24 Horas de Horror - 18:00

1º de Março de 1774

Há uma infestação de ratos aqui em casa. Seres asquerosos e desprezíveis que assustam minha esposa e minhas filhas. Descobri-a semana passada e, até hoje, não consegui contê-la. Creio que logo isso irá acabar, pois hoje, de conversa com o boticário, ouvi sobre um método interessante que quero experimentar. Preciso apenas capturar um serzinho desses. Já comprei a gaiola. Vou anotar tudo nesse caderno que comprei com o dono da livraria quando eu chegar do mercado, ao por do sol.

3 de Março de 1774

Ontem não pude escrever. Estava testando diferentes tipos de ração. A melhor até agora são grãos, daqueles que o velho Birks vende. Aquele espécime preto comeu tudo o que eu pus em pouquíssimo tempo, todos os 50 grãos. Espero que ele aproveite, pois só terá uma refeição por dia.

7 de Março de 1774

Ontem teve culto. O reverendo da Igreja, Francis Daves, disse-me que devemos amar os animais, tão filhos de Deus quanto nós. Malditos estrangeiros! Duvido que, se ele fosse realmente londrino, seria tão complacente. Mas que posso fazer... Quanto ao bastardinho, já está nos 30 grãos. Reduzindo 5 por dia, em breve ele estará na penúria.

12 de março de 1774

Hoje é o último dia de grãos. Acho que ele entende isso, pois está se agitando mais a cada dia. Fica emitindo aqueles silvos esquisitinhos que só eles sabem fazer. Espero que ele pare logo. Está sendo difícil resistir a matá-lo.

15 de Março de 1774

Ele está guinchando, raivoso, desde ontem. Hoje dou fim ao sofrimento dele. Peguei outro rato, cortei em fatias e pus na gaiola. O sangue quente ainda estava grudado aos pelos negros do infeliz. O sr. Daves - nome com que apelidei-o - chegou perto, sentiu o cheiro do companheiro e se afastou, batendo os dentes. Vamos ver quanto tempo o idiotinha vai resistir.

16 de Março de 1774

E não é que o filho duma rata suja tem senso de humor? A carne do amigo morto está em um canto da gaiola; virou a fossa de dejetos dele. Limpei a gaiola e pus outro rato picado. Espero que, dessa vez, ele entenda que só vai ter isso para sobreviver.

18 de Março de 1774

Finalmente! Ele comeu! E pelo jeito que silva, quer mais... Acho que ele gosta de sangue - está com o focinho negro incrustado de sangue seco. Vou por outro picadinho de rato lá, mas, dessa vez, vou diminuir a porção. Ele terá que se acostumar com pouco.

23 de Março de 1774

É impressão minha ou os olhos dele estão avermelhados? É como se alguma faceta maligna dele tivesse ganho liberdade. Vou por o último rato morto a ele hoje, apenas a cauda. A partir de amanhã, se tudo correr como o planejado, mr. Daves será um Predador.

25 de Março de 1774

Por Júpiter! Poucas vezes vi tanta fúria reunida! Eu peguei um pequeno rato preto e pus na jaula. Tão logo ele entrou, mr. Daves rosnou assustadoramente, fazendo o novo colega de quarto tremer. Paralisado de medo, o ratinho mal conseguia se movimentar. Ora, passados alguns instantes, o recém-chegado fez um pequeno movimento em direção ao anfitrião. Não precisou mais que isso. Foi o tempo de se esboçar uma piscada e mr. Daves - meu bastardinho preferido - já estava em cima da visita, arrancando o couro com aqueles dentinhos poderosos. O sangue jorrava quente, gosmento, e ia se espalhar ao fundo da jaula enquanto guinchos de pavor da vítima iam diminuindo até encontrarem o silêncio absoluto.

27 de Março de 1774

Gosto muito mais do meu sr. Daves. O da Igreja, que estava falando hoje, é um idiota! Bem, para anotar, pus dois ratos ao invés de apenas um hoje. Enquanto um era devorado, o outro tentava fugir entre as grades. Acabou que ele ficou preso, com uma pata e a cabeça para o lado de fora. Achei engraçado o comportamento do sr. Daves... Quando ele se virou para o segundo sacrifício, arrancou-lhe a cauda numa dentada. Confesso que quase senti pena do infeliz. O líquido rubro escorria enquanto guinchos altíssimos inundavam o sótão. Em pouco tempo, os guinchos diminuíram. O que o bastardinho fazia? Se deliciava com a cauda! Acabou rateando o pescoço do segundo alimento e foi se deitar, com a boca espumando, como se nada houvesse acontecido.

31 de Março de 1774

Sr. Daves me surpreende a cada dia. Acho que ele está pronto. Ele é capaz de matar um rato em segundos e, como se isso já não fosse bom o bastante, o serviço é feito com a maior sanguinolência possível, o que me leva a crer que os animais são realmente filhos de Deus como nós. Eles sentem bem a dor no próximo! Creio que irei soltá-lo amanhã. Farei dele o meu limpa-ratos particular.

2 de Abril de 1774

Com o cheiro de morte, putridão e a quantidade de sangue manchando o teto, creio que sr. Daves tem trabalho. Ah!, uma coisa realmente engraçada que houve: estava saindo hoje cedo para o trabalho quando ouvi os gritos da minha mais nova. Virei-me apenas para me deparar com a situação mais esquisita que já vi: havia pelo menos uns 15 ratos-pretos adultos, sem contar uns 20 filhotes, correndo em direção à porta. Eis que, então, ouço um silvo especial, que jamais vou esquecer. Fiz o que qualquer mestre, orgulhoso dos feitos de seu aprendiz, faria; após uma rápida reverência, silvei de volta com um brilho no olhar.