QUANDO A NOITE CHEGAR
 
 
   O Sangue espirrou em todas as paredes, escorrendo pelo acoalho frio em volta do corpo de João. Rafael atônito tirou a faca de sua jugular e correu. Ana estava do lado de fora, próximo de uma arvore, não aguentei vê-la, não pude... enxuguei as lagrimas e corri na direção da floresta. As arvores dançavam, ao entonar da canção do vento. Eram 18h50, e o crepúsculo nascia no horizonte numa amálgama de cores Vermelho-Alaranjado.

   Não havia percebido ainda, contudo havia um nevoeiro vindo na minha direção, descendo da copa das arvores, era denso e parecia uma mostarda cinzenta. Ouvi o grito de Edson e Sarah. Estavam a cerca de dez metros de mim, próximos de um riacho. Queria não ter nascido com essa maldita coragem, que me levou até onde estavam. De longe podia ouvir estalos estridentes. Sarah parou de gritar... arrastei-me por um arbusto e consegui avista-los. Edson estava parado a frente de um deles, este era alto, usava um chapéu negro e tinha um porte monstruoso, segurava Sarah pelo pescoço até que quebrou seu pescoço. Não tive coragem de continuar a olhar.

   Estava escurecendo e sabia o que quando a noite sujasse o céu por definitivo, ele chegaria. Tentei chegar a estrada, mas logo percebi que eles me seguiam. O nevoeiro logo cobriu todo a paisagem e não tinha visão suficiente para guiar-me até a estrada. Algo ululou num tom febril e sinistro. Tampei os ouvidos, mesmo que a ameaça dos vigias fosse mortal, quando ele chegasse seria muito pior.

   Só íamos passar um final de semana, se tivéssemos ouvido aquele mendigo na estrada, ele tentou nos avisar — Quando ele chegar saberão que haverá chegado o fim... Se Edson não tivesse atirado aquela latinha de cerveja na sua cara, e se as meninas não tivessem tirado sarro dele, talvez estivéssemos vivos agora. Não tinha tempo para me esconder, precisava sair o mais rápido possível daquela floresta, antes que aquilo me encontrasse.

   Quando enfim meu relógio apitou, senti um calafrio subir das pernas até o topo da cabeça, seria meu fim, contudo, quando levantei os olhos, vi a estrada e um posto de gasolina. Algo penetrou no meu braço, olhei para o lado e havia uma lança empalando meu bíceps. Puxei meu braço e a lamina enferrujada prendeu-se na carne até que rasgou. O cara mais alto surgiu atrás de um arvoredo, segurava um facão, como aquele que o Jason usava em Sexta-feira treze. Ele aproximou-se de mim, notei que talvez poderia ganhar em agilidade. Joguei-me para o lado e escorreguei por debaixo das suas pernas, ele então jogou o facão no meu ombro, o aço atravessou minha pele, músculos e osso com total facilidade, até que se prendeu pela metade no meu ombro. Comecei a vomitar sangue, mas não desisti, juntei o restante de forças e corri na direção da rua, estava tão perto, tão perto... um carro cruzou a rua, acenei para o motorista, pedindo ajuda. O motorista observou-me inexpressivo e pisou no acelerador ignorando-me, então antes mesmo de decidir fugir novamente, algo segurou minhas pernas, e naquele exato minuto senti um cheio de carne queimada e ácido — Eu sou a noite e a morte que a conduz. Desviei o olhar para minhas pernas. Havia uma gosma escura sobre minhas pernas, uma gosma impregnada de olhos e dentes, ela devorou minhas pernas em menos de dez segundos, deste ponto em diante não tenho como descrever o que aconteceu, já agora faço parte dele, estamos todos aqui, esperando por você.
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 29/01/2018
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