Milena – Gênesis (Capítulo V - A Sacerdotisa)

- Do que está falando? Milena é a melhor pessoa que já conheci em toda minha vida - disse nervoso.

- Demônios mentem meu filho, nunca ouviu dizer que Lúcifer é o pai da mentira?

Não pode ser verdade, conheço Milena há sete anos e garanto que ela é totalmente inofensiva.

- Trouxe o livro?

- Sim - disse, mas estava com um pé atrás, não sabia se podia confiar no padre, e Erick não estava para me ajudar.

- Deixe-me vê-lo.

- Não! Como sabe sobre mim?

- Os demônios me contaram tudo sobre você.

- Você conversa com demônios?

- Sou exorcista lembra? - os olhos do padre brilhavam em euforia, não fazia ideia do que ele estava tramando.

- Porque quer ver o livro?

- Preciso dele - aquelas palavras apenas me fizeram suspeitar mais do padre.

- Pra que quer o livro?

- Não é da sua conta - disse ele pulando em mim, e puxando minha mochila.

- Droga, Erick cadê você?

O traje do padre começou a pegar fogo, ele começou a gritar.

- Benjo sai daí.

Milena me gritava da porta da igreja, corri para fora vendo o padre pegar fogo.

- Cadê o Erick Mi?

- Está lá dentro com o verdadeiro padre.

- Verdadeiro? Quem é este homem?

- Eu sou Fauzer - dizia o padre, estava totalmente envolvido pelo fogo, mostrando a verdadeira face - vim buscá-lo Bonbenjo.

- Benjo o livro - gritou Milena, puxei a mochila para frente e a abri - Milena o livro não está aqui?

- Como não? - gritou ela - Eu o vi colocá-lo ai.

- Está procurando por isto? - Erick estava com o livro - Sabia que você tentaria usá-lo novamente, como fez com Dieter, então o peguei.

- Devolve pro Benjo usar Erick - disse Milena.

- Você não deveria nem ao menos ter posto suas mãos neste livro garoto, sabia que é magia negra?

- Não temos tempo para isso Erick - gritei - Será que não esta vendo que as circunstancias exige ações precipitadas?

- Posso atrapalhar a discussão familiar de vocês? - disse o padre em volto pelo fogo.   

- Não - gritamos os três juntos.

Fauzer nos olhou com cara de espanto.

- Este é o tal livro não é? O famoso livro de Mazus que mandou meu irmão de volta para o inferno?

- Não é da sua conta bicho feio - dizia Milena com raiva.

- Milena não é? Acho que você se esqueceu de algumas coisinhas.

- Não fale com ela Fauzer - gritou Erick - o que vocês querem com o Benjo?

- Apenas brincar com ele.

- Porque a alma dele é tão valiosa pra vocês? - dizia Milena - Ele é só um humano como qualquer outro.

- Você é muito burra menina.

- Deixe-os em paz Fauzer, ou terei que usar minha força.

- Força? - ele riu uma risada sinistra que fez cada centímetro do meu corpo tremer - Gostaria de conhecer a sua força, muitos anjos tentaram, mas nenhum conseguiu destruir os sete anjos negros, nem ao menos aquele Miguel arrogante.

- Mas ele pode não é mesmo? - disse Erick apontando para mim - Ele é o único que pode destruí-los, ele tem algo que vocês desejam não é? Algo que seu mestre teme mais que tudo, por isto querem vê-lo morto.

- Ponto pra você anjinho, mas não é apenas isso... Não o queremos morto, ele vale muito mais vivo ao nosso lado, do que morto. Mas se ele continuar contra nós - olhou para mim – serei obrigado a matá-lo.

Estava com medo, Erick estava com a única coisa que fazia me sentir poderoso, me sentia seguro quando estava com o livro de Mazus. Pulei onde Erick estava sentado e o capturei, um calor invadia minhas entranhas.

Então o abri.

- Não Benjo - gritou Erick, mas era tarde demais.

- Mazus me da su poder, el poder de vida, el poder de matar demonios, el poder de expulsar los malos espíritus.

Uma sombra apareceu atrás de mim, me assustei de imediato, mas sabia que eu a tinha invocado. As sombras sussurravam palavras em meu ouvido que não conseguia entender, então eu disse.

- É ele que está tentando me matar - apontei o anjo negro em minha frente.

Como um relâmpago as sombras avançaram em cima do anjo negro no corpo de padre.

As sombras arrancaram os braços de Fauzer, que não parava de gritar.

- Que merda de poder é este? Isto não pode estar acontecendo.

- O modo mais fácil de derrotar o mal é usando o mal - dizia Milena gargalhando enquanto chegava próximo a mim.

As sombras esquartejaram Fauzer em milhares de pedaços, deixando apenas sua cabeça no chão.

- Meus irmãos virão atrás de você Rogério Henrique, espere e verás.

Cheguei perto de onde a cabeça estava e pisei com toda força, vi meu pé atravessando seu crânio.

- Vamos voltar para casa Benjo - disse Erick puxando meu braço.

A noite demorava a passar, não parava de pensar em tudo o que havia acontecido conosco na igreja; Erick disse que o padre estava a salvo e viria falar comigo quando estivesse se sentindo melhor.

O dia demorou a passar também, mas não porque fiquei pensando que a qualquer momento o mal viria me pegar, mas por que estava ansioso que a noite chegasse, para enfim, estudar com Débora.

Às sete horas em ponto a campainha toca.

- Deixa que eu atendo, gritei para meus irmãos.

- É a namorada dele - disse Lua.

- Ela não é minha... - Abri a porta, Débora estava simplesmente deslumbrante, seu cheiro me deixava louco - namorada...

- Oi Benjo.

- Oi - disse sem conseguir parar de olhar pra ela, depois de alguns segundos parado ela riu e disse:

- Então, vai me deixar entrar ou vamos estudar aqui na porta?

- Bobão - disse Milena indo para cozinha.

- Claro, me desculpe, entre...

Ela entrou na sala, e olhou para cima, como se estivesse procurando algo, eu havia limpado a mesinha de centro para estudarmos ali, mas ela disse:

- Não é melhor estudarmos no seu quarto?

- Sério? - disse impressionado - Quero dizer, se quiser - sorri, vendo mamãe entrar na sala seguida por meus irmãos e Milena.

- Olá - disse Débora - A senhora tem uma casa magnífica.

- Bom receber novos amigos do meu filho em casa - disse mamãe cumprimentando Débora.

- Vamos subir então Débora?

- Sim claro, com licença senhora. - disse enquanto segurava minha mão.

Chegando ao quarto, ela tirou seus cadernos de uma bolsa e colocou sobre a mesa de cabeceira da cama.

- Sua casa é realmente linda Bonbenjo - disse ela sorrindo - Pena que você não a mereça - seu semblante mudou totalmente, de um sorriso foi para uma cara dura e fechada, ela tirou uma faca da cintura e veio para cima de mim, que cai na cama segurando sua mão.

- O que está fazendo? - Perguntei.

- O que vim fazer Rogério Henrique.

- Ah merda, o que foi que eu fiz que todos querem me matar?

- Não é o que você fez, mas sim o que você pode fazer - a faca dela passou pelo meu braço cortando o tecido de minha camisa.

- Eu não faço mal nem pra uma mosca, socorro - gritei, mas ela tapou minha boca com um pano, com alguma coisa que me deu sono, me deu muito sono...

Acordei em um lugar estranho, parecia um altar, figuras encapuzadas estavam ao meu redor.

- Quem são vocês? - gritei, mas ninguém respondeu.

- Você deve morrer para o bem da humanidade garoto - era uma voz conhecida, mas não conseguia lembrar-me de quem era.

- Por quê? O que foi que eu fiz?

- Você é o bem e o mal, não podemos deixa-lo vivo.

- Por favor, me libertem - gritava o mais alto que conseguia.

- Você deve morrer, não queremos correr riscos! Débora faça.

Vi Débora chegando próximo a mim com uma faca que tinha o cabo dourado e era a imagem de um dragão.

- Por favor Débora - suplicava - não faça isso.

- Me desculpe, eu não queria - dizia ela - Mas eu nasci para este momento, fui criada e ensinada como devo enfiar este punhal no seu coração, você deve morrer bonbenjo - ela balançava a cabeça negativamente, via lágrimas escorrendo pelo seu rosto, então soube que ela não queria fazer aquilo.

- Ok Débora, te entendo - comecei dizendo, sabia que tinha que ganhar tempo para Erick chegar até mim - Sei como é ser obrigado a fazer coisas que não queremos.

- Sabe? - disse ela.

- Mate-o Débora, para de enrolação e enfia o punhal no coração dele.

Ela chegou bem perto de mim com a faca, sentia sua respiração quente e a faca encostada em meu peito.

- Apenas faça – disse - Ai - gritei de dor, quando forçou em meu peito, a menina linda, simplesmente jogou a faca para longe, e disse chorando:

- Não posso, me desculpe pai.

- Sacerdotisa insolente - gritou a primeira mulher - você nasceu para isso! Se esqueceu?

A mulher encapuzada pegou o punhal e veio em minha direção, levantou-o para me matar, e Débora pulou em cima dela.

- Não vou deixar você matá-lo.

- Saia de cima de mim sua vaca, você merece a morte tanto quanto ele.

Um estrondo fez todos pararem, as janelas do templo estavam se quebrando uma por uma, as luzes se acendiam e se apagavam. Erick estava lá, havia vindo me salvar.

- Demorei muito? - Disse Erick me tirando do centro do altar, onde estava amarrado a uma mesa.

- Mais do que devia - disse rindo - E pra que quebrar os vidros?

Milena queria uma entrada triunfal - respondeu o Anjo.

- Queria nada - disse ela correndo para perto - ele que é exibido. Então? Quem são seus amigos Benjo.

- São os sacerdotes da luz - respondeu Erick com um ar de surpresa - Mas o que eles querem com você?

- Disseram algo sobre eu ser o bem e o mal, também não entendi nadinha.

Erick começou a gargalhar, não conseguia entender o motivo.

- Isso é lenda Bonbenjo, uma lenda que os humanos distorceram porque não suportam a verdade por trás dela.

- É bom me contar a história todinha - disse Milena brava - Por que sou sempre a última, a saber, das coisas? E porque eles acham que a alma da lenda é o Rogério?

- Sim, vou contar tudo a vocês - disse Erick.

- Existe uma lenda entre os anjos - começou Erick - Entre os mortais nascerá uma criança que carregará no sangue o poder da Luz e das Trevas, junto com ele trará a destruição ou a paz.

- Só isso? - disse Milena - e eu achando que era algo extremamente importante.

- Presta atenção Milena, sua mula - gritei com ela - Será que você não percebe que estão tentando me matar por causa de um engano, não tenho nenhum poder, a não ser ter a chata da Mi no meu pé - disse encarando todos.

- Está enganado - disse Erick olhando para mim - você é mais especial do que parece Rogério, se fosse só isso a legião negra não estaria atrás de você.

- O que tenho de tão especial? - me lamentei.

- Ainda estou tentando descobrir. Meu serviço é não deixar você e a Milena entrarem em confusão - disse Erick olhando para mim - Isso inclui não deixar você tocar naquele livro. É um serviço mais difícil do que vocês imaginam.

- O que você tinha na cabeça menina? - olhei para trás e vi Milena gritando com Débora - você entrou lá na nossa casa de cara limpa, tiro o Benjo pela janela, iria matar ele e achou que ninguém desconfiaria de você?

- Milena, esqueceu que ninguém pode te ver? - disse arregalando os olhos.

- Sai de perto de mim - gritou Débora.

- Ela esta me vendo - gritou Milena - ela me viu te chamando de bobão quando chegou lá em casa.

- Quem você pensa que é pra falar comigo assim? - Débora havia se levantado e estava encarando Milena.

- Devo-me intrometer? - perguntei a Erick.

- Não - disse ele torcendo a boca - Nunca se deve intrometer em briga de duas garotas.

Se não estivéssemos em uma situação tão desastrosa teria rido de toda aquela cena.

O templo estava vazio, todos já tinham ido menos Débora que continuava brigando com Milena.

- Débora? - disse chegando perto.

- Rogério, me desculpe - começou ela - é que...

- Não diga nada - coloquei o dedo indicador nos seus lábios, ela começou a chorar novamente e me abraçou, me olhou, ficamos em silêncio por alguns instantes, então encostou seus lábios nos meus e me beijou.

- Eca - esperneou Milena - da pra vocês pararem com isso?

Dei um passo para trás de onde estava e ri, Milena era a melhor amiga que se podia ter, mas tinha um grande defeito, ela era extremamente ciumenta.

Um homem entrava por uma porta correndo, ele estava bem vestido, um senhor elegante.

- Filha? - disse ele.

- Papai - correu Débora se jogando nos braços do velho - não consegui terminar papai, ele é uma pessoa como nós, matar é errado, e... - Débora nem havia terminado a frase e o homem deu um enorme tapa em seu rosto, fazendo-a cair.

- Não é errado matá-lo, ele vai destruir o mundo, somos heróis - dizia ele cuspindo de tanto ódio em suas palavras.

Erick caminhou até onde Débora estava e estendeu a mão para a garota, que se levantou com a ajuda recebida.

- Você está completamente louco - começou o anjo - não importa se ele é bom ou mau - disse olhando para mim - Sua filha está certa, ele é uma pessoa como vocês.

- Não - gritou o senhor - Ele vai destruir o mundo, está escrito, a cada dois mil anos...

- Bla, bla blá - disse Erick.

- Não importa, ele tem que morrer - com uma faca o homem se jogou em cima de mim, me desvencilhei para o lado deixando ele cair no chão - Como ousa?  

- Do mesmo modo que você ousa tentar me matar.

Erick pega uma espécie de flauta de suas vestes e começa a tocar, o homem fica hipnotizado e anda em direção à porta.

- O que está fazendo Erick? – perguntei.

- Ele ficará bem, apenas vai refletir um pouco.

O pai de Débora some em uma luz que nos faz tapar os olhos com a mão.

- Ele ficará bem mesmo Benjo?

- Sim - disse limpando suas lágrimas - Confio em Erick.

- Se você confia - disse ela - também confiarei.

Nos abraçamos e disse:

- Você vai ficar bem?

- Sim, vou para casa, mamãe esta me esperando.

- Será que da pra vocês se largarem? - esbravejou minha amiga morta - Isso já esta ficando chato.

Eu ri e beijei Débora para o desgosto de Milena que saiu andando na frente brava.

Bonbenjo
Enviado por Bonbenjo em 08/10/2014
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