Esquizofrenia Parte IV

Capítulo IV

É possível ouvir o estrondo da carreta invadir a residência na esquina de uma rua de periferia. A mulher só com o tempo de socorrer os filhos, ainda de calcinha cor de pele. Os vizinhos não sabiam se acudiam ou espiavam se alguma penugem saltava para fora das vestimentas. O ser humano pode, mesmo diante do sofrimento alheio, deixar sua necessidade falar mais alto, salvo quando ele mesmo está na merda, e só consegue pensar em não sufocar com as fezes. O abrir e fechar da geladeira com cheiro de carne podre e aquele presunto seboso a dias sem consumir. Na janela a monótona paisagem cheia de merda de pássaro. O vizinho escuta música evangélica alta, porque parece que todo evangélico é surdo e ficam gritando uns para os outros e fodendo com a vida de quem não é evangélico. Claro que eles sacaneiam os outros, e mesmo assim gostam de dizer que são puros e filhos de Deus, como se isso justificasse as merdas que fazem.

A velha se oferece como uma puta que ainda está na ativa, com aquele camisolão preto. O que não revela é o marido que aparece querendo participar da foda. Um anão com pelos grisalhos.

— Não vou foder com você, amigão.

A mulher se transforma na hora da trepada e parece seu corpo todo entrar na própria boceta, ficando só uma vagina com pernas. Havia esquecido de mencionar que as pernas ficaram de fora. Tipo um grilo ou outro bicho de pernas compridas. Uma coisa horrorosa. Como foder com aquilo? A primeira pergunta seria:

— Onde eu vim me meter? — Meter realmente era o problema em questão.

Dizem que pra todo pé torto existe um chinelo velho. Mas que alguns merecem andar descalços, isso é fato. Outros já deveriam usar uma boa bota em terreno repleto de serpentes. O bote é certeiro na canela. Aquela picada vampírica. Dois buraquinhos e você já era. O veneno te leva para o além e não adianta apelar. O mato cresce na cara do sujeito feito grama que precisa ser podada de tempos em tempos, como ocorre em outras partes. As mulheres, habituadas com a ditadura da depilação, sabem como é. Certa vez, ao entrar em uma casa dessas de damas de respeito, havia uma mulher sentada, com as pernas arreganhadas e uma boceta cabeluda, que não era brincadeira. Imaginei que poderia fazer um baseado com aqueles pelos e ficar bolado de boceta. Muitas vezes podemos pensar cada coisa que até Deus duvida. Embora digam que Ele sabe a respeito de tudo. Pela descrição o Camarada parece aqueles aposentados que ficam vendo televisão o dia todo.Fica só monitorando a programação, já sabem o que vai acontecer, mas assistem a mesma novela dez vezes e continuam rindo daquela mesma piada sem graça. Foi mesmo aquele filósofo alemão que disse que a gente é tão bosta que é o único ser que consegue rir. Rir é a prova da nossa condição desgraçada.

Pessoas dizem que gostam mais dos animais do que de outras pessoas. Ficam naqueles lojas pets que viraram moda, comprando roupinhas pra cachorro e só faltam dar o cu pro próprio cãozinho. Tem uns que fazem isso mesmo. O bicho pelo menos não pede explicações a respeito das coisas que fazemos, só pede comida e de vez em quando apronta alguma coisinha, que se fosse um filho valia uma surra, mas nos bichinhos as pessoas acham fofo. Fora aqueles malditos poodles que graças ao Schopenhauer viraram modas entre os que se consideram chiques. Bicho dos diabos que vive trezentos anos. Ficam cegos, podres, capengando e andando por aí. Se juntar todos dá pra fazer uma filme de zumbis. Latido fino e gênio dos diabos. Ficam dentro de casa por serem pequenos e com isso se acham os donos da propriedade. Mas os desgraçados nem pagam imposto e nem trabalham para ajudar a família. Mundo do cão. A pessoa vende o almoço para ter o que comer na janta. Ainda tem esses gatos empolados com cara de magnata. Você sabe que a pessoa tem um bichano em casa pela condição da mobília. Vai você chegar bêbado e sentar sujo na poltrona.

Sujeito outro dia mesmo, com aquele dor de barriga do inferno, sem lugar para soltar o barro. Adentrou um boteco de manhã cedo, quando o estabelecimento ainda está se refazendo do dia anterior e foi logo pro banheiro. Demorou lá dentro e o dono do estabelecimento já esmurrava a porta imaginando que para logo cedo estar ali e pelo tempo, deveria estar fazendo alguma merda. Só não imaginou que a merda era tanta. O cara querendo cagar, não achando privada, usou o mictório. Limpou-se com a cueca. Ao sair agradeceu o dono do lugar e nunca mais nem passou na frente da birosca. Caso de caganeira é igual fofoca, todo mundo tem um para contar. Que se utilizem essas bandeiras nacionais para limpar o rabo de cada cidadão que sentir apuros. Crime contra a pátria é o caralho. Eles fodem com a gente e a gente tem que ter o direito de pelo menos cagar de volta. Deve ser bom limpar a bunda com uma bela bandeira, tecido macio e cores vibrantes. Aquela expressão de paciente quando está no hospital, onde se perde toda a dignidade. A gente tem pudor de andar sem camisa e no hospital andamos com camisolão e bunda de fora. Vem sempre um enfermeiro querer te dar banho. Meter a mão nas suas partes. Pra eles é como lavar o pau de um cachorro. Que se fodam, eles, posso levantar a perna e urinar na cara desses vermes. O lance do cachorro quente é justamente a salsicha. O molho é apenas opcional. Tem alguns que possuem aquelas fantasias de filme pornô barato, com enfermeiras desfilando em trajes minúsculos. Mas o máximo que vai ver é uma tiazona com o traje não cabendo nela e com mãos de estivador, querendo arrancar seu couro com cara de quem odeia o serviço que faz. Recebem mal e são tratadas como lixo por médicos que se acham os fodas, mas que não sabem nem receitar a porra de um medicamento simples.

Aparência é tudo em uma sociedade sem essência. Essas essências guardadas em vidrinhos, comercializadas para esconder o aroma de suor que sai do sovaco ou aquele cheiro de bunda após ficar o dia todo com a mesma cueca ou a mesma calcinha. Não adianta andar sem roupa de baixo, porque o fedor de rabo vai pra calça, bermuda ou qualquer outra coisa que tape o traseiro. Você pode sentir nas costuras o aroma de suro de rabo. A merda faz parte da nossa essência. Não adianta ver aquelas modelos anoréxicas e nem aqueles atores marombados se exibindo com cara de quem não caga. É uma verdade da nossa natureza. Precisamos colocar pra fora a merda. Por mais que o banheiro seja chique, a classe vai por água abaixo na hora que a bosta faz o barulho do impacto de encontro a água. Sobe aquela água respingando no rabo e se for em local público a preocupação de ali ter resíduo de outras pessoas. Como se em casa não houvesse. Alguns tem tara nisso e gostam de se lambuzar no cocô e no xixi do outro. Escatologia que a igreja conhece e gosta, usa até como termo ritual. É possível prever que o tal Apocalipse não passa de uma cada homérica. O evento do Big Bang foi aquele que a gente chama de jogar merda no ventilador, fazendo voar pra todos os lados. Aprenda sobre sanitários e saberá a respeito de todo esse lance de ordem cósmica, carma, lance de religião e coisa e tal. Banheiro de boteco então é um laboratório e tanto. A dica é aprender mais com a privada do que com a vida privada.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 25/07/2015
Código do texto: T5322999
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