Reencontro
A porta foi aberta bruscamente e o cheiro de coisas podres antecedeu a figura sinistra. A morta olhou curiosa o ambiente.  As coisas mudaram muito por ali desde que partira. Sua coleção de livros dera lugar a bibelôs ridículos. As cortinas cor de rosa que escolhera com tanto carinho foram substituídas por outras de contas excessivamente coloridas. Até o tapete grande e felpudo fora retirado. Em pouco tempo a casa perdera  toda a antiga característica.                                                                     Tudo era silencio exceto pelo tique e taque do relógio . Ela visitou todos os cômodos, deixando por ultimo o seu antigo quarto. Protelando ao maximo o momento do reencontro.
Lá estava ele deitado de bruços. O radio na mesinha de cabeceira tocando uma musica suave. Ao contrario da casa, o marido não havia mudado quase nada. Era o mesmo por quem ela se apaixonara e se matara em um momento de desespero. Não suportara a ideia de perdê-lo.                          Deixara a sepultura somente para vê-lo mais uma vez. Uma última vez antes de partir em definitivo. Seu corpo já estava quase desfeito, mas ela prendera sua alma naquelas carnes putrefatas obrigando-o a leva-la para a despedida final ao amor da sua vida.
Um barulho no banheiro despertou sua atenção. Alguém acabara de dar descarga. Uma pontada de ciúme a machucou. Só de imaginar que outra mulher ocupara o seu lugar a transtornava. Sempre fora bastante possessiva e nem a morte apagara nela esse sentimento.                   Escondida atrás de um armário ela ouviu a porta do banheiro ser aberta e logo o ruído de alguém se deitando. O rancor e o despeito fez com que ela desejasse ver a sua substituta.                               Um gemido de desespero se tornou audível na hora que viu quem abraçava carinhosamente seu marido.  Os dois homens sentaram na cama ao mesmo tempo. Quatro pares de olhos aterrorizados. Cheia de ódio a falecida se aproximou e agarrando ambos pelo pescoço os sufocou até a morte.