A Criança Na Estrada - Parte 3

O dia transcorria sem maiores incidentes. A paisagem monótona se repetia curva após curva. Por várias vezes ele tentou iniciar uma conversa com sua acompanhante, sem sucesso. Tentativa após tentativa e nem o nome dela ele conseguira descobrir. No final acabou se conformando com a companhia do rádio e sua única estação.

Estranho, ele agora notava, que essa estação tocava músicas ininterruptamente. Não havia nenhuma pausa para o anunciantes, nem mesmo para anunciar o nome da rádio e de qual cidade era. Se bem que, depois de tudo esse era apenas mais um dos mistérios daquela viagem.

Pouco após o meio dia ele parou o carro para descansar e procurar mais algo para comer. Ainda haviam algumas barras de fibras e chá que foram rapidamente devorados. Ele os ofereceu a menina que mais uma vez os recusou. Ainda seria o trauma? Seu silêncio era terrível. Seus hábitos peculiares demais, porem como poderia ele se chatear com ela? Ele pensara muito naquele dia de que se não fosse sua acompanhante ele não teria forças para continuar aquela viagem.

Olhando ao redor, ele viu que havia um pequeno lago no lado esquerdo da estrada. Sentando-se em um tronco próximo a margem ele se pôs a olha as águas calmas enquanto se perguntava onde diabos era aquele lugar. Nisso, seus pensamentos dispersos pela exuberante paisagem foram reagrupados por uma mão que havia acabado de pousar em seu ombro, seguida por outra, que o acariciava no rosto. Era a menina. Ela se sentou ao seu lado e o abraçou.

Seu abraço era quente e lhe trazia paz. Uma paz que a muito ele não sentia. Um sentimento identificável que transbordava em sua alma. Assim eles permaneceram por vários minutos até que a menina o soltou e, olhando para seu relógio, viu que já era hora de retomar a viagem.

Ele se levantou e sentiu uma pequena vertigem. Era o cansaço. Uma noite em uma cama resolveria isso. ” Calma”. Ele dizia a si mesmo. “Você precisa continuar, nem que seja por ela”.

Minutos depois, a viagem prosseguia. Quilômetros passavam e eles não viam qualquer sinal de um posto, hotel, cidade, nada! A situação que já estava preocupante, começava a piorar, pois a gasolina do veículo se esgotaria muito em breve.

Em determinado momento, o motorista deu uma olhada rápida para sua passageira e a notou com um ar diferente em seu olhar. Ele não sabia dizer o que. Era algo em sua fisionomia... Bem... Ela continuava a ser uma menina, uma adolescente, mas agora ela transpirava um ar mais mulher, mais adulta, mais fêmea... Loucura, a febre o acometia. Alucinações, era isso!

O sol se esvaia, quando o carro começou a tossir... uma, duas, várias vezes... até que finalmente parou. Era o fim, a gasolina havia se esgotado. O noite mal começava e ele e sua acompanhante agora estavam perdidos no meio do nada e sem carro. Uma rápida conferida o mapa, afinal a esperança é a última que morre. A julgar pelos acidentes geográficos da região era quase certo de que eles estavam a no máximo meio dia de viagem de um posto a oeste.

Nisso veio a vertigem... Ele se apoiou no carro. Seria loucura continuar a viagem a pé a noite naquele estado! Arrumando os bancos do carro, ele se ajeitou e “deitou” (ou o que seria mais próximo de faze-lo dentro do carro). A menina, sempre silenciosa, se ajeitou ao seu lado e o abraçou. Assim ambos dormiram, juntos, por mais uma noite...