A Criança na Estrada – Parte 1

A estrada estava deserta e era mal iluminada pela lua, minguante naquela noite de inverno. Ela se estendia quilômetros a sua frente, até onde a sua visão alcançava. Seu carro, um chevy 98 seguia a toda velocidade, porém a paisagem repetitiva dava a nítida impressão de que ele estivera parado nas últimas horas.

Entendiado ele resolveu ligar o rádio do carro. Apenas uma estação era captada e nela uma banda de rock pesado tocava com um dueto de vozes que cantava “this is the night of one thousand nightmares...”. Ele desligou o rádio. Altas horas da noite em uma estrada escura no meio do nada... ele sabia que aquela era uma noite de pesadelos e não precisava de ninguém para lhe afirmar isso.

Mais uma vez ele tentou se localizar através do GPS que acabara de instalar no carro. “Esteja em Nova York, esteja na Mongólia, com ele você irá conseguir se localizar em qualquer parte do mundo!” era o que dizia o vendedor. A vontade dele era de arrastar aquele vendedor agora pelos cabelos até aquele fim de mundo e mostrar a ele a mensagem de “No signal” no display do aparelho. Claro, apenas para melhorar a situação e não deixar o GPRS sozinho, o seu telefone celular (uma maravilha dotado de uma câmera de muitos megapixels, gigas de memória interna e um display com cores de deixar qualquer viciado de LDS com inveja) também se encontrava na mesma situação.

Eram quase meia noite. O sono batia forte, suas pálpebras começavam a pesar cada vez mais. Quando finalmente o seu corpo o convenceu a dar uma parada e descansar, seus olhos piscaram. Foi uma piscada um pouco mais prolongada do que o normal, mas quando seus olhos tornaram a abrir o seu coração acelerou com a visão de uma criança cambaleante que acabará de sair da mata e tombara na estrada a sua frente.

Por pouco, muito pouco ele não perdera o controle do carro ao frear. Ele olhou para a estrada, a criança ainda continua lá, tombada no mesmo lugar. Ele então respirou fundo... Pouco confiante ainda para sair do carro ele respirou fundo um segunda vez, e então saiu.

O ar estava gelado, a estrada deserta e os faróis do carro eram a única iluminação. Ele se aproximou do corpo da criança. Com cuidado ele a tocou; não respirava, não se movia... estava fria, morta. Com horror nos olhos ele afastou sua mão e caminhou para trás, quando escutou um choro na beira da estrada. Girando rapidamente a cabeça seus olhos encontraram com os de outra criança, idêntica a que jazia tombada aos seus pés. Esta porém estava de pé chorando no acostamento. Ele correu para próximo a criança, que se atirou aos seus braços pedindo por colo.

Conforme ele abraçava a criança, mil perguntas saltitavam pela sua cabeça. Quem eram aquelas crianças? Provavelmente irmãs gêmeas,mas o que fazia ali longe de tudo? Como a outra morreu? O que fazer com o corpo?

Quando a outra menina se acalmou, ele a levou para dentro do carro e a acomodou no banco do carona. Em seguida abriu o porta malas e o revirou até encontrar um lençol branco e o triangulo do carro. Ele então levou o corpo da jovem que jazia morta até o acostamento da estrada e o cobriu com um lençol. Em seguida sinalizou o local com o triangulo.

Voltando para dentro do carro, ele encontrou a outra criança dormindo. Passando mão por sua testa ele pode sentir com o tato a febre que a consumia. Conferiu o GPS e o celular, ambos ainda sem sinal. Olhando um velho guia de estradas ele presumiu que estivesse uns 30 km ao sul de uma cidade de nome estranho. Era preciso comunicar as autoridades sobre aquilo. Zerando o contador do carro, de modo a facilitar na futura localização do corpo, ele partiu.