morreu, não! Cruz-credo!

- Mas... e o Ananias?

- Tá lá na praça, com dona Firmina, dando a voltinha de sempre.

- ?!

- E aí, nós vamos ou não vamos assistir ao jogo? As loirinhas já estão aqui, ó!