MINHA IRMÃ É UMA ASSASSINA
 
 
    Coloquei-a no seu quarto logo depois de chegar bêbada em casa. Antes que o fizesse, olhei profundamente em seus olhos e pedi que não tivesse feito o que pensara. Ester soltou o revolver na sala, enquanto a erguia para leva-la ao quarto. Tentei me convencer que havia uma explicação, mas não consegui. Sua roupa tinha vestígios de sangue. Prontifiquei a palma da mão no telefone e teclei o número da polícia, imaginei eles entrando na minha casa tarde da noite, e arrastando minha irmã para dentro de uma viatura, imaginei o pânico, o constrangimento, a dor e então soltei o gancho.

    Uma semana se passou depois daquela noite. Ester desconfiava que soubesse de algo, mas não tinha certeza. Ela tentou procurar a arma do crime, mas me desfiz dela, joguei-a num lago a dois quilômetros de casa, enrolado num pano, amarrado por pedras. O corpo de Antônio foi encontrado dois dias depois num beco, dentro de um cesto de lixo, com um tiro na orbita ocular. Os legistas encontraram dentro da orelha um papel, escrito — Vá para o inferno. Eles encontraram uma digital e mesmo que tivesse esperança que não fosse ela, já tinha aceitado, infelizmente a digital era Ester, uma estudante de química da universidade da USP. Logo, criaram um caso com aquela digital e em menos dois dias, Ester já estava presa. Uma inocente.

    Procurei por minha irmã por um mês, ele tinha saído do estado e estava quase cruzando a fronteira com o Uruguai. Ester estava acompanhada de um garoto, não devia ter nem vinte anos, e pareciam ser um casal. Ester tinha pintado o cabelo e colocado lentes. Questionei abaixo de um viaduto deserto, o garoto veio para cima de mim, tinha faca cega que mal consegui manobrar, seus movimentos eram lentos e não conseguiu me acertar. Segurei-o pelo pescoço, um clássico mata leão. Ester pediu que a deixasse em paz, mas ela precisava se entregar, uma inocente estava presa por sua culpa. Não tinha notado que o garoto estava com uma segunda faca no bolso esquerdo da calça, ele tirou-a do bolso e esfaqueou minha perna. O susto seguinte fez-me entrar em choque e quebrei o pescoço dele. Ester correu, e lhe segui até derrua-la próximo de uma ponte.

      Ela me perguntava o motivo de estar fazendo aquilo. Eu havia matado alguém, mas podia alegar eu fora por legitima defesa, talvez preso por um tempo, mas Ester precisava pagar. Ela chorava se contraindo em meus braços, esperando que o garoto não estivesse morto. Ester deu um chute no meu estomago e soltei-a sem querer, ela escorregou, virou-se num ângulo de 180º graus, e caiu da ponte, a barra de segurança estava molhada e ela desequilibrou. Seu corpo acertou a água numa velocidade incrível, quando afundou, uma mancha de sangue surgiu, e espalhou envolta da onde tinha caído.

      Mal podia me levantar por conta do chute que havia avariado meu estômago e naquele momento, tê-la perdido me causou a pior de todas as dores. Comecei a chorar, soluçando. A via estava deserta, afinal estava desativada para obras. Coloquei a mão no rosto quente e naquele exato momento, lembrei-me que na noite que minha irmã chegara bêbado, fui até o escritório de Antônio, eu sabia que ele estava abusando sexualmente dela, portanto, pus uma arma no seu olho e puxei o gatilho. Ester estava num bar bebendo, tentando esquecer-se do que Antônio fizera com ela. Talvez tivesse sido pelo choque, ou por nunca ter matado alguém antes, aquilo bloqueou as memorias daquela noite.

      Tenho medo de me levantar dessa poça de água suja e enxergar outra pessoa.
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 04/02/2018
Reeditado em 04/02/2018
Código do texto: T6245131
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