O Vale Sombrio

A casa até que era bonita, mas todas as infelicidades ainda moravam lá, moravam e por vezes deslizavam por baixo das portas espalhando frio e medo pelo vale, daí eu sentia dores na cabeça e o corpo latejava com a síndrome.

Suas janelas lembravam grandes olhos direcionados ao riacho, pareciam antever o futuro das correntezas que levavam de tudo para outros lugares em suas águas barrentas, por vezes levavam até mesmo as alegrias. Ali às margens morava uma família de capivaras, gostava de vê-las passeando à noite pelas estradinhas. Isso era bom.

Em 1935 via-se apenas cinco casas contruidas no vale, mas com o tempo muitas pessoas chegavam e iam ficando por lá, e apesar da aglomeração imposta por elas, ainda era um bom lugar pra se viver. E tinha outra coisa muito boa: vistas do vale as estrelas brilhantes pareciam enormes.

Diziam os moradores que a casa tinha passsagens secretas e que ao adentra-la passávamos como fantasmas pelas paredes indo parar em lugares estranhos. A lareira sempre apagada soltava fumaça pela chaminé.

O casal que lá morava havia desaparecido durante uma noite de tempestade, era o que se ouvia falar. A mulher fora encontrada alguns anos depois, porém, desmemoriada. O homem nunca mais fora visto. O que se sabia também é que tinham sido felizes durante um longo tempo e depois de algumas décadas desentendiam-se quase todos os dias e constantemente um mandava o outro ir para o inferno. Acho que ele foi o primeiro a ir, afinal, como se diz, as palavras têm uma força imensurável. E por fim, acho que elas transformaram aquele vale no próprio inferno.

Corina Sátiro
Enviado por Corina Sátiro em 08/08/2017
Reeditado em 09/08/2017
Código do texto: T6077769
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