Milêna - Genesis (Capítulo XIII - Lembranças)

- Eu era uma garota feliz, sempre fui feliz - ela riu - até aquela noite - seu semblante mudou; espantava-me como ela conseguia passar de um sorriso caloroso para um semblante fechado como aquele - Papai chegou a casa, ele estava quebrando tudo, mamãe então foi ver o que estava acontecendo, ele estava com uma arma; papai sempre foi amoroso com todos nós, ele era o melhor pai do mundo... Não sei o que deu nele, ele atirou em mamãe, duas vezes, corri para o quarto de Erick que estava dormindo, sim Benjo... Erick é meu irmão, ou ao menos era! Estávamos saindo de casa - o silêncio reinava no local, ninguém ousava interromper Milena - Eu estava com meu irmãozinho David no colo, quando ouvimos papai chegar atrás de nós, coloquei meu irmão dentro do armário da cozinha e fechei a porta... - ela parou por um momento - Meu pai pegou em meus cabelos, ele me chamou de algo que não entendi, Erick pulou nos braços dele que conseguiu me livrar de suas mãos, papai jogou Erick pela janela, eu gritei - lágrimas escorriam por seu rosto silenciosamente - gritei, mas já era tarde, Érick caiu de uma altura muito alta, era impossível ele ter se salvado, então ele pegou em meu pescoço e me levou para o quarto, me jogou no guarda-roupa e amarrou cordões em meu pescoço, fiquei suspensa, amarrada, sem ar, depois de alguns segundos sem conseguir respirar, ouvi um grito de dor... Era a vós de papai, um tiro... Então uma escuridão me atingiu, e eu acordei no cemitério... Fiquei lá por dias, talvez meses, esperei... Esperei... Esperei Erick, esperei mamãe... Mas ninguém veio... Deixaram-me sozinha... Todos havia me abandonado...

- Eu não te abandonei Mi - disse Erick tentando se explicar - Quando bati a cabeça uma Luz me puxou, então... Eu acordei lá no palácio dos anjos, eu iria voltar para te buscar, jamais te abandonaria...

- Me abandonaram sim, todos me abandonaram, Zayfus me contou...

- Zayfus? - disse Uriel - ele é só um demônio, a pior escória dos demônios...

- Ele me ensinou tudo o que sei - continuou Milena - Ele me apresentou a Lúcifer, ele quem me tirou daquele cemitério... Então, fiz um acordo com Lúcifer, ajudaria os sete a abrir o portão do inferno contanto que me desse uma chance de me vingar da alma de meu pai, e de tudo o que ele fez por nós... Ele prometeu me transformar em um demônio super poderoso – disse sorrindo – deve ser legal ter super poderes.

- Não entendo - disse olhando para os lados - porque seu pai faria isso?

- Zayfus foi mesmo esperto usando essa menina - começou o anjo negro loiro - Foi o caminho mais fácil e rápido de usar Milena, lembra que falamos sobre o ritual que aconteceu aqui a alguns anos? É bem isso, os pais de ambos vocês estavam presentes, sim Bonbenjo, seu pai também estava aqui, ele tentou livrar você da maldição de ser caçado por anjos e demônios. Simplesmente ele iria se sacrificar para que você tivesse uma vida normal, pobre tolo, entretanto, o intrometido do Erinaldo o salvou - ele abaixou a cabeça e riu - mas foi em vão, Zayfus sempre foi esperto, o coração de Erinaldo estava aberto, dando passagem para o demônio tomar conta de seu corpo e de sua alma, o usou para matar... Tolo, ele não imaginava o que estava por vir.

- Papai? - falei sem pensar.

- Sim, garoto, seu pai foi morto pelo pai de Milena também - os outros anjos negros riam cada vez mais alto - depois de terminar o serviço, Erinaldo possuído foi para casa e matou toda sua família, foi um golpe de sorte a garotinha ser tão ingênua e ficar vagando pela terra, ao invés de seguir a "luz" - ele disse essa ultima palavra com zombaria. Depois que Zayfus fez tudo improvisado, saiu do corpo do papai, quando Erinaldo viu o que havia feito, pegou uma faca e se matou...

- Porque está nos contando isso agora? – perguntei.

- Mas houve um imprevisto não é mesmo? - disse Erick - Vocês não contavam que o coração de Milena fosse tão puro a ponto de não conseguir machucar seu amigo, vocês não contavam que Milena e Bonbenjo se tornassem amigos inseparáveis.

- Precisamos do Bonbenjo vivo ou morto - disse Antuérpia - apenas o sangue dele é valioso para nós, então se vocês não quiserem ser destruídos, saiam da frente imediatamente.

Todos entraram em minha frente no exato momento, era muita informação para minha cabeça que doía, percebi que meus irmãos estavam tão chocados quanto eu... Mas uma coisa não se encaixava.

- Erick - disse eu - como você conseguiu voltar como anjo?

- Não sou um anjo Benjo - disse Erick sorrindo.

- Pessoas não podem se tornar anjos - disse o velhote Uriel - entretanto, os anjos podem dar um pouco de poder para os humanos que “merecem”, o que foi que aconteceu com Erick e Jhonatan.

- Jhonatan? - falei sem entender.

- Sim, ele veio para sua casa numa boa hora não acha? - continuou Uriel - ele está nos ajudando com o poder do colar a alguns anos. Quando ficou sabendo o que estava acontecendo com você quis vir ajudar.

- Pois é priminho, esta me devendo uma - disse Jhol rindo.

- Eles me ajudaram por um único motivo - disse Erick - A única coisa que tinha em mente era salvar minha irmã da garra desses demônios, e salvar a você também, o pequeno garoto que pode destruir o mundo... Não contava que iriamos nos tornar tão amigos, eu tinha o dever de lhe matar, se você passasse um centímetro da linha do bem.

- Você me mataria?

- Não conseguiria... – retrucou ele – Você conquista a todos com esse seu jeito idiota.

- Uma coisa não entendo - disse Jannifer lentamente caminhando até meus irmãos - Porque Lilith não deixou que o matássemos? – disse apontando para Luis – Estava tão divertido - Luís se encolheu onde estava.

- É bem simples - disse Uriel - Ela não queria que os meninos colocassem as mãos na lança do destino, foi muito inteligente Erick, ameaçando pegar a lança do destino, é a única arma que pode matar Lilith e Lúcifer, a não ser a espada de fogo de Miguel.

- Ela disse que quer meu sangue - falei.

- Ela não precisaria jogar com você pra pegar seu sangue, moleque tolo, ela é a mãe da bruxaria, a rainha do inferno, a mais forte dos demônios - disse Fauzer.

- Eu não sabia que você era tão puxa-saco Fauzer - disse Milena sorrindo.

- Será que podemos voltar ao que interessa? - disse Plínio se levantando, o anjo negro Loiro caminhava lentamente de cabeça baixa, todos ficaram parados olhando para ele, inclusive eu, quando pulou em mim...

Jhonatan se jogou onde eu estava, me empurrando, as garras de Plínio rasgaram meu braço, gritei de dor, a batalha entre os anjos contra os anjos negros recomeçou, meu olho humano não conseguia ver tamanha a velocidade do combate, apenas borrões...

- Preciso ajudar - disse me levantando apoiado em Tawan.

- Mas o que você pode fazer Benjo? - retrucou ele.

- Quero o livro de Mazus - falei baixinho - Traga-me o livro de Mazus - gritei sem saber o porquê.

Toda a cena parou como se eu estivesse apertado o botão pausa, apenas congelou todos, caminhei entre os anjos, percebi que ambos os lados estavam machucados, entre a estátua do portão do inferno estava meu livro, o livro de Mazus, o livro que tanto precisava no momento, quando coloquei as mãos nele todos voltaram ao normal, mas podia ver a luta! Vi quando Jhonatan caiu com um soco de Plínio, quando Uriel cortou a cabeça de dois dos anjos negros, Billy e Altamir se estrebuchavam no chão. Meus olhos estavam mais rápidos ou eles haviam diminuído a velocidade.

Jennifer cortou o rosto de Jhonatan com as unhas, deixando marcas profundas, meu primo urrava de dor, Erick vendo aquilo pulou com a espada que enfiou nas costas do demônio que virou cinzas, corri para o lado da escada, Dieter, Fauzer e Antuerphia iriam atacar Jhonatan que se contorcia no chão com a mão no rosto, abri o livro em uma página qualquer e li a inscrita:

“Por el poder del diablo, destruye a mis enemigos”

Os três demônios começaram a pegar fogo e se contorcerem, mas não estava dando certo, o livro de Mazus não era forte o suficiente para destruir os demônios, corri para onde Jhonatan estava e puxei o colar de seu pescoço.

“Pelo poder da Luz, e o poder de todos os anjos, destrua esses demônios”

Os três começaram a inchar, incharam tanto que explodiram em uma gosma verde e pegajosa que espirrou em meus irmãos e meus amigos que estavam na escada.

- Benjo está bem? - perguntou Milena chegando perto de mim.

- Sim estou - disse caindo de joelhos, aquilo havia me deixado enfraquecido e extremamente cansado.

- Irmãos tolos - Plínio estava rindo enquanto mexia as mãos estranhamente - como pode deixar um humano brincando com um livro de bruxaria destruí-los, mas não se preocupe vou vingá-los - Suas mãos começaram a brilhar, e uma névoa negra surgiu em volta, via pequenos raios saindo dá nuvem que se transformou em uma bola de fogo negro... - Sabe o que é isto Uriel? – ele sorria e encarava o chefe da batalha - Isto é uma coisinha que aprendi com o pai dos demônios, magia negra pura, destrói qualquer coisa, inclusive anjos, quer ser o primeiro?

Plínio olhou para mim, antes que os outros pudessem se mexer, jogou a bola de fogo em minha direção, tudo aconteceu muito rápido, não iria conseguir desviar daquilo nunca, ele estava muito próximo a mim. Milena pulou em minha frente e foi atingida pelo poder do anjo maligno.

Gritava, pedia ajuda, mas ninguém se mexia, Erick caminhou até mim, e ficou ao meu lado apoiando sua espada no chão.

- Ela não merecia isso – disse ele balançando a cabeça – Sentirei sua falta.

- Só isso? Apenas vai dizer que senti muito e vai deixa-la morrer?

- Ela já esta morta – diz ele.

- Então o que vai acontecer com ela?

Milena olhava para mim com seus olhos serenos.

- Ela vai ser destruída, sua existência desaparecerá...

Aquelas palavras me abalaram, lágrimas escorreram por meu rosto e caíram em silencio ao lado da cabeça dela.

- Homem não chora Benjo - disse Milena sorrindo.

- Milena, eu te amo... - Ela fechou os olhos e disse:

- Te amo mais que tudo meu pequeno – diz ela colocando suas mãos em meu rosto.

Milena se dissolveu em pequenas luzes e farelos que voaram com o vento...

Chorei muito, estava desesperado, meu coração batia a mil por hora, então eu gritei...

- Milenaaaaa!

Minhas vistas escureceram, ouvia pessoas gritando ao longe, e apaguei...

- Benjo, Bonbenjo acorda - estava zonzo, alguém batia em meu rosto, abri meus olhos lentamente - que bom que acordou, está bem? - Era Jhonatan, ele estava pálido, o que havia acontecido? Levantei-me de onde estava deitado, percebi que estava nu - toma, veste isto - disse ele me entregando um sobretudo negro e uma calça.

- O que aconteceu? - perguntei, estava no mesmo lugar, mas não havia mais ninguém lá, e eu não ouvia o barulho da festa.

- Não se lembra de nada?

- Não, eu apaguei quando... - me lembrei de Milena, meu coração ficou apertado novamente - Milena...

- Sinto muito por ela - disse Jhonatan me puxando pelo braço.

- O que aconteceu? Cadê todo mundo?

- Vamos, te conto no caminho, Débora está no hospital dando a luz, a bolsa estourou no meio da confusão, ela tentou te ajudar e... - ele parou - Bem, vamos andando, te contarei tudo.

- Ela não pode dar a Luz agora, ela está de oito meses...

Jhonatan pegou minha chave do carro, e sentou no banco do motorista, sentei ao lado dele.

- Cadê os anjos? – perguntei.

- Foram levar o sétimo anjo negro, ou o que sobrou dele, você fez um bom trabalho.

- O que eu fiz? - perguntei.

- A magia negra te dominou - disse ele calmamente - Toda sua raiva que você sentiu quando Milena foi destruída foi usada para acabar com Plínio que estava fraco por ter usado aquele poder.

- Como? Eu estava desmaiado.

- Não sei bem, apenas sei o que vi.

- E o que você viu?

- Você se transformou em uma espécie de monstro enorme e poderoso, estava fora de si, saiu abrindo caminho até Plínio, Uriel tentou lhe parar, mas não conseguiu, o resto foi horrível... Lembra-se da lenda dos lobisomens? Bem... Não chega nem perto da coisa que você se transformou.

- Débora? Eu machuquei Débora, ou meus irmãos? - estava ficando desesperado novamente, como pude deixar o poder do mal me dominar?

- Não, estão todos bem; Débora esta em segurança, a qualquer momento sua irmã liga dando notícias.

Chegamos ao hospital, estavam todos lá, meus irmãos, Tawan, Jaqueline, e alguns dos anjos que estiveram na batalha, mas não vi Erick nem Uriel.

Entrei no hospital, seguido por perto por Jhonatan.

- Em que posso ajudá-los? - perguntou a atendente no balcão.

- Minha mulher está dando a Luz, preciso vê-la.

- Sua mulher? - perguntou Jhol.

- Qual o nome dela senhor?

- Débora Ludmila – falei. Meu coração ainda estava acelerado.

- Ela está na sala de parto neste exato momento, queira me acompanhar - falou a mulher me levando até a ala maternal do hospital que já conhecia bem.

Me entregaram uma máscara branca, e me levaram até a sala de parto.

- Débora, falei colocando a mão em sua cabeça, você esta bem amor?

- Sim - gritou ela fazendo força - Você se machucou? Estava preocupada.

- Estou bem...

- Força - falou o médico, segurei na mão dela fortemente. Ouve um choro fraco, e o médico disse - É uma menina.

- Menina? - falei fazendo careta para Débora que sorriu, o médico me entregou a criança, nunca havia pegado um bebê no colo, quando olhei para a menina em meus braços, tive uma surpresa, ela era linda, aqueles olhos...

- Senhor, qual será o nome para registramos? - perguntou a enfermeira.

Aqueles olhos eram...

Érick entrou pela janela e sorriu para Mim.

Aqueles olhos...

- Senhor, o nome?

Aqueles olhos eram...

Os olhas da...

- Senhor qual será o nome?

- Milena...

Fim...

Do Autor: Galera, Milena - Genesis acaba por aqui, porêm, Gênesis significa "Começo", então é apenas o começo de uma saga cheia de mistérios, aventuras, com uma pitada de humor e um tantinho a mais de terror. Escrevam ai o que acharam da história.

Asas negras é uma história (OFF) para a continuação da saga de Milena, começarei a postar o Asas hoje, ele é curtinho, com apenas 6 capítulos, e logo que acabar começo a postar o Milena Livro 2 - Exôdo. não percam, e obrigado pelos comentários.

Bonbenjo
Enviado por Bonbenjo em 22/10/2014
Código do texto: T5008011
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