DJR - 3400

Eu entendo a noite. Ela esmaga. Me esmaga. Me esmaga quando eu estou só. A noite me entende. Ela me conhece. Quando viro a esquina, ela me reconhece. Sorri pra mim. Mas a noite é cruel. É cruel quando estamos sós. Ela me apresenta uma faca. Brilhante. Meu reflexo é nítido. Nítido e turvo. Meus olhos turvos. Vermelhos olhos de dor. Vermelhos olhos de amor. Talvez vermelhos olhos de ódio. Ódio incontrolável. Quase incontrolável. Eu entendo a noite. Ela esmaga. Ela me pressiona. Eu não quero. Eu não posso. Eu posso e eu quero. A noite é convincente. Convence-me a me olhar no espelho. Meus olhos turvos. Minhas mãos tremendo. A mão que segura uma faca tremendo. A mão que afaga tremendo. Fure e faça carinho. Não. A noite não diz assim. Mate e soque. Mate, soque e esquarteje. Jogue seus pedaços ao relento. Eu observarei. Sou a noite. E te esmago quando está só. Meus olhos turvos. Meu Deus. Viro a esquina. Ela me reconhece. E sorri um sorriso cheio de dentes. Sorri um sorriso cheio de dentes brancos. Posso ver meu reflexo em seus dentes brancos. Olhos vermelhos de dor. Olhos vermelhos de amor. A noite esmaga. Sussurra. Sol? Sol? Cada vez mais perto. Incontrolável. Uma rua de diferença. Dez metros. Saio do lugar. Uma faca eu escondo. Sete metros. Tremendo. Cinco metros. Um carro. Um rosto surpreso. Um rosto surpreso que grita alguma coisa. Uma luz branca. E de repente breu...

Fernandes Carvalho
Enviado por Fernandes Carvalho em 11/06/2015
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