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O menino crescia, tinha um viço incomparável, em meio ao bairro simples que morava, se destacava bela beleza lustrosa da pele branca e dos olhos de um preto profundo. A mãe, uma mulher com seus trinta e poucos se orgulhava da cria, fruto de um relacionamento sofrido com um homem muito ruim.

O menino completou 15 anos, era um rapazinho franzino, mas com uma seriedade que impunha respeito onde ia, a voz doce dele embalava os sonhos de muitas meninas dali, ele tinha algo de especial. Quando chegou aos 18 anos, ele era de uma beleza estonteante, muitas mulheres mais velhas o procuravam, algumas ricas e casadas, queriam o pequeno como amante, ele sorria de um jeito estranho sempre que recebia tais propostas, como se fosse dono de um segredo muito grande e que tudo aquilo não passasse de uma piada infame.

Conseguiu emprego em uma empresa, trabalhava na área de recursos humanos, inicialmente como estagiário, fazia curso de administração em uma faculdade publica e depois de um tempo, antes mesmo de sua formatura, já estava efetivado e prestes a ser promovido, pois sua competência garantia lucros insondáveis aquela empresa. Logo que conseguiu um salário razoável, mudou com sua mãe para um lugar melhor, pagava com suor as prestações da casa, e a mãe, também ajudava com seu emprego publico.

A mãe, que nunca estranhara o fato de não conhecer namorada alguma de seu filho, perguntou sobre a moça que o vira conversando certo dia, ficara assustada com as roupas ostensivas da moça, que trazia um casaco adornado com bordados sofisticados e jóias que ofuscavam a vista, era linda, mas estranha. Ele disse ser apenas uma amiga.

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-Não me venha com desculpas, sabe qual o preço! Sempre soube, desde o inicio!

-Apesar de eu ser rica, este preço acho alto demais!

-Não me venha com bobagens, acha mesmo que ele te deu isto e vai aceitar apenas estas ofertas mesquinhas? Ele quer vidas! Muitas! Encontre mais crianças e traga-as para nós!

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Chegou tarde da noite, na bolsa trazia suas vestes e os punhais do sacrifício, gostava de sua posição de ajudante, ainda que faltassem muitos degraus para subir até uma patente mais alta, gostava de estar perto, vendo o seu Senhor ceifar vidas inocente, afinal, já tinha dado sua alma, e agora esperava apenas as recompensas, que vinham pouco a pouco.

A moça, que agora povoava seus sonhos, era uma filhinha de papai que tinha tudo, e na busca de mais poder entrara na Seita, mas não aceitava sua obrigação de trazer o sacrifício , pois tinha irmãs mais novas e sentia culpa ao trazer crianças para serem mortas. Ele sabia desde o inicio, que quando ela dissesse: “não quero mais, não posso mais fazer isto” seria o momento, que ja se prepara, de oferecer a vida da moça no altar, teria um prazer imenso em ver o sangue daquela criatura escorrendo! Como odiava aquela moça que via sempre com as melhores roupas indo em direção a sua escolhinha luxuosa! Como odiava o jeito que ela mexia nos cabelos! Tinha nojo daquela pele lisa e bem tratada!

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-Não consigo! Esta alem de minhas forças!

Sorriu com ironia, chegara o momento. Estapeou o rosto dela com força, um filete de sangue escorreu pelo canto dos lábios.Quando ela ia gritar o pano com formol já estava em sua boca.

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Sentado, próximo do que restara no altar sorria, aquela carne tinha sido a matéria que constituía um corpo perfeito, agora, era um defunto nojento, uma oferta ao Mal, um nada, algo morto que caminhava rumo à putrefação. A noite de orgia que vinha a seguir dos rituais teria um sabor diferente, sabor de maldade e prazer, pois fecharia os negros olhos quando, em gozo, gemesse e imaginaria fazendo amor com ela, sua odiada moça, que odiara com a mesma força que a amara!

Sibila Dyan
Enviado por Sibila Dyan em 02/08/2007
Reeditado em 15/12/2015
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