Asas Negras (Capítulo I - O Orfanato)

A Neve cobria árvores e casas na pacata cidade de Dijon, na França. 

Era uma noite tempestuosa, tudo na rua Boullevard era estranhamente normal, exceto por uma sombra negra caminhando lentamente em direção ao orfanato Mineurs. 

- Quem será a essa hora? - Perguntava Madre Simonette enquanto caminhava apressada até a porta, quando abriu teve uma enorme surpresa.

Havia um bebê em uma cesta, Simonette olhou para todos os lados, mas não via ninguém, a não ser um vulto ao longe.

- Quem é Madre? - Pergunta Alana olhando para fora - mas que bebê lindo - diz ela pegando a criança - quem o deixou aqui?

- Se eu soubesse já teria tomado alguma atitude - falou a senhora batendo a grande porta - Como pode alguém abandonar uma criança neste frio?

- Ele parece estar bem, está até sorrindo.

- Há algo na cesta?

- Não, ah... Espere... - falou Alana tirando algo das mãos do garoto - o que isso? - levantou uma cruz torta; vermelha, de vidro - Como ele vai se chamar?

- Isso não importa agora Alana. Vamos dar algo para ele comer e agasalha-lo, antes que ele pegue uma pneumonia! - esbravejou Simonette, caminhando para a cozinha.

- Leonardo.

- O que? - perguntou a senhora parando e olhando para trás.

- Hoje é aniversário do Padre Leo, vamos batizar o menino em homenagem a ele. 

- Deixe de besteira e venha logo, ou quer que ele morra de fome?

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Hoje é meu aniversário de treze anos, Não estou nada animado, cada dia neste lugar é como se eu estivesse no inferno.

- Parabéns Leo - Diz Alana me abraçando enquanto abro meus olhos com dificuldade. 

- Bom dia para você também, mas precisava me acordar a essa hora? - Digo com rispidez.

- Tudo bem mal-humorado, agora levanta e vai se lavar, as aulas começam daqui a pouco.

- Não quero.

- O que?

- Não vou estudar hoje Alana, é meu aniversário afinal – realmente esperava que essa desculpa esfarrapada funcionasse.

- Madre Simonette colocaria você de castigo, quer passar o aniversário trancado em um quarto escuro?

- Qualquer coisa é melhor do que ver aquela velha.

- Não fale assim rapazinho, ela é um pouco dura, mas ama todos vocês. 

- Maxine já se levantou?

- A um bom tempo.

Me levanto ainda sonolento, lavo meu rosto e caminho até a capela, para fazer a oração do dia.

Entro na sala olhando para meus pés, algo está diferente, quando mais me aproximo do altar, minha vista fica embaçada.

Ouço gritos horríveis, e sinto cheiro de fogo, antes de desmaiar.

 

- Leo, acorda Leo... - Maxine está em cima de mim, dando tapas em meu rosto. 

- O que houve? - pergunto.

- Você desmaiou.

- Ah, sim... Quem estava gritando?

- Não há ninguém gritando aqui, apenas eu estava orando quando você entrou. 

- Mas... Juro que ouvi gritos...

- Leonardo? - Chama à velha Simonette, me viro ainda deitado no chão nos braços de Max.

- Sim? - digo me apoiando no chão, enquanto me levanto.

- Parabéns pelo seu aniversário - O que ela estava tramando? - Você tem um presente - A treze anos ela nunca me deu parabéns e agora me da um presente? Isso é realmente espantoso.

- Que você quer heim? – digo fazendo careta; Max me cutuca com o cotovelo.

- Como hoje é seu aniversário, esquecerei sua insolência, me acompanhe, por favor...

- Pra onde está me levando? - pergunto desconfiado enquanto subimos a escada do terceiro andar.

- Entre por favor - disse ela abrindo uma porta a frente.

Caminhou até atrás de uma escrivaninha, pude ver o quão grande é o escritório, jamais havia entrado nele.

- O que é isso? - pergunto apontando para uma cruz de vidro na ponta da mesa. 

- Seu presente de aniversário - falou ela sorrindo - quando o órfão completa treze anos, entregamos seus pertences por direito, e a única coisa que temos para você é isso.

- Mas...

- Agora pode se retirar.

Saio xingando a madre entre dentes, quem ela pensa que é para fazer essas brincadeiras comigo? Olho para a cruz fechando um dos olhos, algo estranho acontece, uma forte dor nas costas me faz cair de joelhos.

- O que está fazendo ai ainda garoto?

- Me ajude – suplico.

- Você não vai matar aula por ser seu aniversário - gritou Simonette - vamos - me levanta do chão pelo braço e me leva até a porta da sala de aula, olho para os lados tentando achar Max, por sorte ela está ao lado de uma mesa vazia - Fique de olho nele Serge, sabe como Leonardo é engraçadinho.

Caminho me segurando a parede, a dor estava cada vez mais forte. 

- O que você tem? - Pergunta Maxine.

- Dor - respondo - minhas costas parece estar se abrindo ao meio.

- Vamos sair daqui.

- Como vamos sair sem ele perceber? - digo apontando para o professor Serge. 

- Confia em mim?

- A minha vida - falo sorrindo com os dentes serrados - Aonde você vai? - Max se levanta e vai até a porta, volta e se senta rapidamente. - O que você fez?

- Olhe.

O lixo começa explodir e uma fumaça mal cheirosa invade a sala, todos começam a correr para fora, Max me da à mão e me leva até o quarto.

- O que há ai? - pergunto deitado na cama enquanto Maxine passava seus dedos delicados em minhas costas - para de suspense e fala logo Max. 

- É...

- É o que?

- Penas.

- O que?

- Têm penas saindo de suas costas Leo - Dei um grito com a pressão, ela tirou uma das penas com um puxão e me mostrou. Uma pena negra; parece de Corvo, me levanto e tento passar a mão, mas não alcanço. - Devo chamar a madre? Um médico? Alana?

- Não, a dor já passou...

- Mas têm penas saindo de suas costas, deve ser alguma doença.

- Max, para... Ok? Olha o que Simonette me deu - mostro a ela a cruz com o líquido vermelho.

- Porque ela te daria isto?

- Pelo que entendi, foi a única coisa que deixaram comigo - abaixo a cabeça encarando o nada, este assunto ainda mexe comigo.

- Ei - diz ela puxando minha cabeça para cima - Fica triste não, vamos achar seus pais um dia.

- Não quero... Eles me abandonaram.

- Não quer conhecer sua origem? O porquê fizeram isso? - Uma lágrima escorre de meus olhos e para em minha boca com o dedo de Max... - Eu te amo - diz ela antes de me beijar...

- Feliz aniversário - diz ela.

O sinal toca me fazendo recuar um centímetro.

- Temos que ir - digo sussurrando.

Max se levanta e puxa minha mão, minha costa ainda estava doendo.

Caminhamos até a sala e sentamos, a velha Simonette nos encarava continuamente. 

- Temos uma residente nova - começou ela fazendo um gesto para a garota entrar - esta é Rose - uma garota ruiva e sorridente entra na sala, ela era incrívelmente linda.

- Bem vinda Rose - fala olhando para os lados, como se procura-se por algo. 

- Ela é linda - sussurro, Max me olha de cara feia.

Rose estava em constante assédio dos garotos de Mineurs, mas o jeito como me olhava era diferente, aquilo me chamou a atenção.

- O que está fazendo? - pergunta ela entrando em meu quarto.

- Se a velha pegar você aqui estamos fritos.

- Não se preocupe, ela esta bem ocupada no momento.

- Como sabe?

Rose se sentou em minha frente colocando suas pernas nas minhas e me beijou. 

- O que está havendo aqui? - A velha Simonette entra batendo a porta, Rose corre para o canto oposto, a madre estava tomada de fúria - Isso foi o fim seu garoto, aqui não é seu lugar, soube desde que te jogaram por esta porta.

- Me... Desculpe... - tentei me explicar, ela me deu um tapa na face, um ódio tomou conta de mim, enquanto ela continuava:

- Seu bastardo de merda, você deveria ter morrido aquela noite...

Ela mal havia acabado de falar, algo a jogou contra a parede a fazendo bater a cabeça e cair no chão.

- É você... Eu sabia que era... - gritava Rose sorrindo, Max entra no quarto.

- O que? - viu Simonette caída no chão - o que houve aqui? - colocou a mão no pulso da velha senhora - ela está morta...

- Temos que sair daqui, disse me levantando e correndo até a porta - olho para trás e vejo as duas garotas, Max estava com medo e Rose ainda sorria.

- O que você fez com ela Leo? - pergunta Max.

- Vamos Max, temos que sair daqui - digo pegando em sua mão.

Pegamos o necessário e corremos para a rua, Maxine estava apavorada.

- Para Leo, me solta - gritou ela puxando o braço quando chegamos em Lac Chanoine Kir - De que estamos fugindo? Foi você que matou a madre?

- Não, eu nem toquei nela, eu apenas...

- Então porque fugimos?

- Não quer construir uma vida comigo? Longe daquele lugar?

- Leo, não vamos muito longe, não temos dinheiro, me conta a verdade, sei quando esta mentindo para mim, o que houve naquele quarto?

- Não sei - disse enquanto uma lágrima escorria por minha face - Juro que não sei, a garota, Rose, ela me beijou.

- Ela o que? - gritou Max - Matarei aquela...

- A madre chegou no momento e nos viu, foi tudo muito rápido, não sei o que houve. Mas algo me dizia para sair dali, correr o mais rápido possível.

Minhas vistas escurecem, sinto como se o chão estivesse desaparecendo aos poucos, respiro com dificuldade.

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- Leo, acorda Leo... - ouço Max me chamando, dando tapas em meu rosto, abro meus olhos e olho para os lados, estava proximo ao altar.

- O Que houve? – pergunto.

- Nada, parabéns pelo seu aniversário.

- Ah, obrigado.

- Leonardo? - me viro e vejo a velha chegando próximo a mim, levanto com dificuldade, me apoiando a Max.

- Sim senhora? - Max levanta as sobrancelhas.

- Desde quando você a trata com respeito? - pergunta ela entre-dentes.

Na verdade eu apenas estava evitando brigas, não fazia ideia do que estava acontecendo comigo, estava revivendo o meu passado?

- Parabéns pelo seu aniversário - Fico em silêncio esperando ela me chamar para ir- Você tem uma surpresa.

- Nem imagino o que seja... - digo revirando os olhos.

- Siga-me, por favor.

Ela me levou ao mesmo escritório no terceiro andar, algo me faz parar na porta.

Rose estava sentada na escrivaninha e uma mulher ao seu lado.

Simonette disse:

- Está é...

- Rose - digo entre-dentes.

- Se conhecem? - perguntou a velha madre.

- Creio que não - disse a mulher toda elegante, seus cabelos encaracolados eram de um vermelho sangue vivo, seus olhos deixavam transparecer ira - Sou Elvira.

- Leonardo, você tem duas horas para fazer suas malas, essa senhora veio lhe buscar.

- Senhorita. - retrucou Elvira.

- Deixe-me ver se entendi - falei pasmo com a notícia - Fui adotado?

- Exatamente.

- Não quero - gritei - não vou deixar Max.

- Você não tem escolha menino - falou Elvira me encarando - se arrume logo e vamos para casa.

- Minha casa é aqui.

Corro pelo corredor em direção a meu quarto, paro no corredor de repente.

- Onde pensa que vai Luciel?

- Meu nome é Leonardo - digo para Rose que ria em minha frente batendo o pé lentamente - E sai da minha frente.

- Seu lugar não é aqui - diz ela ainda sorrindo - Você será grande garoto, venha com sua família.

- Leo? - diz Max saindo de meu quarto - porque essa gritaria aqui no corredor?

- Max, eles querem me levar, me adotaram - digo caminhando em sua direção.

- Mas isso é ótimo Leo - diz ela forçando um sorriso, mas via em seus olhos o quanto ela sofria - lá fora você terá chance de ser algo além de um órfão.

- Jamais vou te deixar - digo a abraçando, ela me aperta em seus braços, por um momento meu mundo some, e tudo se resume em sua respiração, seu cheiro, seu toque, não poderia deixá-la lá.

- Chega de abraços e vamos embora - ouço a voz de Elvira atrás de mim.

- Não vou sem Max.

- Vou repetir mais uma vez Luciel - diz Rose sorrindo - Você não tem escolha alguma.

Realmente não tinha escolha, teria que ir por bem ou por mal.

- Prometo que volto para te buscar Max - digo enquanto entro no carro empurrado por Rose.

Estava ficando entediante, ninguém falava nada então resolvi puxar assunto.

- Onde fica nossa casa?

- Besançon - responde Rose enquanto brincava com um vídeo game.

- Chegamos - diz Elvira apontando para um castelo à frente - Essa é nossa casa.

- Um castelo? - exclamo admirado.

Rose desce do carro e corre a meu lado.

- Vamos logo Luciel, não posso mais esperar.

- Meu nome é Leonardo - digo revirando os olhos.

O Castelo era simplesmente magnifico, ao entrar pela grande porta me deparo com uma espécie de cômodo enorme, que dava para outras cinco alas do castelo. Havia duas escadarias opostas, em baixo das escadas havia portas de madeira. Ao lado direito Uma porta dupla dourada, e do lado esquerdo uma porta negra enorme.

- Bem vindo a sua casa - diz Elvira me empurrando para a porta dourada - siga-me, por favor.

Ela abre a porta e me deparo com um corredor enorme com mais centenas de portas, andamos por sete portas e entramos, era uma espécie de sala onde cinco meninos nos esperavam.

- Então... Este é Luciel? - Pergunta o primeiro garoto que segurava uma caneca nas mãos.

- Não - digo antes que Rose ou Elvira respondessem - Meu nome é Leonardo.

- Sim - diz Elvira - É ele sim, Rose finalmente fez um bom trabalho.

- Olá eu sou Alan - diz o segundo garoto, Alan era um pouco mais alto que eu, deduzi que era mais velho - Aqui me chamam de possuidor.

- Possuidor? - repito sem entender.

- Sim - diz ele - sou o melhor de todos nessa área.

- Eu sou Ribirth - diz o terceiro garoto com um rato no ombro, Ribirth aparentava ter treze anos, sua pele era extremamente clara, podia ver a vermelhidão de onde o rato encostava em seu ombro. - Sou o transformador - continua ele - sou o único que consegue.

Não estava entendendo nada do que eles estavam falando.

- Vamos acabar com as apresentações - fala o primeiro garoto com a caneca - Meu nome é marcos, e aqueles são Alex e Luan - Luan era moreno e tinha um semblante triste, Alex era o menor de todos, seu cabelo era liso e castanho e seus olhos era de um tremendo verde - Simplificando a História - continuou Marcos - essa é sua equipe.

- Equipe? - repito.

- Sim - fala Alex pulando no sofá próximo - Elvira e Rose não te contaram nada?

- Contaram o que? - pergunto novamente, nessa altura já estava totalmente confuso.

- Todos somos Demônios Luciel - fala Elvira que até então permanecia calada - E você...

- Você é a razão de reunirmos essa equipe Luciel - diz Rose me abraçando.

- Eu sou só um órfão - digo confuso - caramba, vocês estão ficando loucos - caminho em direção à porta, quando me viro Marcos estava em minha frente - Como chegou aqui tão rápido?

- Já falei que somos demônios?

- Bem... Acho que entrei pra família Adams - falei me sentando - Onde é a cozinha? Estou com fome.

Todos ficaram me encarando, mas quem falou primeiro foi Rose.

- Você acabou de receber a noticia de que é um demônio e está condenado a uma missão de vida ou morte e você só pensa em comer? Inacreditável.

- Inacreditável? - digo - já ouvi falar de famílias que adotam crianças para serviço escravo, mas isso aqui é ridículo, vocês percebem a roupa que estão usando? Estão indo para algum baile a fantasia e esqueceram de me convidar?

- Isso não é brincadeira garoto - diz Marcos me encarando.

- Que é? Está incomodado? Cai dentro - retruco.

- Parem vocês dois - diz Alex caminhando até mim - Venha Luciel, vou te levar até a cozinha.

- Me nome é Leonardo - grito.

Alex me leva até a cozinha, um cômodo enorme, com três geladeiras e vários armários.

- Bom... Sirva-se - diz Alex se sentando.

- Nem sei por onde começar - sorrio - Tirando o fato de eu ter entrado na família de malucos eu adorei este lugar.

- Não somos malucos Lu... Digo; Leonardo. Sei que é informações de mais para você, mas você supera, você é o filho dele, tem todo esse poder.

- Poder? - digo enquanto preparo uma enorme cocha de frango assada.

- Sim, você é o mais poderoso de nós, jamais conseguiríamos libertar os três sem você.

- Libertar quem?

- As três pontas do triângulo, são três demônios, extremamente poderoso, precisamos deles para libertar seu pai.

- Quem é meu pai?

- Lúcifer - diz Rose se sentando a meu lado - Simplesmente o grandioso Lúcifer.

- Tão querendo libertar o satanás? - digo levantando as sobrancelhas.

- Ele nunca deveria ter sido preso - fala Elvira entrando na cozinha, seguida pelos outros - tudo não passa de uma grande farsa de Deus.

- Como assim?

- Papai foi injustiçado Luciel, tudo o que ele queria era um pouco de atenção, e acabou sendo jogado no abismo por aquele arrogante - Rose cuspia ódio em suas palavras.

- Hum? Então o capetão foi injustiçado por Deus? - Digo em tom de desdém - corta essa pessoal, todos sabem o quão mau ele pode ser, olhem em volta, tudo isso que está acontecendo é culpa dele, guerra, violência, fome, mortes...

- Não é culpa dele - diz Marcos - Não acha se Deus quisesse impedir isso, ele já não teria impedido? Deus é um sádico, e ele adora isso.

Só podia ser brincadeira, ele acreditava mesmo no que falava?

- Está bem - digo - suponhamos que Lúcifer seja a grande vítima da história, não quero fazer parte desta guerra, não mesmo.

- Etapa dois? - pergunta Rose.

Vejo todos se entreolhando.

- Precisamos te mostrar uma coisa garoto - fala Luan - Venha comigo.

Sigo ele até uma sala extremamente grande, Elvira meche em uma painel e no centro da sala se abre uma outra sala funda.

- Que isso? - antes que alguém me respondesse Rose me empurra, me fazendo cair sentado na outra sala - Rose desgraçada, você me machucou.

- Desculpe - diz ela sorrindo.

- Leonardo?

Olho para frente e me assusto.

- Alana? O que está fazendo aqui?

- Enfim se juntou com sua família, não é Leo? - diz ela - Está feliz?

- Quero voltar para casa Alana, esse pessoal é Maluco.

- Aqui é sua casa garoto irritante - meus olhos arregalam; Alana jamais havia me tratado assim.

- Aconteceu alguma coisa Lana?

- Você é o garoto mais idiota que já conheci, se eu ficasse mais um segundo perto de você acho que teria te matado.

- Alana?

- Nunca gostei de você, sempre foi um fardo em minha vida.

- Alana eu...

- Cala a boca - diz ela me dando um tapa no rosto.

Aquilo estava doendo muito, não pelo tapa, mas meu coração doía, porque Alana? ela havia sido minha mãe por todos esses anos, eu a amava mais que a mim mesmo. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto caindo silenciosamente no chão.

- Você não é Alana - digo levantando a cabeça.

- Não mesmo? - diz ela sorrindo - Você tem uma cicatriz no pé direito, por pisar em um prendedor de ferro, ele entrou no seu dedão, e eu tive um trabalho enorme para tirá-lo.

- Isso qualquer um do orfanato poderia saber - retruquei - tente outra vez demônio.

- Você ganhou um crucifixo de ouro no seu aniversário de dez anos - gritou ela - aquilo me custou o olho do cara.

- Por que Alana? - nessa altura já estava soluçando - Você nunca me maltratou, pelo contrário, você sempre foi minha amiga e companheira.

- Eu te odeio Leonardo.

Ela pegou uma barra de ferro que estava no chão e foi em minha direção, no momento em que iria me bater eu gritei...

Gritei com todas as minhas forças, queria afastá-la apenas com meu grito, queria acordar... Acordar deste pesadelo...

- Caramba - grita Alex - não precisava disso tudo.

- Parabéns Luciel - diz Rose tocando em minha cabeça, abro meus olhos e vejo a barra de ferro atravessada na cabeça de Alana.

- Como? - digo secando as lágrimas com a manga da camisa.

- Ela está morta - fala Alex colocando os dedos no pescoço de Alana - Você a matou.

- Você é extremamente poderoso, a matou sem ao menos querer isso - fala Luan.

Estava exausto e confuso, queria apenas...

- Venha Leo - diz Alex me puxando pelo braço - Vou te levar para seu quarto.

- Ainda não acabamos com ele - diz Rose.

- Por hoje já chega, não acha que já perturbaram muito a cabeça dele por hoje? - grita Alex - Ele é um de nós pessoal.

Com a ajuda de Alex subimos até os quartos, entramos em um dos quartos, estava escuro, acendo a luz e cento na cama.

- Como veio parar aqui? - pergunto a Alex.

- Existem apenas duas formas de ser um demônio Léo, ou você nasce um que é o seu caso ou você se torna um, que é o meu.

- Como você virou um demônio?

- Longa história, um dia quem sabe, agora vai dormir - ele apaga a luz e vai embora, ouço seus passos se distanciando pelo corredor.