Milena – Gênesis (Capítulo III - O Livro Amaldiçoado)

Existem muito mais coisas entre o céu e a terra do que podemos imaginar...

Mas... O que é a vida?

Um momento? Emoções? Sentimentos que nos leva a tomar decisões? Livre-arbítrio?

Do que estou falando? Quem sou eu?

Minha mente me levava em vários lugares, coisas passam em minha mente como flash...

Estava sozinho, em um lugar estranho, parece uma casa, eu acho, não... É muito grande para ser uma casa, quem são essas pessoas?

Vejo uma luz em minha frente me cegando, tapo meus olhos com uma das mãos e olho para o lado oposto...

- O quê está fazendo aqui?

- Eu? - respondi tentando enxergar quem era, era um menino, mais velho que eu, cabelos negros caindo sobre os olhos, sua voz era macia como da Milena, e seus olhos tão negros quanto o dela.

- Você não deveria estar aqui - disse a mim passando as mãos na franja e jogando para o lado - Não é a sua hora Rogério.

- Onde estou? Quem é você? Como sabe meu nome?

- Muitas perguntas pra uma cabecinha só - disse sorrindo - agora faça o favor de voltar.

Não sentia nada, estava leve como pena, parecia que estava voando, olhei para o lado, vi varias pessoas indo em direção a claridade. Voltei o olhar para o menino que já não estava lá, tudo começou a rodar e eu ouvi uma voz já conhecida que me alegrava.

- Rogério? Acorde por favor - a voz dela estava como súplica, sabia que era Milena, eu estava deitado, com os olhos fechados - Sei que está acordado, para de fingimento - disse impaciente.

Abri meus olhos lentamente, o quarto estava meio escuro, o que fez meus olhos se acostumar rápido.

- Oi Mi - Minha boca estava seca, mas não sentia sede, ouvi outra voz além da Milena, mas esta estava mais excitada.

- Ele acordou, chame os médicos; rápido, meu filho acordou - minha mãe me abraçava com muita força, me senti protegido, até que me lembrei de tudo o que havia acontecido.

O porto, a Água, o Alison...

Eu estava em um hospital, havia permanecido em coma por sete dias, enterraram os restos mortais do Alison em um cemitério próximo ao mar, que era o que ele mais amava...

Permaneci isolado por meses, todos faziam de tudo por mim, tentavam me animar, apenas me culpava pelo que havia acontecido, não devia ter saído de casa escondido, e... Aquela oração do Demônio não saia da minha cabeça.

Caminhava sozinho pela praia, pisando na areia quente, várias coisas passavam pela minha cabeça, e quanto mais pensava mais triste ficava...

- Até quando vai ficar assim Ro?

- Não me enche Milena.

- Sabe que não foi culpa sua não é?

- Eu quero ficar sozinho...

Uma coisa me distraiu enquanto brigava com Milena, algo brilhava nas rochas, caminhei até lá com Milena falando...

- Ah você é muito chato sabia?

- Me deixe em paz...

- Hummmm... Estouradinho como uma bomba, mas sei que você é um anjo - riu enquanto eu revirava os olhos demonstrando o meu tédio. - Já sei, vou te chamar de Bonbenjo.

Parei por um segundo, e olhei para ela...

- Me chamar de que?

- Bonbenjo - riu novamente - são criaturas metade anjo e metade bombas, nunca ouviu falar?

Revirei os olhos e continuei andando...

- OH MEU DEUS - gritei.

- Que houve?

Eu apontei para o que estava na pedra. Ainda intacto, estava o Livro amaldiçoado, o Livro de Mazus...

- Tenho certeza que o joguei no mar pela janela do quarto a meses - disse em desespero, andando de um lado para outro.

- Ele se apaixonou por você.

- Não é hora para brincadeiras Milena - encarei-a nervoso.

- Bonbenjo ataca novamente...

- Vou levar ele pra casa.

- Acho que não é uma boa ideia, e se ele estiver amaldiçoado?

- É um risco que vou ter que correr.

- Bom... - ela pensou por um segundo - Você que sabe - riu - e o que pretende fazer com ele?

- Quero saber tudo sobre ele, pra começar... O que estava fazendo no meu porão?

Peguei o livro e levei correndo para casa, quando estava com o livro nas mãos sentia uma sensação desconfortante, parecia que uma energia passava por todo meu braço e atingia meu coração...

Chegando a casa abri o livro onde estava a oração, eu teria que decifrar as palavras a todo custo, queria saber o que foi que Alison leu antes de morrer...

- Esta bem... E como pretende fazer isso Benjo? Você nem ao menos sabe falar português direito, quer sair lendo espanhol?

- Espanhol? Você sabia que era espanhol o tempo todo e não me disse nada?

- Você não me perguntou que língua era... - Tá, tá! E como vou arrumar um dicionário Português-Espanhol?

- Numa biblioteca?

Arregalei meus olhos, será que além de uma amiga, havia ganhado uma enciclopédia?

- Obrigado Milena, você é um amor, te beijaria se conseguisse.

Ela riu.

- Não há de que, engraçadinho, agora vai lá pegar o dicionário...

Corri até a biblioteca da cidade, A Biblioteca Municipal Alberto Solza, o atendente era um velho senhor.

- Precisa de ajuda rapazinho?

- Na verdade sim, preciso de um Dicionário pra traduzir de Espanhol para português, aqui tem?

Ele levantou uma sobrancelha e perguntou com desdém:

- O que uma criança como você quer com um dicionário de Espanhol?

- Será que uma criança não pode ter cultura? - não faço ideia de como pensei naquilo pra falar, e nem ao menos como saiu, nunca havia desrespeitado uma pessoa mais velha, mas havia funcionado.

- Seção de Tradução, primeiro corredor à direita - disse virando as costas.

Peguei o dicionário que precisava e sai de lá, voltando a meu quarto, Milena parecia interessada em algo que passava na tevê, nem liguei pra ela e fui para o quarto.

- Conseguiu o Dicionário? - Me assustei quando ela colocou seu rosto junto ao meu.

- Claro, mas não sei se quero saber o que está escrito ai...

- Medroso...

- Não sou não - disse gritando.

Então comecei a traduzir...

“Dios da y quita Lucifer, eldiabloviene a mí desde las sombras”

- Deus dá e o Demónio tira, hum... Venha a mim demônio das sombras? Isso é uma oração ou uma invocação...

- Não sei, tenta descobrir por si só Benjo.

- Ok, se não vai me ajudar não me atrapalha.

Ela riu e continuou do meu lado.

- Quero ver o resto da tradução...

Havia Decifrado toda a suposta oração, a cada palavra um calafrio assombroso passava pela minha espinha.

“Deus dá e Lúcifer tira, Venha a mim Demônio das sombras.

Comprometo-me a ser fiel e leal a seu nome.

Agradeço pela magia escrita aqui e usarei com bom grado.

Oferecerei um sacrifício humano, minha alma é sua, e meu corpo te pertence.”

- Isso parece uma espécie de Pacto...

- Pois é Bonbenjo.

- Para de me chamar assim...

- Não, voltando ao livro... Seu amigo fez um pacto antes de morrer – diz ela se sentando a meu lado e mexendo os pés freneticamente – pensando bem, não... Ele foi apenas o sacrifício, você quem fez o pacto, você quem encontrou o livro.

Varias coisas passava pela minha cabeça, e comecei a folhear o livro, como um ataque súbito; fechei o livro e o joguei no porão da casa...

Nunca mais abriria aquele livro novamente...

Isso era o que eu pensava...

Bonbenjo
Enviado por Bonbenjo em 07/10/2014
Código do texto: T4990550
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