Doce Belinda - CLTS 02

Minha vida foi dividida em duas partes. Antes e depois daquele telefonema. Não que eu soubesse no momento em que retirei o aparelho do gancho e levei-o ao ouvido, mas eu jamais seria a mesma a partir dali. O dia era 3 de abril de 2017, uma segunda feira ensolarada e quente. Eu acordara cedo, levara Cecília na escola e me preparava para lavar a louça do jantar da noite anterior quando o telefone tocou. Saí da cozinha e caminhei até o corredor, atendendo no terceiro toque.

-- Alô. -- Respondi. Um silêncio estranho se fez do outro lado da linha.

-- Alô. -- Repeti, pensando que fora engano.

-- Alô. Falo com a sra. Daniela Barcelos da Silva? A voz era de homem. Profunda e áspera, como se fosse a primeira vez em que falava no dia. Uma música abafada tocava ao fundo, mas eu não conseguia identificar de qual gênero.

-- Sim, exatamente. -- Respondi, pensando se tratar de algum cobrador. O serviço de vendedora de pastel na feira local não estava rendendo muito, portanto eu não podia dizer que era a melhor pagadora do bairro. Na verdade, todo o lucro que recebia era convertido em alimentos para Cecília. Ela era a coisa mais importante naqueles dias.

--Ótimo. -- ouvi barulho de papéis sendo remexidos na pausa que se seguiu. O homem pigarreou.

--Você confirma ser filha de Roberto Agnaldo da Silva? Aquela pergunta me pegou de surpresa. Nunca conhecera meu pai, e dele só sabia o nome.

--Sim, sou. -- Respondi desconfiada. Será que o velho morrera e me deixara contas para pagar?

Bom, Sra. Daniela. Eu sinto lhe informar, mas sua irmã paterna, Angelina Da Silva, faleceu nessa madrugada.

Como reagir a essa notícia? Nem mesmo sabia que tinha uma irmã paterna. De todo modo, resolvi ser educada e pelo menos tentei parecer triste ao dizer:

--Nossa, eu sinto muito. Mas obrigada por avisar. -- Imaginei que o homem devia estar surpreso com o tom neutro de minha voz. É, eu era uma péssima atriz. Se fosse boa trabalharia na Globo, e não em uma barraca de pastel.

Outra pausa. Maior, desta vez. Até mesmo verifiquei se a ligação havia caído, mas não. Esperei pacientemente, pensando nas moscas que voavam em cima da louça suja. Será que aquele homem tomaria muito meu tempo? O que mais ele poderia desejar comigo?

Quando finalmente ouvi a voz soar outra vez, um tom sério a toldava.

--Então, sra. Daniela. A sua sobrinha, Belinda da Silva, ficou órfã, como deve imaginar. Ela não tem pai vivo, e nem avós. A única parente viva que possui é a Sra.

Demorei um momento chocado para entender o que ele queria dizer. Minha irmã paterna morrera e me deixara de herança uma sobrinha. Nada de milhões, nada de mansões, só mais uma boca para alimentar. Respirei fundo. Precisava tomar conta da pobre Belinda. Imaginei minha Cecília na mesma situação, e lágrimas vieram-me aos olhos. Eu faria aquilo. Faria o que gostaria que fizessem por mim, se um dia morresse e não pudesse criar minha filha. Os detalhes foram acertados rapidamente. Descobri que minha falecida irmã vivia em um bairro vizinho, não muito longe dali. Era triste eu ficar sabendo de sua existência somente nessas circunstâncias. Combinei com o homem ( que aliás descobri ser assistente social, que buscaria Belinda no fim da tarde, no hospital onde sua mãe falecera. Só de pensar em como estaria a pobrezinha meu coração se apertava.

A ligação foi encerrada após todos os preparativos serem feitos, e eu voltei aos meus afazeres.

********

Parei o carro no estacionamento do hospital horas depois, saindo dele em seguida. Ao meu lado Cecília fez o mesmo, e assim que terminei de fechar as portas peguei em sua mãozinha e começamos a caminhar.

-- Mamãe, a prima vai ser legal? -- Ela perguntou, toda empolgada.

A pequena ficara simplesmente extasiada quando descobrira sobre Belinda. Como não tinha muitos coleguinhas de sua idade, a ideia de ter uma prima morando de baixo do mesmo teto com a qual pudesse brincar a encantava.

-- Sim, Cissa, ela vai ser legal. -- Respondi, atravessando as portas para o interior do hospital. O cheiro habitual do lugar nos recebeu, e eu olhei em volta, procurando pelo assistente social e por Belinda. O homem dissera que me encontraria ali junto com a menina, mas eu não os vi em lugar algum.

--Cissa, senta ali que eu vou procurar sua prima. -- Disse, apontando para uma cadeira vazia dentre as outras, próximo a saída. Assim que ela o fez eu me encaminhei para o balcão de informações, onde uma moça loira me recebeu com um sorriso.

-- No que posso ajudar?

-- Eu to procurando minha sobrinha e um assistente social, a gente combinou de se encontrar aqui, a mãe dela morreu aqui na UTI ontem.

A atendente concordou com a cabeça, começando a digitar em um

computador. Sua testa se franziu e ela perguntou:

-- Como chamava sua irmã?

-- Angelina da Silva. -- respondi.

Os dedos dela passearam outra vez sobre o teclado antes que ela respondesse.

--deve ter algum engano, nenhuma Angelina Da Silva faleceu aqui nos últimos dias.

-- Ué! -- Exclamei, confusa. Peguei o celular do bolso e verifiquei a anotação do endereço, comparando-o depois com a localidade no GPS. Idêntico. Estava no lugar certinho.

-- Deve ter algum erro, moça. Eu to no lugar certinho. -- Falei, intrigada.

Ela concordou.

-- Vou verificar com meu superior, um segundo. -- Respondeu, falando

para uma segunda loira ao seu lado ficar no balcão enquanto ela o fazia. Guardei o celular no bolso e estava prestes a me recostar na parede para esperar quando ouvi uma voz familiar chamando:

-- Mamãe, mamãe, achei a prima! -- Um furacão de cabelos castanhos surgiu na minha frente, seguido de forma mais civilizada por uma garota de uns 10 anos com lindos olhos azuis que deduzi ser Belinda.

Suspirei aliviada.

-- Ufa, filha! Já estava começando a me desesperar. -- Comentei, olhando a procura de algum homem com cara de assistente social. Nenhum a vista. Cecília parou ao meu lado, e ambas fitamos demoradamente Belinda. Minha sobrinha não se parecia em nada comigo. Era até difícil imaginar que compartilhávamos o mesmo sangue. Minha irmã paterna devia ser realmente diferente. Toda minha família possuía cabelos castanhos e olhos escuros, e a menina era ruiva, sardenta e com um par de olhos azuis como o céu. Usava um vestido amarrotado amarelo e trazia consigo apenas uma pasta de documentos, nada de malas, mochilas ou bolsas, fato que foi observado até mesmo por Cissa, no auge de seus 6 anos.

-- Você não trouxe mala? -- Indagou, curiosa.

Belinda balançou a cabeça negativamente, mas não respondeu. Devia estar tímida.

-- Bom, vamos embora. -, eu já estou com fome. -- Falei alegremente,

tentando animar a coitadinha. -- Vocês querem comer no Mac Donald's?

Como eu esperava, Cecília gritou imediatamente que sim, chamando atenção de algumas pessoas que estavam por perto, mas o mesmo não aconteceu com Belinda. Minha sobrinha só balançou a cabeça negativamente, encolhendo os ombros. Aquilo me surpreendeu. Que tipo de criança não gostava de comer no Mac Donald's?

"O tipo de criança que acabara de perder a mãe", minha consciência respondeu.

Envergonhada, apenas toquei no ombro da garota, segurando Cecília pela outra mão e conduzindo-as até a saída.

A volta para casa foi Tranquila. No banco da frente, eu prestava

atenção na estrada enquanto ouvia partes da conversa das meninas. Quer dizer, da conversa que Cecília mantinha consigo mesma. Belinda ainda não pronunciara nenhuma palavra, apenas fitava a prima, parecendo interessada no que esta tinha a dizer. E como qualquer criança de 6 anos, Cissa tinha muito a dizer. Contou todo o caminho sobre suas bonecas, seus colegas na escola e seus programas preferidos na televisão. Já estava enjoada de ouvir sobre o clube das Wincks quando finalmente estacionei na rua de casa.

******

Os dias que se seguiram foram aparentemente comuns. Cecília continuou frequentando a escola e Belinda passava a maior parte do tempo no sofá, de frente para a televisão. Descobri que a pobrezinha era muda, coisa que o assistente social não contara pelo telefone. E que assistente social desnaturado. Nem mesmo ligara para saber como Belinda estava se saindo na casa nova. Coisa do governo, nem me surpreendia. Fiquei triste ao saber que teria de esperar até as férias de julho para matriculá-la no colégio, já que as vagas estavam excedidas.

Não era bom para uma menina tão jovem passar o dia inteiro em casa, trancafiada e vendo televisão. E o mais estranho era que ela não assistia a desenhos ou seriados, só demonstrava interesse em novelas, jornais e coisas adultas do gênero. De qualquer forma, não a impedi de assistir o que quisesse. Tudo parecia se encaminhar a normalidade, até a sexta feira do dia 14/04/2017.

Lembro que fazia quase duas semanas desde que recebera Belinda em casa. Estávamos eu, minha filha e ela sentadas a mesa, comendo bolo de fubá e tomando suco de laranja. A janela estava aberta, e mosquitos adentravam a cozinha juntamente com a brisa do fim de tarde. Eu não prestava muita atenção nas tagarelices de Cecília, estava mesmo era pensando no quanto seria difícil me livrar daqueles pernilongos mais tarde. Provavelmente teria de dar um pulinho no mercado e comprar um durma bem para expulsá-los .

De repente, uma frase me atraiu para a conversa.

-- Belinda, eu fiz o que você disse hoje na escola. -- Falou minha filha. Como assim ela havia feito o que Belinda dissera? A menina era muda e Cecília não sabia ler. Como elas haviam se comunicado?

uma expressão estranha toldou o olhar celeste de Belinda, e eu vi Cecília encolher-se na cadeira perante isto.

-- Cissa, o que você fez na escola? -- Indaguei, curiosa e intrigada.

-- Nada, mamãe. -- Ela respondeu, abaixando a cabeça e fitando o prato. Olhei para Belinda. A garota comia tranquilamente, sem parecer se dar conta do teor da conversa.

--Cecília, o que você fez na escola? -- Insisti, porque aquilo não estava me cheirando bem. Um silêncio estranho se formou enquanto eu a olhava duramente aguardando pela resposta. Apenas o som da mastigação de Belinda quebrava-o.

-- Eu botei fogo na lixeira do banheiro e fiz a Juliana queimar a mão.

Eu não podia estar ouvindo direito.

-- o quê? -- perguntei com a voz alterada, incrédula.

Os olhos de Cecília estavam cheios de lágrimas.

-- Mãe, a Belinda que mandou. -- Ela disse, desesperada.

Aquilo já era demais. Botar fogo na lixeira do colégio, fazer com que a colega se queimasse e ainda acusar a prima muda de ser a mandante?

Eu não aguentei. Levantei da cadeira, peguei-a pelo braço com brutalidade e arrastei para o quarto enquanto ela chorava e continuava a acusá-la.

Dei em Cecília uma boa coça de chinelo, a moda antiga. Não tinha dinheiro nem para botar comida na mesa, que dirá para arcar com as

consequências de uma atitude destas. Era difícil entender. Ela sempre havia sido uma menina tão meiga, tão comportada. De onde vinham essas maluquices agora?

Mal sabia que estava apenas começando. Aquilo era só a entrada do meu inferno particular.

Daquele dia em diante, Cecília se tornou cada vez pior. Quebrou seus brinquedos, respondeu os professores, deixou de fazer os deveres de casa e até mesmo de assistir televisão. E pior, sempre dava a mesma desculpa. "Mamãe, a Belinda mandou", "Mamãe, a Belinda não me deixa ver televisão." Eu já perdera as contas de quantas vezes na semana era obrigada a espancá-la. Quanto mais eu batia, mais sentia vontade de bater. O que aquela garota pensava da vida?

Na feira, as vendas iam de mal a pior. Eu não fazia nem mesmo o suficiente para o aluguel, muito menos para comida. Tudo se resumia em miojo, miojo e mais miojo.

Belinda continuava sendo a mesma menina doce e quieta, e eu sentia um carinho crescente por ela. Tão diferente da minha filha, tão boa, tão comportada. Os modos choramingões de Cecília, a mania de acusar a prima de tudo. Aquilo me dava nos nervos.

Certo dia recebi uma ligação da escola em que ela estudava, uma segunda ligação que mudaria minha vida.

-- Sra. Daniela, aqui é a Judite, a diretora do colégio que sua filha estuda. -- A voz da mulher parecia apavorada.

-- O que foi? Perguntei, com o celular em uma mão e fechando uma massa de pastel com a outra.

-- A Sra. pode vir na escola agora, por favor? É urgente.

Concordei de má vontade, desligando sem fazer mais perguntas. Terminei de preparar o pastel e o guardei em um pote, limpando as mãos em uma flanela. Os olhos azuis de Belinda me observavam de um canto da cozinha, curiosos.

-- É sua prima. -- Resmunguei.

-- Fazendo merda na escola de novo. A malditinha deve ter tacado fogo em alguma professora ou alguma coisa parecida. -- Disse irritada enquanto ia até o quarto para me trocar.

Assim que terminei, notei minha sobrinha parada na porta me olhando com expectativa.

-- O que foi, meu amor? Perguntei, fazendo carinho em sua franja ruiva.

-- Quer ir comigo?

Ela concordou, abrindo um sorriso doce que me derreteu o coração. Como era linda. "Se falasse, eu poderia mandá-la para a televisão e ganhar muito dinheiro com isso", pensei.

Minutos mais tarde adentrei a escola, seguida de perto por Belinda. Mal havia pisado no pátio frontal quando a professora de Cecília que eu conhecia apareceu em meu campo de visão, com o rosto molhado de lágrimas.

-- Vem, Daniela. Vem comigo. -- Falou desesperada, me puxando pelo braço na direção da diretoria. Eu a segui com o coração batendo forte. O que diabos essa garota havia feito agora? Quando eu pegasse essa capetinha iria dar uma surra inesquecível.

Nós atravessamos a porta e eu parei, estática. Nada havia me preparado para aquilo.

Sentada em uma cadeira, segurada pelos braços por dois homens corpulentos e com a camiseta escolar manchada de vermelho estava Cecília. Sim, minha pequena Cecília. Minha filha de apenas 6 anos, que agora me fitava com ódio, puramente ódio.

-- Você veio, né? -- Ela disse, cuspindo no chão a minha frente.

Um choro vindo do canto esquerdo do cômodo me chamou atenção e eu olhei na direção do som. Meu coração congelou. Deitada sobre 3 cadeiras rapidamente improvisadas como cama estava uma garotinha da idade de Cecília, com um pano coberto de sangue enrolado em uma das mãos.

-- O que aconteceu aqui? -- Perguntei, sem conseguir processar tudo e reunir em algo coerente.

--Eu cortei o dedo dela, mãe. Cortei fora mesmo com uma faca. -- Cissa respondeu de forma odiosa. Quis voar em seu pescoço naquele momento.

-- Como assim você cortou o dedo dela? Aonde você conseguiu faca, sua maldita? -- Minha voz estava alterada, raiva fazia o meu corpo tremer.

Os olhos de Cecília se voltaram para um ponto atrás de mim, e de uma forma que eu nunca consegui compreender ela se soltou das mãos dos homens, correndo rapidamente para Belinda.

-- Foi ela! -- Berrou enlouquecida. Foi ela que mandou, ela que me deu a faca! A diretora e os professores na sala estavam estáticos e a garotinha com o dedo cortado apenas chorava mais alto, mesclando o som as palavras de Cecília que agora segurava a prima pelo pescoço. Sem pensar, comecei a tentar afastá-la, puxando-a pelos cabelos, batendo em seu rosto. Os homens que anteriormente a seguravam saíram do transe e me ajudaram, mas nada conseguia tirar a pequena demônia de cima da minha pobre sobrinha, que começava a ficar roxa. Os professores se juntaram as tentativas alucinadas, e após muito custo finalmente conseguimos. Todos choravam. Eu, os professores, a diretora, a garotinha, Belinda, e até mesmo Cecília. Todos estávamos apavorados, abalados.

Minha filha era a que mais chorava. De um jeito que quase, quase me deu dó, ela berrava, jogando a culpa sobre a prima como sempre.

-- Mãe, mãezinha, acredita! Pedia. A Belinda me obrigou, mamãe, me obrigou!

Eu me afastei de seus braços pedintes, agarrando fortemente Belinda, a doce Belinda. A coitadinha tremia.

-- Você é um demônio, Cecília. Um demônio. -- Falei.

A diretora pediu a uma empregada que trouxesse água com açúcar, e todos nos acalmamos após alguns goles.

-- Como você deve imaginar, Daniela, nós não podemos mais aceitar sua filha aqui. -- O assunto que eu temia foi iniciado por uma das professoras. Agora eu teria que aguentar aquela menina amaldiçoada dentro de casa 24 horas por dia. Ela tiraria a paz, tiraria os momentos doces que eu tinha com minha adorada Belinda. Sem outras opções, aceitei o que ela dizia e Me levantei, pedindo desculpas por tudo o que minha filha causara. Passei meu telefone para que a mãe da garotinha ferida entrasse em contato para acertar os gastos que teria com os cuidados da filha e me retirei para casa. Todo o caminho enquanto dirigia só pensava em uma coisa. No castigo que daria a Cecília por ter tentado estrangular Belinda.

Mal pisei dentro de casa, a peguei pelos cabelos. Belinda parecia saber de meus planos, pois me seguia com um sorriso satisfeito.

-- Cala essa boca de merda, sua demônia. -- Gritei para Cecília quando os berros começaram. Eu gritei isso para meu anjinho. Meu pequeno anjinho que agora estava indefeso, deitado sobre a mesa da cozinha e completamente nu. Como eu não percebi naquele momento? Como não percebi o olhar alegre que Belinda lançava para a cena? Eram os olhos de um demônio, eram olhos do mal.

Com uma faca em punho, me aproximei de minha filha. As lembranças daquele dia são confusas, mas sei que a primeira coisa que fiz foi cortar sua língua fora. Eu a queria muda, para que ela soubesse como isso era terrível. Para que soubesse o quão ruim era não poder falar e ser acusada de coisas tão feias. Eu estava fora de mim.

A segunda ação foi furar cada um de seus olhinhos. A terceira, esfaquear sua barriguinha repetidas vezes. Eu estava assassinando um anjo. Destrocei mais seu corpinho, insatisfeita em apenas vê-la morta. Eu queria vê-la despedaçada, destruída.

Com um olhar azul gélido, minha sobrinha observava tudo tranquilamente, sem mover um músculo. Eu sentia toda minha força, minha vontade se perder naqueles olhos. Eu me sentia morrer naqueles olhos. Era preciso fazer... Fazer tudo o que ela mandava. Ouvia agora sua voz, dentro de mim. Ouvia-a doce, melosa, rastejante.

Sabe o que significa Belinda, Daniela? -- A linda voz perguntou.

-- balancei a cabeça que não, enquanto destroçava agora o rostinho de minha filha.

-- Significa serpente. Eu sou a serpente, Daniela. E vou te arrastar

para o inferno.

Tema: Família, lembranças

Triz Fernandez
Enviado por Triz Fernandez em 20/02/2018
Reeditado em 20/02/2018
Código do texto: T6258950
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