A Sobrevivente
 
            - Segurem-se todos, vamos cair!
            O pequeno avião balançava de um lado a outro e a fumaça que saía abundante do motor denunciava a tragédia. Rita Lara, cantora sertaneja famosa, voltava do seu último show e em desespero, juntamente com o namorado Maurício e o empresário Castilho. Transpiravam e gritavam diante do inevitável.
            - Mayday! Mayday! – Gritava o piloto Antero em pânico.
            - Pessoal, segurem-se! Não vai dar...
            O ronco do avião seria ensurdecedor para quem se encontrasse embaixo. As copas das árvores entre aquela sucessão de montanhas da Serra do Mar já eram quase tocadas pelo trem de pouso.
            - Não vejo uma clareira! Não vejo nada! – Pensava Antero tentando salvar o que fosse possível...
            Em um último esforço, puxou o manche tentando escapar de um pico logo à frente que era pura massa de pedra. O avião perdeu uma das rodas com o impacto e desestabilizou balançando ainda mais. Os 3 passageiros gritaram apavorados. Eram seus últimos momentos antes da queda iminente.
            Após aquela ousada manobra viu um pequeno riacho entre as montanhas com algum espaço...
            - Vai ter que ser aqui! – Pensou inclinando o bico do avião para tentar um pouso ainda que o avião se rebelasse.
            Rita Lara pensou em sua mãe. Segurou fortemente a mão de Maurício que se mantinha como podia pressionando o banco de Castilho à sua frente. Olhou para Rita Lara despedindo-se com um sorriso forçado tentando demonstrar uma força que sabia não mais possuir. A aproximação do solo, tendo as árvores por perto era uma sensação terrível. Rita Lara não viu nem ouviu mais nada. Somente aquele baque de metal contra pedras e sentiu o impacto contra o banco do piloto desfalecendo...
            Ela não sabe quanto tempo ficou desacordada. Havia um silêncio terrível. Seus ossos e músculos falavam que fora dura a queda, mas sentia-se inteira. Usando toda a sua força recostou-se no banco. Onde estavam os 3 companheiros? Por que a haviam deixado sozinha ali dentro? Havia sinal de sangue por todo o lado e o vidro estava quebrado com galhas entrando na cabine. No entanto, não havia sinal de nenhum deles. Em pânico, gritou por socorro. Somente ouviu o som do riacho abaixo da aeronave e aquele estalar de folhas e galhos batendo uns contra os outros pelo vento.
            Passou a conferir se tinha algum sangramento ou fratura. Apesar da dor muscular generalizada, tivera grande sorte. Não se encontrava nem sangrando e nem ferida. Usando toda sua força, bateu na porta ao lado do namorado. Tentava abri-la de todas as maneiras e não teve sucesso.
            - Gente, cadê vocês? – Gritou desesperadamente. Não obtendo resposta, forçou novamente até que viu que poderia se arrastar pela frente e, tendo cuidado com os cacos de vidro, conseguisse sair. Desceu atabalhoadamente e caiu ao solo estatelando-se no mato e na lama. Suja, cansada e solitária, começou a chorar como o único recurso que possuía. Caminhou em volta da aeronave, ao perceber que somente chorando não teria resultado e não viu sinal dos companheiros. Nesse momento encheu-se de raiva, principalmente por Maurício.
            - Como puderam me deixar assim?
            Desorientada, deitou-se em uma relva após cobrir-se como pode com sua jaqueta de couro e dormiu. Acordou algum tempo depois ouvindo o barulho das hélices de um helicóptero. Era dos bombeiros e vinha sobrevoando o pequeno riacho em direção à aeronave. Ficou feliz e começou a acenar os braços como pode, apesar da dor, da solidão e do cansaço.
            Em uma clareira próxima viu-os pousando. Sem forças para alcançá-los sentou-se ao chão chorando diante da certeza de terem sido localizados. Dois bombeiros vieram correndo em sua direção. Trêmula e aflita, chorava entre alegria e a dor. Quando levantou-se diante deles viu que passaram direto sem dar-lhe a menor satisfação.
            - Quê isso? Estou aqui? – Gritou aflita.
            Somente então seus olhos se abriram para a verdade. Pode divisar os corpos do piloto e do Castilho fora do avião. Aos fundos aproximando-se como se não houvesse chão, viu o corpo de Maurício todo arrebentado e o seu com a cabeça partida por um galho.
            - É hora de ir, Rita...
            Virou-se para trás e viu Maurício sorrindo todo iluminado como aquele ator do filme Ghost...