São os Loucos Anos 20
Parte III
 
“Uma noite extraordinária, sem dúvidas!” – concordou o pai da noiva enquanto apertava com seu vigor habitual a mão de um dos muitos convidados que enchiam a mansão, cada um deles escolhido a dedo dentre a mais nobre elite do país, alguns vindos de longe para prestigiar o noivado dos filhos de duas das famílias mais ricas e poderosas, naquela que prometia ser uma noite inesquecível.

A mansão estava totalmente iluminada. Os talheres de prata, as taças de cristal e o jogo de louça com as iniciais das famílias que se uniam gravadas em letras douradas e encomendado especialmente para a ocasião estavam postos à mesa.

Tapeçarias finas cobriam o chão de mármore, champanhe borbulhava nas taças das senhoras e uísque dançava entre as pedras de gelo nos copos dos senhores. Caviar, lagosta, camarões, bombons finos e tortas de frutas feitas pela melhor boulangerie da cidade eram servidos à vontade. Até os criados vestiam uniformes novos, impecavelmente brancos e desenhados especialmente para aquela ocasião.

Nina havia planejado cuidadosamente cada detalhe daquela noite, inclusive o noivo. Uma escolha pensada e devidamente calculada dentre tantos pretendentes que lhe faziam a corte, e que atendia perfeitamente aos planos que tinha traçado para si mesma.

Inácio Giafrani era neto de fazendeiros e filho de um importante político, mas, apesar de ter crescido em meio à riqueza e luxo, não era como os outros de sua espécie. Leitor voraz, era um intelectual apesar de contar apenas 25 anos. Tinha estudado direito na melhor universidade do país, era fluente em tantas línguas quanto a noiva e, apesar disso tudo, tinha bom humor.

Nina sabia que ela também tinha sido para ele uma escolha pensada. Com seus planos de graduar-se mestre na Universidade de Coimbra, queria uma esposa capaz de acompanhá-lo com desenvoltura no meio acadêmico e, dentre a fina-flor da sociedade, ninguém poderia desempenhar o papel com mais maestria do que ela.

Seria um casamento sem a paixão arrebatadora dos amantes e por isso mesmo tinha tudo para dar certo. As famílias ficaram em êxtase quando os jovens anunciaram o noivado. Nada poderia agradar mais ao pai da noiva e nada poderia ser mais interessante para o pai do noivo.

O jantar foi servido no jardim. Os convidados puderam dançar a noite toda ao som da melhor banda de jazz do país. No enorme hall de entrada uma fortuna em presentes se acumulava. Dezenas de caixas elegantes contendo cristais, louças, tapetes, garrafas de vinhos caros e até iguarias raras, uma grande mostra de tudo que era belo e de bom gosto e que demonstrava que os ricos convidados não haviam medido esforços para agradar aos noivos e, mais ainda, aos pais dos noivos.

A festa de noivado teve a elegância suave que caracterizava Nina e Inácio. Ela em um lindo vestido Chanel de seda azul clara, trazido de Paris para a ocasião e ajustado diretamente em seu corpo, combinando perfeitamente com o conjunto de colar e brincos de pérolas que fôra um presente da mãe, um ícone da moda naquele momento. Seus cabelos haviam sido escovados até reluzir, seus olhos brilhavam de orgulho e seu sorriso de dentes perfeitamente brancos expressava toda a sua felicidade.

Ele em um magnifico terno italiano de três peças e corte perfeito. Sobre a camisa azul a gravata em azul mais escuro, tom sobre tom. Os cabelos negros e cacheados penteados para trás, seus olhos vivos, negros e inteligentes.
 
Na hora de receber a aliança, até mesmo Nina ficou surpresa com o Cartier de ouro branco com um enorme diamante incrustado. Magnífico.

A noite havia sido perfeita e as colunas sociais comentariam o acontecimento por vários dias. Outras noivas copiariam sua festa, seu vestido, sua maquiagem, mas poucas poderiam ter um anel como o que ela agora trazia no dedo anular.

Os últimos convidados deixaram a mansão ao raiar do dia. Nina se despediu do noivo com um beijo casto. Estava exausta pelas emoções do noite e por todo trabalho que tinha tido para que a festa fosse perfeita.

Despiu-se com calma. O vestido deslizou por seu corpo languido e pousou aos seus pés, então vestindo apenas sua própria pele, ela deitou-se entre os lençois de seda procurando por um sono que veio rápido.

 
(continua)
 
Fefa Rodrigues
Enviado por Fefa Rodrigues em 20/03/2018
Reeditado em 05/04/2018
Código do texto: T6285624
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