Luostep pt. 2

Parecia um freak show. Nas paredes, antes brancas, agora estavam cheias de rabiscos grafitados com sangue, frases como "NOBODY IS REAL", "No one comes to save you", "you've made a terrible mistake" "I didn't knew" e dezenas de algoritmos ininteligíveis, em um quarto onde sobrara apenas cortinas rasgadas, um corpo nu em posição fetal e um PC em chamas.Se observássemos bem o corpo, era de Bryan, garoto caucasiano de dezesseis anos, e nele havia cortes e hematomas por todo o torso, fios de cabelo com parte do couro ainda presa na ponta dos dedos e ainda nem cheguei a falar do rosto. Ainda que estivesse com seus sinais vitais em perfeito estado, não reagia a qualquer estimulo. Fiquei encarregado de verificar o HD que, incrivelmente, estava preservado.

Basicamente, continha o que se espera de um HD de um adolescente. Imagens descartaveis, sacanagem leve e pesada, registros de conversas e jogos. Nisto me prendeu a atenção o fato de que ele tinha um jogo cuja informação não conseguia em nenhum lugar da net. Luostep. Quando tentava abri-lo, o jogo travava, então, transferi o arquivo executável para um notebook e resolvi examina-lo a noite, quando chegasse do trabalho. Não, isto não tinha nada a ver com o fato de eu ser um hardcore gamer desde a infância, garanto.

Decepcionei-me ao ver que nada mais era do que um jogo 2-D estilo rpg simples, onde você começa com uma criatura que escolhe e vai subindo-a de nível. A que eu escolhi tinha a aparência de um lobo, bípede, e, por falta de criatividade, coloquei o nome de Nobody. Não que o jogo fosse fofo, ao contrário, possuía gráficos bem trabalhados, que me recordavam de clássicos como a série Shin Megami Tensei. Mas o estilo de jogabilidade era enjoativo para quem já jogou franquias como Pokémon e semelhantes.

Estava em meu apartamento novo e, como sou solteiro, e não tinha nada melhor pra fazer, testei o jogo, pensando se quando Bryan escreveu "Pet Soul" na parede, se na verdade não havia escrito o nome invertido do jogo. Talvez tivesse uma pista.

Logo na primeira cidade, o jogo apresentava bugs nos dialogos, e, quando entrei em uma casa, meu personagem travou e fui surpreendido por um ruido estridente enquanto a cabeça de Nobody crescia na tela. Para meu azar, houve um blecaute na mesma hora. Num misto de susto e raiva, fechei com força a tela do notebook.

Ainda com o coração acelerado e suando frio, o celular tocou. Não era o toque do meu celular, mas, a música tema de Luostep. Numero desconhecido. Quem diabos ligaria as duas horas e como aquela porcaria de toque de celular substituiu o meu? Desliguei o celular.

Causa Mortis: parada cardíaca. Este foi o fim de Brian, no mesmo horário que recebi a ligação. No dia seguinte recebi esta informação, ainda zangado e sonolento ao chegar ao meu emprego. Abri o notebook que havia levado pra casa, todos os ícones, exceto o atalho para executar Luostep, sumiram da área de trabalho. Além disto, o wallpaper havia mudado para uma foto de Bryan, espumando, e escrito em letras da mesma fonte usada no jogo "Nobody killed me".

Enjoado deste assunto, verifiquei o HD. Nada fora do normal. Quando executei o atalho para Luostep, senti uma pressão na garganta: era o mesmo lugar onde eu havia parado em casa no jogo. Chega. Abandonei o caso.

Duas da manhã. Liguei o notebook para trocar o wallpaper. Meu celular toca, desta vez normalmente. Escuto uma voz zombeteira de adolescente, enquanto ficava novamente no escuro, apenas iluminado pela tela do notebook. "Nobody comes to save yoou". Havia algo de errado na tela...Game Over.

Psycho Vincent
Enviado por Psycho Vincent em 25/03/2015
Reeditado em 14/12/2016
Código do texto: T5182178
Classificação de conteúdo: seguro