Alma de Sangue

De rosto coberto pelos farrapos de pano, enxergo através dos pequenos furos do tecido. Sim! Ahh, sim! Vejo a morte. És bela, veste-se do manto de cadáveres.

De joelho estou perante de ti morte. O que farás? sei o por quê dessa foice. Há muito sangue em ti. Há de me ceifar, nunca fui bom. Em minhas loucuras presencias-te meus atos.

Gosto de como sorri para mim. És admiradora de meu labor, sei disso. Pensas que não a vi quando matei crianças e violei mulheres? Agora estou diante de ti para que me leve.

Vê este homem ao meu lado? É meu executor. Não demorará para que desça seu machado sobre minha cabeça. Poderei, finalmente, abraçar as almas que extirpei. Creio, porém, que correrão de mim como correram em vida.

"O machado desce. A cabeça de um assassino rola no tablado. Sangue jorra de sua glote. O povo aplaude a execução. Há uma fúnebre escuridão"

Pensei haver vida após o decesso. Não, não há! Há apenas meus pensamentos. Sinto-me cego, surdo, mudo e imóvel. Não há nome para tamanha angústia. Perto de mim está a insanidade, quando ela chegar sequer poderei eu gritar.