SAIA DA MINHA CAMA!

Eu ainda entro em pânico só em me lembrar daquela noite. Foi no verão de 96 quando eu e um grupo de meninas da Escola onde estudávamos, fomos convidadas para uma vaquejada na Fazenda Boitatá no alto sertão paraibano. Lá tudo ainda era muito rústico desde os costumes e hábitos. Na localidade não havia luz elétrica e nem água potável. Mas o lugar era limpo e arejado o que tornou a princípio a nossa estadia muito agradável. Porém, a partir das dezenove horas soava uma espécie de toque de recolher. Às dezenove e trinta todas as lamparinas eram apagadas e todos eram obrigados a estarem em seus aposentos. Naquela noite havia muitos hospedes na casa, então me acomodaram num quartinho próximo da cozinha. O quarto era pequeno e cheirava a mofo. A noite estava muito escura, não havia si quer uma fresta de luz. Pela primeira vez na vida tive medo de escuro.

Lá fora os animais pareciam muito agitados. A mistura dos sons dos uivos, sibilados, coaxados, gargarejos, assovios e mugidos parecia uma sinistra sinfonia, era como se algo estranho pairasse no ar. Apesar do calor infernal, cobri-me da cabeça aos pés. Um vento frio entrou pela fresta da janela. Trêmula, segurei firmemente o lençol. Da cozinha vinha um som resmungos e panelas batendo. De repente alguém entra no quarto arrastando a chinela até ficar parado do meu lado. Senti duas mãos frias e ossudas rastejando sobre o meu lençol até pousar no meu pescoço e tentar me estrangular. Enquanto fazia isso sussurrava ao som do vento:

- Sai da minha cama!

Num ímpeto, venci o medo e saltei da cama. Tive a impressão de que um saco de ossos havia caído no chão. Ainda tremendo, abri a janela para buscar um pouco de ar. Então eu vi um vulto branco traspassar a cerca de aveloz.

Na manha seguinte a cozinheira da casa me perguntou?

- Você dormiu no quartinho da velha Totonha?

- Não sei que é a velha Totonha.

- Ah, ela foi cozinheira daqui durante muito tempo, só que não está mais neste mundo. Nossa, ela morria de ciúmes daquele quartinho, ninguém podia entrar lá, pois ela ficava arretada da vida. Dizem que ela guardava dinheiro dentro do colchão, mas ninguém ousa mexer.

jambo
Enviado por jambo em 31/03/2016
Reeditado em 31/03/2016
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