Manifesto dos Invisíveis.

Manifesto dos invisíveis.

Jorge Linhaça

Você não nos vê, mas estamos aqui,ali, acolá, por todas as partes.

Ouvimos o que você diz, sabemos aonde você vai, caminhamos lado a lado com você, e você não percebe, não sente, não se dá conta de nossa companhia.

Instintivamente você se desvia, atravessa a rua, sente aquele incômodo peculiar, sem explicação.

Somos muitos e somos um só, mas não faz diferença, pois, não somos percebidos.

Estamos em todos os cantos desta cidade, no trânsito, no metrô, no ônibus, nas ruas, no seu prédio, na sua escola, nos hospitais, nos bares, nas praças, nos becos, nos guetos, no seu trabalho, nos palacetes, nos clubes, nos cinemas, teatros, em todo lugar, enfim. Somos onipresentes, oniscientes, embora você não tenham ciência de nós, não perceba a nossa presença.

Interferimos em sua vida a cada dia, mas você nem se dá conta e segue o seu caminho, alheio ao nosso trabalho, alheio às nossas emoções. Seus olhos não estão preparados para nos ver.

Somos o mundo invisível ao seu redor, somos seus anjos e seus demônios, numa batalha silenciosa, perene, incessante.

Quando, por um acaso nos percebes, percebes apenas uma vulto, um ser inidentificável, sem rosto, sem formas, sem nome e sem história. Teu medo, disfarçado em indiferença, muitas vezes se transforma em repulsa em pavor. Mas estamos aqui.

Este é o nosso terror do dia a dia, essa é a nossa angústia, nossa “impotência”.

Sussurramos ao teu ouvido, gritamos em silêncio esperando por um milagre, mas continuamos a ser ignorados, continuamos a ser invisíveis, incorpóreos segundo a sua percepção.

Cumprimos o nosso destino, nossa missão, seguimos adiante, por entre a multidão , por entre as manadas humanas fechadas em seu próprio mundo, aprisionadas em seus conceitos e preconceitos, que os impedem de nos perceber.

Somos um exército cada vez maior, oriundos de todas as classes, profissões, religiões ou etnias...

Somos a foto da sociedade em negativo, somos os figurantes nos grandes filmes da vida, preenchendo os vazios sem sermos notados.

Somos engrenagens que movem as máquinas deste imenso parque industrial chamado vida, cada um produzindo um pouco de si, para o bem ou para o mal.

Mas, ser uma sombra é ser também vítima, é ser o coadjuvante de um eterno filme de terror que reprisamos a cada dia e, ao qual, ninguém parece assistir. Assim somos nós, rostos perdidos numa imensa multidão, aguardando a hora da insurreição, quando a última gota de tua indiferença, tornar-se-há a primeira gota de um imenso mar de sangue.

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