A PRIMEIRA NOITE DE TERROR

Era uma noite sombria. Nuvens negras pairavam no céu sem estrelas. Uma brisa gelada soprava, balançando as folhas das árvores, transformando as luzes dos postes em sombras estranhas desenhadas nos muros e calçadas. Um estranho sentimento começou a brotar em meu peito, para logo em seguida, como um animal voraz, espalhar-se pelo meu corpo, dominando-me rapidamente.

Com toda aquela cena mórbida e com a sensibilidade a flor da pele, ouvi passos vindo ao longe, comecei a caminhar mais rápido, sem ousar olhar... Mas para meu desespero os passos aumentaram automaticamente, poderia ser qualquer coisa. Um ladrão? Um assassino? Um serial killer... Mas foi num relance de coragem que, subitamente, parei para rapidamente olhar para traz, e para minha decepção, não havia ninguém, apenas eu e a brisa soprando papéis e folhas secas. Por alguns instantes fiquei olhando, apenas esperando por algum sinal de vida. Após alguns minutos comecei a seguir meu destino. Aquele sentimento de perseguição ainda soluçava em meu interior, olhei algumas vezes para traz, bem rapidamente, tentando surpreendê-lo, mas depois da Quinta vez decidi ignorar aquela sensação e segui num misto de opressão e tranqüilidade.

Após algumas quadras, cheguei ao meu novo emprego. Era o primeiro dia no museu da cidade, e, além disso, minha primeira experiência como vigilante noturno. Subi as grandes escadas lentamente, apreciando o grande edifício. A cor da escada de grandes degraus imitava o mármore, nas duas extremidades uma espécie de mureta da mesma cor, tendo no final duas gárgulas com feições terríveis – é como acreditavam os antigos, mas em algo eles se enganaram, além de manter os espíritos malignos longe, mantém as pessoas mal informadas também -, por alguns instantes fiquei contemplando, com um sentimento de ser observado pelas obras. De repente, as estatuas ganharam vida e começaram a caminhar em minha direção. Tentei correr. Mas acabei paralisado pelo medo, minhas pernas não obedeciam, o desespero cada vez mais dominava meu ser, ainda mais observando aqueles seres até então inanimados, se aproximando lentamente, e, quando eles estavam prestes a agarrar em meu pescoço, a porta se abriu mostrando que precisava de uma graxa nas drobadiças. O barulho ecoou pela noite escura.

- Boa noite – disse a mulher educadamente, continuou – O senhor deve ser o novo vigia... –a mulher franzina, de cabelos longos e olhos profundamente negros. Por alguns instantes, ficou ali parada apenas observando o homem que dividia sua atenção com a mulher e as duas estátuas – Senhor? – disse ela - Sente-se bem?

Se aproximou do homem que mal a percebera tão próxima e quando tocou em seu ombro, ele assustou e instintivamente deu um pequeno pulo para traz. Ela olhou para o homem, meneou a cabeça e após um sorriso contrariado, completou – Sente-se bem senhor? O toque da mulher havia trazido Edgar a vida real, mas ainda, em seu interior sentia-se observado pelo montes de pedra amontoados – Hã? O que a senhora disse? – perguntou ele como desperto de um sonho. A mulher sorriu gentilmente e respondeu – Sou a gerente do museu – estendeu a mão – Prazer. Senhor... – Edgar – respondeu ele com certa excitação – a mulher por alguns instantes olhou o homem de cima abaixo e acrescentou desaparecendo na escuridão do interior do museu – Siga-me por favor... mas, espero que seja mais sensato do que acabara de mostrar... siga-me.

Edgar por alguns instantes ficou observando a mulher sendo tragada pelas trevas do museu, para em seguida, acompanhá-la a certa distância – O senhor faz idéia da fortuna que existe entre estas paredes – perguntou a mulher com certo ar de superioridade – Não senhora – respondeu ele humildemente, completou após uma pequena pausa – mas devem ser caros... A mulher olhou para o rapaz e completou – Caros e raros... sem mencionar no teor histórico...

O casal caminhava, a certa distância um do outro. Edgar começou a acreditar que fora uma má idéia Ter ficado com o trabalho. Eles caminhavam por uma espécie de corredor enorme. Edgar constatou que era ali que colocavam os quadros. Haviam poucos no local, mas os poucos que haviam, traziam em suas faces algo a mais do que simples tinta. – Parecem vivos! – pensou Edgar; surpreso com os pensamentos, continuou debochando de si próprio – que loucura Edgar?! Deixe de bobeira! São apenas quadros... - Ao lado de cada quadro uma tocha, iluminando funebremente as faces das pessoas imortalizadas, um dos quadros em particular, chamou a atenção do novo vigilante. Sua moldura era feita de mogno, era bem escura, mas o que mais chamou a atenção foi as inscrições que constavam ali, por instantes descobriu-se a imaginar seu significado, acariciando as incrustações na madeira, sem qualquer idéia do mistério, começou a contemplar a pintura. Eram cinco árvores mortas, terrivelmente organizadas em forma de pentagrama. O solo era arenoso com grandes pedras negras, envolvendo as árvores em uma espécie de anel, o céu era terrivelmente negro, e passava uma sensação de tempestade de raios. Sem chuva. O quadro até então parecia apenas uma obra de um maluco por bruxaria, mas, foi num golpe de vista que divisou o caule das árvores. – Formas humanas?! – pensou ele num murmúrio mental. Ele se aproximou e constatou que não era apenas uma forma humana, mas várias e de idades variadas. Havia crianças esculpidas, com feições tão terríveis que mal pôde prestar atenção ao seu redor, a mulher se aproximava lentamente. Edgar, com um sentimento agonizante nas faces meneou a cabeça desconsolado, e fixou os olhos para uma das gravuras mórbidas. Era uma criança ajoelhada, com as mãos unidas, olhava para o céu, nos olhos e nos lábios, era claro demais, um sentimento de dor intenso – Será que suas almas também estão presas... – pensou Edgar.

- Este é um dos mais caros – disse a mulher que se postara atrás do homem. Ele se assustou e ela continuou – e um dos mais misteriosos... Mas o mais intrigante neste quadro – fez uma pequena pausa enquanto acariciava a moldura, continuou - , é a forma que veio parar aqui... dizem... É o que dizem... passou de família a família, como uma maldição... – Edgar olhou para a mulher surpreso, que sorriu gentilmente, ela continuou – geralmente as pessoas que frequentam museus, conhecem muitas obras e o que dizem sobre esta é algo... – ela estala os dedos procurando a palavra correta, mas, apenas sorri, continua cética – medonho e absurdo... dizem que foi pintada pelo próprio senhor das trevas... A mulher começou a sorrir com certo desdém, mas percebeu que a história havia incomodado aquele homem de certa forma – São apenas lendas... – disse ela perplexa com o estado de Edgar. Ele estava com os olhos arregalados, sua respiração era baixa demais, quase inaudível – Você está bem? – perguntou ela segurando nos ombros de Edgar. Ele a olhou e respondeu, com a voz meio tremula – Sim... – olhou para os lados e completou – pelo menos até agora as coisas parecem bem...

A mulher olhando para a reação de Edgar, se afastou lentamente, e logo disse – Posso arrumar outro vigilante se assim desejar, não é obrigado... e, não deveria Ter contado a histórias, mas são apenas lendas e nada mais. – Não! – respondeu Edgar prontamente – Preciso do trabalho, apenas fiquei impressionado com este quadro, ele é tétrico demais, acho que poderia acreditar que realmente foi uma força a mais a criar tal tela... ele consegue exprimir os sentimentos... é isso o que é, uma poesia que pode sentir e ver... – “E existe mais entre o céu e a terra que a nossa vã filosofia pode acatar”. – Disse o homem – Shakespeare?! – disse a mulher com certa surpresa. Continuaram a caminhar pelo corredor iluminado pelas tochas.

Após alguns passos chegaram a uma imensa sala. Edgar deduziu que seria a sala de controle do museu. Muitos computadores conectados a câmeras distribuídas por todo estabelecimento. Ele ficou olhando ao redor, estava impressionado – Que bom – pensou ele num sorriso de alivio – pensei que teria que ficar andando por aí...¬ ¬

- Esta é a sala de controle Senhor Edgar – disse a mulher, olhando atenciosamente para alguns monitores, continuou – Daqui o senhor tem uma visão geral de tudo que acontece... apesar que – ela sorriu com certa calma – duvido muito que algo possa acontecer por aqui...

- Nunca se sabe... – murmurou Edgar sentindo-se preocupado – O que disse? – perguntou ela se aproximado – Também acho que nada pode acontecer aqui... acho...

- Bem – disse a mulher com as mãos na cintura – agora que já lhe mostrei o lugar posso partir para meu descanso – ela pegou um pedaço de papel, escreveu algo e entregou para o homem – Este é meu telefone... – ela olhou para o homem. Edgar percebeu algo de diferente nos olhos da mulher, uma frieza desconcertante, ela acrescentou – caso precise de alguma coisa... qualquer coisa – Insinuou ela saindo da sala.

Edgar olhou para o papel, e logo após, por um dos monitores, a viu passando pelo corredor. E estranhamente, aquela mulher cética e incrédula, parou de frente a uma das cameras, com um brilho lascivo nos olhos tetricamente negros. Por alguns instantes ficou olhando, para logo em seguida, para a perplexidade de Edgar, começar a acariciar seu sexo, e com a mesma mão lhe enviar um beijo. Edgar franziu o cenho como se acabasse de Ter uma alucinação, meneou a cabeça com os olhos fechados e quando voltou o olhar para aquela tela, a mulher já havia desaparecido. Ele olhou para os outros procurando pela mulher, mas, parecia Ter partido.

Sentou-se numa das cadeiras de grande encosto e começou a relaxar, com os pés sobre a mesa, olhou no relógio, eram 23:30, começou a olhar para os lados e ficou deslumbrado com a tecnologia que eles dispunham, foi então que viu num dos cantos da sala uma mesa, e sobre a mesa, um amontoado de livros. Levantou-se lentamente e sem olhar pegou o primeiro livro. Caminhou novamente para a cadeira de grande encosto, acendeu um cigarro e quando olhou para o livro o jogou longe. Olhou para o relógio e percebeu que já não era 23:30, mas sim, 23:59. Deu leves toques com a ponta dos dedos no vidro do relógio, mas de repente, o relógio do museu, com seus sinos aterrorizantes, começara a anunciar a meia noite. Edgar assustado com o barulho se levantou rapidamente, pegou o livro – Quem poderia escrever um livro com este título? – indagou ele, e colocando-o novamente em seu lugar – Meia Noite o portal entre os vivos e mortos... que título de mal gosto... – debochou ele, e continuou – É por isso que muitas pessoas não lêem... escrevem o que querem esquecer...

Edgar sentou-se na cadeira, ainda observando o relógio, imaginou que poderia Ter adormecido por alguns momentos. Geralmente, como estava procurando trabalho, dormia cedo para poder aproveitar melhor o dia. Logo esquecera do pequeno detalhe. As horas avançavam madrugada adentro, o sono começou a repousar em seus olhos, como pedras de concretos, seus olhos baixavam, e com um balançada de cabeça, os forçava a permanecerem abertos. Edgar levantou-se e após se espreguiçar foi de monitor à monitor e num relance, viu algo que... não talvez ele não vira absolutamente nada, de repente tudo era obra de sua imaginação aguçada pelo clima tétrico do museu aliado a luz daquele imenso corredor de paredes negras e tochas ardentes. Foi então que Edgar, ouviu um choramingo de uma criança. Um medo percorreu seu corpo, as veias de seu coração pareciam abraçá-lo tão forte que o órgão, se tivesse um pescoço morreria asfixiado – Calma Edgar – disse ele para si mesmo, tentando se acalmar – Você não ouviu nada, absolutamente nada... Esta sozinho... não há mais ninguém aqui além de você... – ele fez uma pausa e após engolir seco, continuou - ... e os quadros...

Edgar por alguns instantes ficou em silêncio. Esperava poder ouvir de novo o choramingo. Mas nada se ouviu. O silêncio poderia ser completo se não fosse pelo seu respirar apreensivo. Ele sentou-se novamente, o sono que outrora o preocupara agora não o incomodava, não pregaria os olhos, ficaria alerta para qualquer surpresa inusitada. Ele aos poucos voltava ao normal, todos aqueles fatos estranhos, relacionava ao clima e ao seu medo, e ninguém poderia cobrar nada dele. Museus o mantinham a distância, não gostava de observar o que pessoas mortas haviam deixado como espólio para nossas vidas, achava tudo misterioso demais... Mas desempregado a tanto tempo, com filhos e contas para saldar, não havia escolhas.

Edgar começava a se acalmar novamente, mas de repente, no mesmo corredor que passara há horas atrás, viu uma criança chorando, olhando para os lados como se procurasse a saída – Meu Deus, será que esqueceram aqui esta criança?! – Parecia algo fora de cogitação, mas Edgar sabia que coisas do tipo poderiam acontecer, mesmo não tendo uma razão sensata para explicar. Ele prontamente pegou a lanterna e correu para onde a criança estava, mas ao chegar, para sua surpresa a criança não estava – Ela estava aqui!!! Tenho certeza... – ele olhou para os lados, continuou pelo mesmo corredor, mas não encontrou nada, absolutamente nada. De repente, ouviu um rangido, focalizou a lanterna nas paredes, mas não havia nada, foi quando olhou para cima e viu o enorme candelabro, completamente apagado, balançando suavemente. Não sentia nenhum brisa, mas, lá em cima, poderia existir alguma. Não deu importância e continuou a procurar. Quando estava prestes a encerrar a busca, ouviu novamente o choramingo. Divisou e instintivamente correu para o mesmo corredor. Ele parou diante do corredor, respirou fundo e começou a caminhar lentamente. Os quadros pareciam olhar para o homem que caminhava cautelosamente, uma emoção angustiante começara a se formar em seu interior, o silêncio, a escuridão, e o estrondoso pulsar de seu coração, causava um clima misterioso de pura incerteza, foi de repente que ele parou. Olhou para os lados e percebeu que estava diante do quadro que havia chamado sua atenção, ele desviou o olhar, de todos, era o pior, mas impulsivamente se aproximou do quadro e observou e, para sua surpresa, não viu a criança ajoelhada de frente de à árvore, no lugar, um buraco negro na forma do garotinho. Edgar, espantando com a cena se distanciou lentamente, até bater em algo na outra extremidade do corredor, virou-se rapidamente e percebeu que era uma moldura, mas sem nenhum pintura – Estranho! – pensou ele – eu teria reparado num quadro vazio...¬ Por alguns instantes, ficou olhando sem qualquer sentimento para o quadro vazio, até que de repente, no final do corredor a criança surgiu.

Não havia medo em seus olhos, ao contrário, existia um brilho perverso, seus olhos continham uma cor avermelhada, e um desejo que conhecia nos filmes de terror. O garoto apontou para Edgar, que apreciava sem nada entender, e disse numa voz distorcida e repleta de ódio – Você... Edgar prontamente começou a correr deliberadamente pelo corredor, e a criança o perseguindo com a fúria demonstrada em seus gritos desesperados.

Já sem forças, e não ouvindo os uivos da criança infernal, decidiu parar. Sem fôlego e desesperado se apoio em uma estatua, mas ao olhá-la, começou a correr novamente. A estatua tinha a face da mulher que atendeu-o há algum tempo atrás – Meu Deus! – gritou ele, correndo pelos corredores – Que espécie de lugar é este?! – De repente uma risada ecoou por todo ambiente, ele parou novamente no salão principal, e ficou olhando para os lados, pronto para qualquer ataque, de qualquer lugar, mas, ele não veio pelos lados, mas sim, por cima. O candelabro despencara de seu lugar, mas, Edgar estava apenas há alguns passos de onde caíra, ele ficou apreciando o candelabro no chão enquanto se afastava lentamente, de repente, sentiu alguém puxar-lhe a camisa. Ele fechou os olhos, puxaram novamente, e forçando seus olhos a abrir, olhou e percebera que era o garoto, mas agora com lágrimas nos olhos – Quero ir pra casa moço... tenho medo deste lugar... me leve pra casa por favor... leva? – Edgar abraçou o garoto com uma paz estranha – Claro! – respondeu ele olhando para o garoto.

Ele pegou na mão do garoto e começou a levá-lo para a saída – Como veio parar aqui rapazinho? – perguntou ele – Sempre tive vontade de conhecer o museu, mas minha mãe não tem tempo para me trazer... comecei a brincar por aí e quando tentei sair... estava tudo fechado. – No fundo estava com a razão – pensou Edgar, ele observou, na escuridão a estatua que tinha a semelhança da mulher bem próxima – Vamos por outro lugar – disse Edgar sem tirar os olhos da estatua – Não tenha medo moço... aqueles que foram não podem lhe fazer mal... – disse o garotinho calmamente. Aquele comentário despertou no segurança uma sensação estranha, ele olhou curiosamente para o garoto que retribuiu o olhar com um carinho especial – Está com frio? – perguntou Edgar educadamente – Não estou... – respondeu o garoto – Mas sua mão está gelada... – ele se olharam novamente – Vamos voltar pelo mesmo caminho.

Os dois continuaram caminhando pelo corredor, Edgar forçando acreditar olhou para a estatua e percebeu que não era o rosto da mulher do museu que estava ali, mas apenas, o rosto delicado e bem formado de Palas Atenas. Suspirou aliviado e continuou caminhando, agora com mais segurança de si mesmo, aos poucos o sol começara a nascer, iluminando um pouco o local, arrancando dele aquele clima soturno, mas quando se aproximou do quadro das cinco árvores em forma de pentagrama, o garoto parou abruptamente, olhou para Edgar seriamente, franzindo o cenho. Edgar começou a se afastar lentamente, pois o brilho negro nos olhos do garoto surgiu novamente, um sorriso satânico desprendeu-se, e uma voz cavernosa saiu da boca do garoto – Obrigado por trazer-me de volta ao lar, como agradecimento, lhe deixei a mesma marca que carrego em minha mão – ele estendeu a palma da mão exibindo um pentagrama feito com ferro em brasa. Edgar como, psicologicamente, sentiu uma pontada na mão, e receoso, olhou para ela, e percebeu que estava com a marca, o garoto continuou – Agora estamos unidos... uma alma... um único corpo – Edgar ajoelhou-se no chão e suas lágrimas começaram a rolar, e ao olhar para frente percebeu pernas bem formadas paradas diantes de seus olhos – Levante-se – ordenou a voz aveludada e suave. Sem muita delongas, ele levantou-se prontamente, a mulher continuou com certa sensualidade – Você não deveria estar aqui... o que aconteceu – a gerente do museu vestia um longo vestido negro, com um decote que colocava em evidência as curvas fartas de seus seios bem torneados – Havia uma criança... – respondeu Edgar olhando para o quadro sem acreditar. A mulher instintivamente, forçou o indicador no peito de Edgar até encostá-lo na parede – Não invente histórias... sabe que as pessoas não gostam muito de museus – comentou a mulher lambendo os próprios lábios. Edgar atraído pelo brilho sedutor nos olhos da mulher, não disse mais nada enquanto sentia seu dedo passeando pelo seu peito, abrindo, botão por botão de sua camisa.

A mulher parecia estar possuída por uma força selvagem, pois de um instante, segurou a camisa de Edgar e a rasgou, expondo todo seu peito. Ela contemplou por momentos e com as mãos bem abertas começou a acariciar, lentamente, enquanto seus olhos se encontravam. Os lábios começaram a se encontrar loucamente, nada mais que havia passado na noite anterior parecia incomodar, apenas o fato da mulher o beijar tão ardentemente. Estranhamente, a mulher parou de beijá-lo, e com um brilho insaciável, ao mesmo tempo, infernal, começou a descer lentamente para a cintura do segurança que a deixou livre para tudo que desejasse, mas... de repente... o céu que julgava estar tornou-se inferno...

Edgar sentia a mulher acariciando seu sexo, seus olhos estavam fechados, sentia por completo as carícias libertinas da gerente, foi então que, olhando para o quadro, percebeu que o garoto sorria terrivelmente no quadro, ele olhou para baixo e para sua surpresa.... A mulher estava completamente desfigurada, parecia um demônio. Num impulso desesperado, Edgar começou a gritar, tentava sair correndo mas algo prendia suas pernas, o ser olhava nos olhos de Edgar sem parar de fazer o que estava fazendo, e para seu desespero, percebeu que pelo canto da boca começou a vazar sangue, especulou que era o seu próprio, aos poucos foi perdendo as forças, suas vistas começaram a escurecer lentamente, os olhos pensando, um sono terrível aflorando em seus olhos, de repente o sol acabara de nascer por completo e nada mais viu...

As portas do museu se abriram religiosamente as 09:00. A gerente estava compenetrada em sua sala lendo alguns contratos importantes que precisam de seu aval para se consumarem. De repente o interfone tocou:

- Senhora Dias? – perguntou a voz.

- Sim pode falar Gabriela – respondeu a gerente sem desviar os olhos dos papéis.

- Tem uma mulher aqui fora que precisa falar com a senhora – respondeu a secretária.

- Não vou atender ninguém Gabriela – respondeu a mulher com certa autoridade, continuou ainda mais ríspida – tenho que ler uma série de documen....

Mas antes da gerente acabar a frase, uma mulher de mais ou menos 35 anos entrou em sua sala, com um garotinho que choramingava em seus braços – Mas o que significa isso? – perguntou a gerente tirando o óculos – Não irei tomar seu tempo por muito tempo... – disse a mulher estendendo a palma da mão para a gerente, continuou – ontem meu marido, Edgar... – a gerente sentou-se e voltou a atenção para os papéis. A mulher com a criança ficou observando a falta de caráter daquela mulher esnobe, se aproximou num momento de raiva e tomou os papéis da mulher e continuou – Escute aqui minha senhora, não vim aqui para ser tratada desta forma, quero apenas uma resposta e nada mais, meu mar... – a gerente se levantou, e com as mãos apoiadas na mesa começou a falar duramente – Escute aqui você senhorita. Saiba que também fiquei esperando este tal Edgar, mas não apareceu... – a mulher de Edgar sentou-se perplexa, a gerente continuou – Mas isso não lhe dá o direito de vir aqui e gritar comigo desta forma... tenho muitos problemas para resolver, não tenho culpa se teu marido disse que estaria num lugar e não está.... – a gerente caminhou até a porta e a abriu e disse – Agora que respondi sua pergunta... por favor, deixe-me em paz... A mulher de Edgar saiu envergonhada da sala que fora humilhada. Suas lágrimas rolavam pelas suas faces, começou a caminhar pelo enorme correr que agora tinha as tochas completamente extintas, foi num instante que a mulher passou diante do quadro que continha as árvores em forma de pentagrama, ela se virou para apreciar o quadro, deixando a criança olhando para o outro quadro na outra extremidade, num gesto inocente, a criança estendeu o braço e disse – Papai... – Papai... papai – resmungou a mulher retomando o caminho – seu pai meu filho deve Ter caído na noitada isso sim... aposto que deve estar em casa, e como o conheço é capaz de pintar um quadro para provar que não estava na gandaia por aí... ah ele vai ver....

adriano villa
Enviado por adriano villa em 13/08/2007
Código do texto: T604822
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