Medo certeiro

Desde que se deu por gente era a avó que estava a seu lado. Dos pais tinha apenas uma vaga lembrança nada de muito marcante. As historias engraçadas e peculiares quem lhe contava era a avó, ela foi quem o criou e dele cuidou a vida toda, uma devoção que somente uma pessoa lúcida e muito trabalhadeira como a avó Ana teria.

E assim Aloísio seguiu sua vida de órfão sempre muito atencioso e cuidadoso com sua avó, mas o destino cheio de truques inesperados fez com que Aloísio tivesse a saúde debilitada. Era de se esperar que o neto fosse forte e a avó fraca, mas era justamente o contrario que ocorria, eram febres constantes, dores de garganta, uma rinite que não tinha fim, pedras nos rins e uma serie de doenças que desafiavam os doutores mais antigos e experientes do vilarejo. A coisa virou uma piada entre os familiares, e mesmo Aloísio se impressionava com a saúde da avó, sempre muito ativa, lépida, cheia de energia, pronta a fazer os melhores pratos os mais suculentos e vitaminados para tira-lo da cama.

Porem com o passar dos anos a vida acaba por cobrar o seu quinhão. Quando Aloísio tinha por volta dos seus quase trinta a avó se mostrou resfriada, como todas as vezes ela nem deu atenção era algo que "logo iria passar". Mas não passou, o resfriado parecia bem pior depois de alguns dias e a senhora foi praticamente convencida a ficar de cama, não queria ceder a doença.

-Aloísio, por favor não fique assim!

Aloísio, plantou-se ao lado da avó, ficava de vigília atento a toda necessidade que ela poderia ter.

-Ah! meu neto querido como me dói olhar para você assim!

Foi sua vez de levar-lhe as sopas e fazer os chás medicinais. Na cozinha sozinho no meio da noite reparava nos detalhes pequenos que faziam parte de sua vida, como os panos de prato bordados e as xícaras pintadas.Entrava nas cenas em sua mente, ora uma lagoa com patos, ora uma casa ao luar, como aquelas imagens estavam gravadas em seu coração...o leve pensamento de que ele poderia perder a vovó Ana fazia-o tremer de medo e angustia.

-Aloísio...

Acordou no sofá, para sua surpresa com bom humor, olhou pela janela da sala e viu que o sol brilhava. Levantou cheio de preguiça e confiante foi ver como estava a avó, pelo que tudo indicava ela deveria estar ótima neste dia fresco e luminoso.

Suas esperanças ficaram suspensas ao ver que no corredor, estavam pessoas circunspetas, um tio, o vizinho e a esposa um homem desconhecido mais a frente que fechavam a visão do quarto.

Com o coração transbordando de angustia, foi andando no meio das pessoas alheio a tudo, pronto a ver aquilo que mais temia em toda sua vida...a avó Ana sem vida.

Aloísio porem petrificou-se ao ver a avó ao lado da cama, chorando a morte do neto. Na cama jazia seu corpo sem vida.

Jose de Assis Carvalho
Enviado por Jose de Assis Carvalho em 01/03/2018
Código do texto: T6268283
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.