Mulheres da noite 2

Ainda assustado com o que vi na noite anterior, voltei ao local para ver se tinha algum vestígio ou se havia tido um pesadelo com todo aquele mistério. Temeroso, fui para o lugar bem embaixo do poste de luz que piscava fantasmagoricamente. Já era bem tarde por volta das onze e eu não tinha idéia do que iria encontrar lá, já que nem tinha certeza ainda. Mas o fato era que eu não tinha sonhado aquilo. Como sempre o lugar já estava deserto, só o vento uivava nas minhas orelhas.

Então comecei a vasculhar próximo ao pé do poste para ver se tinham marcas. Vi algo estranho e me abaixei para averiguar. Eram pegadas muito incomuns. Tinham o formato de um pé comprido, mas em formas de pequenos furos na parte onde seria o calcanhar e apenas três para a parte dos dedos. Confesso que meu coração gelou um pouco. Tentei seguir as pegadas até a base de uma cerca de arame farpado. Do outro lado tinha uma pequena reserva florestal. Então tirei a minha lanterna da mochila verde e iluminei um pouco mais adiante. Curiosamente aquelas pagadas continuavam entre os vãos das gramíneas: furos em círculos com mais três nas pontas.

Seria alguém com um tipo de sapato especial? E que raios de maquina era aquela que o cara estranho usou na mulher? O que isso teria haver com os dois sujeitos que a levaram depois?

Pensei umas dez vezes antes atravessar aquela cerca, mas eu tinha que saber o que era aquilo. Eu tinha um grave defeito: a curiosidade desde pequeno. Ela me levaria até o fim, disso eu sabia não importasse as conseqüências. Ah, se meu pai me visse naquela hora! “puxou o pai”. Meu pai era um excelente detetive. Todos diziam que a coragem dele não tinha limites. Agora aqui estou eu tentando provar sei lá o quê.

Então abri a mochila e verifiquei se a minha velha arma estava mesmo lá. Era um 38 que meu pai me deixara antes de morrer misteriosamente em uma missão secreta.

Atravessei a cerca e fui andando silenciosamente sem saber o que ia encontrar pela frente.

Enfim mesmo no meio da noite avistei bem abaixo um complexo comprido. A lua estava clara para minha sorte. Naquele ponto eu não via mais nenhuma pegada, mas pelo desenrolar das minhas investigações só tinha um lugar para tudo aquilo. E parecia o lugar perfeito. Distante e no meio do nada. Quando me aproximei dei de cara com uma cerca de tela, mas foi fácil de entrar porque ela não oferecia segurança nenhuma. Uma placa toda enferrujada na entrada com algumas letras garrafais. Deduzi que seria: PROPRIEDADE PARTICULAR, NÃO ENTRE!

Parecia uma velha indústria abandonada. Havia ferramentas espalhadas e um trator com pneus murchos, e o que parecia um grande moedor de carne umas duas vezes a minha altura que era mais ou menos um metro e oitenta. Muitas caixas de metal de cor vermelha e enferrujados, também espalhados pelo local. Talvez fosse um matadouro, não sei, mas aparentemente estava abandonado há pelo menos uns cinco anos.

Fui me aproximando e de repente escutei alguns passos leves surgindo pela minha direita. Rapidamente desliguei a lanterna e me abaixei atrás de um dos caixotes e levantei a cabeça para ver quem era. Escutei suas vozes e não conseguia entender nada. Não falavam nada que se parecesse com algo que eu já tinha ouvido. Pareciam mais uns resmungos baixos quase inaudíveis. Tentei olhar de soslaio e vi de longe duas figuras de homens bem altos e esguios, mas como estava escuro não pude aferir mais nada. Eles mais gesticulavam com os braços mantendo uma postura bem ereta. Então eles fizeram um terrível silencio e eu me abaixei mais temendo que tivessem sentido a minha presença. Enfiei devagar a mão dentro da mochila para apanhar o meu revolver. Meu coração estava batendo tão alto que me denunciaria a distancias. Com a arma em punho tentei respirar mais calmo e fiquei atento a qualquer sinal de barulho para o meu lado. Conferi e tinha três balas. Ajeitei o tambor e ouvi o estalo ao fechar a arma. “agora eles vão ouvir” pensei. Então levantei a cabeça. Eu estava tremendo. Meu Deus! Que coisa mais sinistra. O que eu estava fazendo ali?

Quando olhei para o local exato, eles tinham sumido. Fiquei perplexo. Não sabia se ao sair seria visto. Mas eu tinha que ir lá conferir uma coisa. Aí me arrastei pelos cantos sempre atrás de objetos abandonados próximo a cerca.

Conseguindo chegar onde eles estavam parados fui examinar o chão que era de terra naquela parte. Quando pus meus olhos nas marcas caí para trás. Meu Jesus! Eram as mesmas pegadas que eu seguia horas atrás. Mas o que podia ser aquilo? Ah, mas o ato desesperador estava por vir. Foi então que meus ouvidos quase tiveram um treco. Um grito horrível saiu embaixo de mim. Um grito de mulher. Vindo das profundezas da terra. Como era possível? Será que eu já estava delirando?

Continua...