TRILOGIA SUICIDA - Pt. II - O Silêncio
Quando o silêncio lhe consome, você senta, deita ou morre, você se contenta, aceita ou corre, corre para longe, para onde o vazio não chegou, o sentimento de não ser ouvido, não lhe parece um tanto prazeroso, o falar sozinho se torna um hábito natural, tão repetitivo que você se sente mal, incomoda seus pensamentos, incomoda seu dia à dia, suas tarefas se tornam cansativas, tudo parece distante, a insônia, o medo, a ansiedade e a depressão se tornam seus melhores amigos, e por puro sentimento de pânico, eles se tornam humanoides deformados, cada um com um aspecto diferente. As vezes você escuta barulhos vindo de sua própria mente, cada vez mais alto, cada vez mais incomodo, você grita de desespero, e para abafar os gritos, você bate a cabeça na parede cada vez com mais força, até sangrar, mas sente que nada nada daquilo funciona, então num ato de desespero, fura os dois ouvidos com um palito, ficando surdo. E num momento de absoluto silêncio, as vozes agora parecem vir de dentro da sua cabeça, mais alto e mais alto, e você só vê uma saída, começar a gritar e gritar, mas sabendo que não há possibilidade de ouvir a própria voz, corre para o banheiro, pega uma lâmina e deitado em uma banheira fria, corta os pulsos e vê sua vida se esvaindo pelo ralo, grandes manchas de sangue seguem ralo abaixo. Tudo começa a ficar distante o frio se aproxima com mais arrepios e mesmo assim, as vozes continuam, e nada que se faça, elas não desaparecem.
Num susto, você acorda em sua cama, descobre que foi tudo um pesadelo. Você levanta, vai ao banheiro e vê manchas apagadas de sangue dentro da banheira, olha para seus pulsos e vê cortes profundos, e num desespero, sai correndo e pela porta do quarto, você volta para dentro de casa ainda, apavorado começa a gritar cada vez com mais força e mais força, e se lembra que quando estava dormindo, ouvira exatamente esses gritos e desespero.
Não há vida, pesadelo ou morte quando o silêncio lhe consome, ou você senta, deita ou morre...