o devorador de almas

Capítulo XXVIII

- Outra vez aqui amor? Não vai dormir? – Perguntou Beth ao entrar na pequena biblioteca.

- Estou sem sono. – Disse com a cara enfiada sobre um daqueles pesados livros.

- Sem sono? É essa a sua desculpa. Há três dias você está sem sono, Há três dias você não fala comigo, eu sei o quanto o seu trabalho é importante. Mas você possuí uma vida, George. Ou se esquece disso?

- Eu não me esqueci, só que preciso de um tempo. Esses últimos acontecimentos estão me afetando profundamente. Você tem de entender Beth, esse é o meu trabalho.

- Trabalho, trabalho, você só sabe falar disso, desde que foi promovido a esse maldito cargo não olha mais para mim.

- E esse maldito cargo que paga as nossas contas. – George disse aos gritos ao se levantar de sua poltrona.

Beth o fitou assustada.

- Você nunca gritou comigo em todos esses anos, eu realmente reconheço que você precisa de um tempo.

- Me desculpe, eu não queria... Eu não queria fazer isso.

- Eu te compreendendo amor. Para não correr o risco das coisas ficarem ainda piores, partirei hoje com as crianças para a casa da minha mãe.

- Você não pode levar as crianças. – George protestou, só que dessa vez em tom suave.

- Não só posso como vou. Dar-lhe-emos o seu precioso tempo, o tempo que quiser. Pense, reflita e quando chegar a uma decisão nos procure.

Ela saiu por aquela porta, logo após saiu de casa, levando os filhos e o seu coração. George sabia que estava errado, mas não demonstrou fraqueza enquanto Beth não saiu, mas assim que viu o seu carro cruzar a esquina se desmoronou em lagrimas. Toda aquela situação havia lhe deixado confuso demais, os assassinatos o assalto, era tudo obscuro demais para a sua compreensão. Ainda se recusava a aceitar o fato de que Miguel fosse o responsável por todas aquelas mortes.

Ele pode ser um assaltante filho da puta, mas assassino ele não é, Pensou outra vez.

Aquela noite foi longa, mas enfim a manhã chegou. George estava aos trapos, havia dormido muito mal aquela noite, mas não se permitiu faltar ao trabalho. Tomou um banho rápido e se dirigiu á delegacia.

O clima por lá permanecia descontraído, afinal o nome da cidade estava estampado em todas as capas dos principais jornais do país.

- Grande George. Como vai o nosso investigador preferido. – O sorriso de Frank estava radiante aquela manhã

- Estou bem.

- Só bem, não acredito. Você devia estar ótimo, supimpa, pulando de alegria.

- Por que eu estaria assim? – Questionou George.

- Porque você simplesmente desvendou um crime e ainda por cima desbancou o nosso senhor mau-humor.

- O que? Senhor mau-humor.

- O Derrick. - Disse aos sussurros.

- Ah sim. – Um breve sorriso se formou em seu rosto, mas durou pouco.

- Eu devo lhe dar os parabéns. – A voz vinha do corredor que ficava a direita de onde eles se encontravam.

- Não fiz mais do que a minha obrigação.

- Não seja modesto, George, todos nós sabemos, o quão importante é para um policial pegar um assassino, ainda mais um sujeito tão brutal como este.

- Só fiz o meu trabalho. – George acenou em sem mais palavras se dirigiu para a sua sala.

Henrique o seguiu e logo após se certificar que a porta estava trancada e que não havia ninguém os observando ele colocou o envelope sobre a mesa.

- Está ai, tudo que consegui sobre o sujeito que você falou.

- Esse material é de confiança? – Questionou George enquanto abria o envelope.

- Totalmente. – Concluiu Henrique deixando a sala.

- Ótimo. - Sussurrou George para si mesmo.

Capítulo XXVIII

Estava concentrado em sua leitura. Nunca fora um exímio leitor, mas naquele lugar o que mais lhe agradava era a biblioteca. Havia descoberto que naqueles velhos e amarrotados livros que muitas vezes eram descartados lhe serviam como uma espécie de válvula de escape para fugir daqueles fantasmas que lhe assombravam.

- Seu tempo acabou. – Ouviu uma voz que parecia distante.

- Volte para a sela. – Disse o guarda dessa vez mais perto.

Ele suspirou profundamente antes de se levantar e devolver o livro ao seu devido lugar.

Nas ultimas semanas aquela havia sido a sua rotina. Se levantar, praticar alguns exercícios, almoçar, ouvir palestras e se encaminhar até aquela biblioteca. Não havia feito amigos e nem inimigos, ficava na sua, em um canto isolado dos demais. As lembranças sobre o acontecimento sempre o assombravam a noite, o rosto ensanguentado de Joana permanecia nítido em sua mente todas as vezes que tentava fechar os olhos. Seu subconsciente lhe obrigava a voltar naquela cena, vê-la outra vez pálida e sem vida sobre os seus braços, ser acusado de mata-la, aquilo tudo havia acabado com o seu psicológico.

Depois do banho naquela noite foi transferido para uma nova cela.

- Ficará na ala dos assassinos, lá é o seu lugar. – Comentou um dos guardas que o acompanhava.

- Vamos apostar quanto ficará por lá, Regis? – Disse o outro guarda sorridente.

- Você quer mesmo comigo, sabe que já lhe derrotei por três vezes. Gosta mesmo de perder dinheiro?

- Você teve sorte por três vezes, mas dessa vez não o terá.

Falam como se eu estivesse aqui. Tomam-me por um assassino, mas como um homem pode matar alguém que ele ama tanto, Pensou em quanto caminhava em silencio.

-... Três meses ele não passa disso. – Disse o guarda sorridente.

- Três meses? Você quer mesmo me dá o seu dinheiro, esse verme não dura uma semana. - Regis disse aos risos.

A prosa continuou por mais algum tempo. Apesar de estar ali ouvindo todo aquele escarnio Miguel permanecia distante, seus pensamentos ainda permaneciam fixos naquele enigmático acontecimento. Tudo o que queria naquele momento era descobrir que fora o maldito assassino que havia ceifado a vida daquela que ele mais amava.

- Pronto esse será o seu lar a partir de agora. Acho que você nem precisa se acostumar, pois não viverá muito tempo aqui.

- Trate de durar ao menos três meses. – O guarda disse após fechar a sela.

- Não seja iludido, esse ai talvez nem dure essa noite. – Disse o Regis.

- Já pode prepara a sua grana, pois...

As vozes desapareceram na escuridão. Ao se virar para a sua nova cela Miguel entendeu o motivo de toda aquela zombaria. A cela estava enfestada de sujeitos durões e mal encarados, para onde olhasse só poderia ver gente da pior espécie. Assassinos serial estupradores, todos juntos na mesma cela. Conseguiu com muito esforço achar um cantinho no qual poderia se isolar. Caminhou de cabeça baixa, mas foi interrompido durante o percurso, por um brutamonte que aparentava ter 2 metros e algo mais.

- É melhor você não dormir essa noite, pois se dormir essa noite poderá ser a sua última.

Miguel permaneceu em silencio, continuava a fitar o piso encardido da cela.

- Estou falando com você, otário. O Negão aqui não gosta de ser ignorado.

- Você não manda em mim. – Foi à única coisa dizer.

- O que? – Questionou furioso.

- Você é surdo. Eu disse você não manda em mim.

As mãos do brutamonte deslizaram sobre a sua camiseta, foram se agarrando suavemente, deslizando sobre o pescoço e sobre o peito de Miguel que se afastou empurrando o maldito homem com toda a força que possuía.

O Mesmo afastou alguns passos para trás, logo após foi rodeado pelos comparsas que trataram de imobilizar Miguel.

- É acho que os guardas estão certos, você não passará dessa noite.

A seção de golpes se iniciou com socos e pontapés que atingiam o tórax de Miguel, o sangue vermelho rubro deixava a carne a medida que ela era pressionada pelos golpes do brutamontes.

Ele não reagiu por nenhum momento tentou se defender, esperava que aqueles golpes pudessem lhe trazer de volta aquela que ele tanto amou, talvez se todo aquele papo que ele havia de sua mãe quando criança fosse real, eles encontrariam em outra dimensão.

- Chega! – Uma voz foi ouvida.

- Mas eu não acabei. – O Brutamonte disse furioso.

- Mas eu disse que acabou!

O homem que surgiu perante a visão enfraquecida de Miguel não era nem de longe o que ele esperava ser, em meio a todos aqueles grandalhões, um pequeno e magricelo homem surgia lhe estendendo a mão.

- Precisamos conversar.

JH Ferreira
Enviado por JH Ferreira em 15/05/2016
Código do texto: T5636613
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