Fogo-fátuo

Wesley Pereira é ladrão há muitos anos. Ele não gosta do seu nome, prefere seu apelido que o acompanha desde a infância: Bracinho. Quase uma vida inteira de crimes. Bracinho era clínica geral como ele gostava de dizer. Roubo, assalto, bater carteiras, arrombar casas, vender drogas, etc. Qualquer coisa ele fazia. Já tinha sido preso muitas vezes, mas não havia jeito, Bracinho seria ladrão para o resto da vida.

Bracinho acha que já está velho para continuar nessa vida, sente que seu o corpo não é mais o mesmo, de vez em quando aparecem umas palpitações, umas dores de cabeça. Acontece que sempre surgia uma oportunidade e assim Bracinho vai seguindo em sua vida de bandido. E foi o que houve daquela vez.

Enquanto ganhava uns trocados fazendo um pequeno trabalho de limpeza em um cemitério Bracinho presenciou um sepultamento. Vislumbrou ali uma oportunidade. Era um enterro de gente de grana. Alguém ia ser enterrado em um mausoléu. Ele viu que pessoas bem vestidas estavam ali, aproximou-se discretamente e pode ver pelo vidro do caixão que vestiram o morto com uma bela roupa. Quem sabe esse cara não foi enterrado com um cordão caro ou um relógio de estimação?

Quando a noite chegou Bracinho resolveu ir conferir se o seu palpite estava certo. Esperou não haver mais movimento algum nas ruas que cercavam o cemitério e pulou o muro. Esse era um tipo de roubo que ele nunca havia feito antes, mas sempre havia uma primeira vez para tudo ...

Já passava da meia-noite quando Bracinho adentrou o cemitério. Era uma noite fria, mais fria que o normal ele diria. As sepulturas ao redor tinham um aspecto lúgubre e um vento cortante parecia assoviar em seu ouvido. Era melhor terminar logo o que viera fazer e dar o fora dali.

Rapidamente ele achou o mausoléu. Era todo em mármore com um brasão no alto escrito “Bittencourt”, sobrenome de gente rica pensou Bracinho. Com um pé- de cabra e uma marreta de dois quilos, emborrachada para não fazer barulho, forçou a porta do mausoléu e conseguiu entrar. Acendeu uma pequena lanterna para se orientar melhor e de imediato divisou o caixão que procurava.

Era seu dia de sorte! Enterraram o defunto com uma pulseira e um cordão que ele juraria que eram de ouro. Afinal, porque iriam enterrar um cara rico com joias de bijuteria? Sim, eram de ouro e pronto.

Bracinho estava se preparando para sair do cemitério quando de uma sepultura próxima parece vir um barulho que soa como um estalo. Bracinho assusta-se e tenta controlar um medo que teima em se insinuar em sua alma. Que barulho foi esse? Meu Deus, o que foi isso? Um frio de medo percorre sua espinha dorsal. Sua respiração fica pesada e difícil. Bracinho rapidamente apressa o passo afastando-se do lugar. “Não foi nada, não foi nada”, fica repetindo mentalmente para si mesmo. Ainda assim arrisca dar uma olhada para trás e o que vê parece congelar seu coração: uma luz azulada flutua por entre as sepulturas aproximando dele. Uma luz que flutua assumindo várias formas e que parece procurar por ele ...

- Meu Deus, me ajude! – Bracinho ainda consegue pronunciar isso antes de começar a correr.

Suas pernas se atrapalham durante a corrida. Bracinho cai, levanta e continua a correr e cada vez que olha para trás a luz está mais próxima. Seu coração bate descompassadamente. A luz está quase em cima dele ...

O dia amanheceu e Bracinho foi encontrado morto por cima de uma sepultura. Todos ficaram muito chocados quando viram a expressão de profundo horror que dominava seu rosto.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 15/04/2018
Reeditado em 15/04/2018
Código do texto: T6308924
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