UMA NOITE PARA ESQUECER

 
Aristides deu conta de si, ainda meio sonolento, um imenso frio espalhara-se rapidamente pelas suas costas. Estava deitado, pelo tato sentiu que repousava sobre metal, transmitia-lhe uma sensação gelada, muito desagradável. Sentiu um aperto no coração, uma fina agulhada, um choque, como que um ataque cardíaco, mas em breves momentos a sensação desvaneceu-se.
Tinha um tecido sobre ele, algo áspero. Mexeu as mãos, depois os braços e ergueu o pano. A obscuridade era completa.
Sentou-se sobre a plataforma de metal, pareceu-lhe de aço, onde estivera deitado e esticando-se tocou o chão. Estava descalço. Apalpando-se, sentiu, arrepiado, que estava completamente nu. Interrogou-se sobre o local onde se encontrava. Começou a tomar-se de medo.
Deu alguns passos até esbarrar com uma mesa que tateando constatou ser metálica, tal como aquela onde estivera deitado. E também tinha um pano sobre ela. Estendeu as mãos e sentiu, cada vez mais arrepiado, que ali repousava um corpo.
Virou-se para o lado esquerdo, caminhou alguns passos, chocou com outra mesa metálica, também com um corpo coberto. Olhou à volta e conseguia distinguir, de forma muito ténue, vultos que lhe pareceram ser de várias mesas, afastadas umas das outras, dispostas de forma geométrica. Onde estava, por Deus?
Descortinou uma ténue luz que surgia perto dele, junto ao chão. Era uma porta, para além da qual existia luz. Apalpou-a e deu com uma barra de segurança. Pressionou-a e viu um corredor comprido, fracamente iluminado.
Olhou para dentro da sala onde estivera, movido pela curiosidade, tateou a parede e achou um interruptor, que acionou. A luz forte de várias lâmpadas iluminou o espaço e verificou, aterrado, que estavam vários corpos sobre as mesas metálicas, tapados por lençóis brancos, certamente aguardando autópsia.
Que estava ali a fazer? Como fora ali parar? Parecia-lhe a morgue de um hospital, tanto a sala como o corredor cheiravam a clorofórmio, sentiu imensa náusea e tonturas.
Fechou a porta devagar e semitapado pelo lençol branco que o cobrira anteriormente, foi caminhando até deparar com uma outra porta que de repente se abriu, dando passagem a um individuo de idade algo avançada, baixo e gordo. Ele deu um grito e caiu pesadamente no chão.
Aristides ajoelhou-se, pressuroso, junto do corpo inanimado e viu, aterrorizado, que o velhote estava frio e não respirava. Devia ter morrido com o susto, pela certa.
Entrou em pânico e tentou pensar numa solução mas o cérebro continuou vazio, em abstrato.
Foi até ao fundo do corredor e abriu outra porta.
De súbito, um homem, mais jovem, apareceu de rompante, viu o corpo caído e saltando sobre Aristides, derrubou-o. Prendeu-lhe os movimentos e como se debatesse no chão, socou-o em várias partes do corpo e fê-lo perder o conhecimento.
Voltou a acordar duas horas mais tarde, com o corpo todo dorido e cheio de frio. Estava numa exígua sala que depois percebeu ser de interrogatório, numa esquadra de polícia. Continuava semi despido, apenas com o lençol a tapá-lo parcialmente.
Estava sentado numa cadeira em frente a uma mesa, do outro lado da qual estavam dois guardas, um a escrever num computador portátil e o outro com várias folhas de papel na mão.
O que segurava os papéis invetivou-o:
- Responda calmamente às perguntas que lhe vamos fazer. Em primeiro lugar, dê-nos a sua identificação completa, morada, telefone, etc. Se preferir escrever pelo seu punho nesta folha, faça favor. Depois vai explicar-nos o que fazia nu, caminhando num dos corredores do Instituto de Medicina Legal e também qual a sua responsabilidade na morte do contínuo que encontrámos caído nesse mesmo corredor.
 
 
 
 
Baseado em factos reais.
 
 
 
 
 
 
FOTO: GOOGLE






 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 08/06/2015
Código do texto: T5270353
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