MARIA ANGULA, A BRUXA DO SÉCULO xxl - CLTS 01

Tudo começou bem assim:

No século XX havia um “cara" muito sinistro... Ele dizia em suas canções que havia nascido há dez mil anos atrás...

-Você acha graça?

O pior é que coisas macabras, realmente aconteceram e continuam acontecendo até hoje. Nos arredores de Pirapora, MG, uma velha muito estranha, com cabelos grisalhos e esguedelhados pela cara abaixo, com seus 65 anos, apareceu grávida...

Filho de Boto não era... por que naquela região ninguém nunca ouvira falar de Boto.

Ninguém sabia a origem da velha, apenas a tratavam com o apelido de Matilda.

Sua barriga estava enorme e crescia estupendamente...

Todos do lugarejo comentavam sobre o fato intrigante... místico

Numa gélida manhã acinzentada, aconteceu o que ninguém previa...

Apenas ouviram urros vindos da floresta, onde os moradores buscavam lenha para atiçar suas fornalhas e cozinhar a caça do dia.

Todos ficaram boquiabertos ao ouvirem os urros, que chegavam a estremecer. Apenas um rapaz corajoso que tomou posse de seu alforje de caçador, dirigiu-se até o local. Na expectativa de encontrar um bicho estranho...

Mas sua surpresa foi tremenda!

Lá estava ela ... Matilda! Com uma terrível fisionomia... Branca como a Neve, pois acabara de dar à luz a uma menina. Era a criatura mais horripilante que alguém poderia ter visto um misto de Curupira com Lobisomem.

Já nascera com a boca escancarada e cheia de dentes...

Suas unhas eram enormes. Se fosse a dez mil anos atrás seria jogada imediatamente na fogueira.

Com o passar do tempo todos começaram a chamar aquela menina gigantesca de “Maria Angula”, porque segundo o que sabiam este nome pertencia a uma mulher ensandecida, que fora uma criança má. O mato cresceu ao redor de sua casa, o tempo passou a correr.

Matilda, na verdade era uma feiticeira má!

Seus antepassados jogaram-lhe como sentença ter uma filha “BruxescaCurupirasome”!

Isto é, não saberia definir o gênero. Sua mãe não sabia se ela era homem ou mulher, isto ficaria para ser decidido, depois que a Glória Perez terminasse a novela.

Maria Angula não era bem aceita pelas colegas, ninguém queria brincar com ela...

Com aquelas unhas enormes, aquele cheiro terrível de enxofre, o olhar fosco, que às vezes parecia uma lanterna. Aquela bocarra, aqueles dentes para fora, causava pânico em qualquer vivente, até os animais saiam correndo ao vê-la. Os cães ladravam estranhamente. A única que de certa forma, parecia cordial lhe oferecendo um lanche era Sara. As outras meninas corriam de medo.

Maria Angula que em sua vida passada fora tão má, fofoqueira, causadora de desordem por onde andasse. Agora estava ali, parecia um “carma”. No fundo queria ser igual às outras crianças. Um turbilhão de ideias povoava sua mente. Quando adulta, seu marido pedia que cozinhasse. Não sabia fazer nada... recorria a bondosa Dona Mercedinha, sua vizinha, que com carinho lhe ensinava as receitas. Muito mal agradecida tudo o que sabia dizer ao final de cada explicação:

-Só isto! Mas isto eu já sabia! Ela desconhecia a palavra gratidão...

Parecia que vivia uma maldição de almas penadas que voltam para se vingar.

Lembrou-se de quando foi ao cemitério e desenterrou o defunto retirando-lhe o estômago. Fez conforme Dona Mercedinha havia lhe ensinado.

O pobre marido comeu sem saber que aquilo era buchada de defunto. Quanta maldade Maria Angula havia feito. Veio como um furacão os passos do defunto subindo às escadas e dizendo:

-Maria Angula, devolva o meu estômago!

-Maria Angula, devolva o meu estômago!

Maria tentou acordar o marido e foi tudo em vão...

O fantasma a perseguia... saíra como louca, vagando pelo mundo...parecia um pesadelo que jamais chegaria ao fim. Vagou pelo mundo... bebeu água da chuva...comia restos dos cães...

Quanto sofrimento! Tinha que pagar por tudo! Por ter sido uma menina desobediente... Seu destino era vagar...

Voltou à realidade e ali estavam as meninas brincando e não tinham desejo algum que ela participasse das brincadeiras.

Os meninos então...

Quando soltavam pipa, ainda deixavam Maria Angula buscar as que eles laçavam, ela tinha poderes sobrenaturais. Mal sabiam eles... Ela voava como um pássaro de fogo, soltando fogo pelas ventas...

Na escola a professora tinha receio de se aproximar de Maria Angula que tinha uma caligrafia perfeita e usava um aparelho estranho, que até falava...

Na hora do recreio a diversão da gurizada era mexer com Maria Angula,

O garoto Miguel era o líder da turma, muito fanfarrão!

Eles cantavam assim: “Boi, boi, boi da cara preta, pega a Maria Angula que não tem medo do...

E, todos saiam correndo... ela correndo atrás feito o rodamoinho do Saci-Pererê...

-Vocês me pagam!

Três dias se passaram e nada de Maria Angula aparecer...

Numa noite de lua cheia, Maria Angula pegou a vassoura de sua mãe que sempre ficava atrás da porta.

Matilda roncava feito uma suína.

Então, Maria montou na vassoura e voou...

Foi à casa de Miguel que ainda não havia dormido e começou a piscar para ele. Saia de seus olhos luzes, com efeito, estroboscópio.

Miguel sentiu-se abduzido pelo reflexo que saía dos olhos da bruxa.

Sem perceber já estava montado em sua vassoura, que os conduzia ao infinito.

Deixou Miguel na caverna dos bruxos na terceira dimensão.

Os bruxos eram canibais e num piscar de olhos, devoraram o pobre menino...

Ao amanhecer todos procuravam aflitos por Miguel. Eles observaram que entre as unhas de Bruxesca havia algo vermelho, parecido com sangue... ao perceber que as demais crianças, poderiam estar pensando que ela teria feito algo com o pobre Miguel, respondeu friamente , olhando para suas enormes e grotescas unhas, que bateu o Record no Guinness Word Records:

-Apenas resto de esmalte que a ” Mamis” passou...

-Alguém duvida? Perguntou insolentemente.

Esbranquiçados e trêmulos fizeram um gesto único, apenas sacudindo a cabeça, negativando. Os pais de Miguel ficaram inconformados com o desaparecimento do menino.

Pediram para anunciar em todos os meios de comunicação.

Até os papagaios da floresta gritavam dia e noite: Miguel, Miguel, Miguel...

A tristeza consumia a todos. Miguel era um anjo!

Excelente aluno, todos eram amigos dele, dividia seu lanche. Vamos orar e ter fé é o que nos resta, haja o que houver vamos permanecer unidos. O mal não vencerá o bem , diziam como se fosse uma homilia...

Todos suspeitavam da Bruxescacurupirasome, contudo ninguém se atrevia a dizer.

Com o passar do tempo um sentimento muito estranho começou a brotar na coisa mais horripilante que todos conheciam...

Ela passou a olhar para Luiz com muita frequência, com o mesmo olhar que seduziu o menino Miguel, porém uma coisa anormal entre bruxas lhe aconteceu: ela não conseguia dominar com o olhar, os olhos de Luiz que era apaixonado por Sara.

Ao cair da noite, olhou para o céu e avistou a gigantesca lua...

Assim que sua mãe adormeceu, ela pegou sua vassoura montou e lá se foi...

A vítima desta vez era Sara, pois viu que não exercia poderes sobre Luiz.

A aproximar-se da casa de Sara, logo começou a piscar sua luz estroboscópica, que atingiu os olhos da menina, que fora abduzida como Miguel. Ela saiu sem que ninguém percebesse.

Montou automaticamente na vassoura da bruxa que a levou como brinde!

Sentiu certo contentamento, assim estaria se vingando de Luiz, que era apaixonado por Sara. Desta vez resolveu participar do banquete dos bruxos, com suas garras arrancou o coração de Sara e o triturou vorazmente...

No outro dia, bem cedo a mãe de Sara foi à sua cama para acordá-la. Oh,

Sara! Onde está você?!

A comunidade ficou de LUTO!

Ninguém sabia do paradeiro de Sara...

Luiz ficou muito doente... deprimido pela ausência de Sara...deixou de se alimentar.

Bruxescacurupirasome compadeceu-se de Luiz e foi visitá-lo. O menino suplicou, para que a bruxa lhe contasse onde estava Sara...

Ao abrir a boca, entre os dentes da canibalesca, ele viu um pedaço de carne... deduziu o óbvio.

Num impulso começou a gritar:

-Acendam a fogueira, acendam a fogueira!

Então, foi descoberta a autoria do crime, mesmo quase sem vida, Luiz conseguiu que ela revelasse. Estando Luiz quase morto, ela lembrou-se do tempo em que todos a chamavam de “Maria Angula”. Já que iria mesmo para fogueira, abriu a barriga de Luiz com suas garras e devorou seu estômago.

Era noite de lua cheia... a fogueira acesa, Maria Angula já estava amarrada...

Todos cantaram:

Pula fogueira Maria,

Pula fogueira Curupirasome,

Você há de se queimar

Para seus crimes pagar.

Todos da aldeia ajuntaram-se e buscaram também Matilda que não poderia ficar impune.

Alguém sugeriu:

- Vamos arrancar as unhas?

-Isto mesmo!!! Ela precisa pagar todo mal que fez às criancinhas.

A mãe de Luiz sugeriu:

- Eu quero que arranquem os olhos demoníacos!

-Maldita, voltarás ao inferno!

Assim, cada um escolhia uma tortura pior do que a outra, fincaram-lhe agulhas nos pés, nas mãos, arrancaram-lhe os dentes ...

Vamos jogar Matilda na fogueira, para que veja a mãe morrer!

- Vamos lá: um... dois e... já!

Agora é sua vez, Bruxescacurupirasome, Maria Angula!

-Vai queimar, vai arder, sua bruxa malvada!!!

-Agora: 5...4...3...2..1...já!!!

Dizem lá em Pirapora, que em toda noite de lua cheia no meio da floresta misteriosamente uma fogueira se acende...

* Tema: Bruxa

Cida Rios
Enviado por Cida Rios em 02/11/2017
Reeditado em 02/11/2017
Código do texto: T6160520
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