Notas Sobre Sangue

-Que sol maravilhoso.

Disse a senhora Debord, uma velha moradora da Vila nova, um bairro de classe média muito sossegado. Todos os dias ela fazia a mesma jornada, logo pela manhã saia pra passear com seu pequeno maltês. Hoje não era diferente, saiu pra dar a volta diária pela vizinhança, dar uma olhada em como seguia a vida dos vizinhos. Tudo parecia esta exatamente igual, foi quando seu cão saiu correndo em direção a uma pequena reserva florestal, que havia ao redor da vila.

-Luf, Luf. Volte aqui. –gritava à senhora corpulenta para que o cão voltasse.

Nenhuma palavra dita adiantou. O animal embrenhou se na mata, ela desesperada seguiu adentro também. Os galhos incomodavam, batiam em suas pernas e machucavam bastante. Irritada com o animal, por fazê-la passar por isso, ao se aproximar, conjurou uma praga.

-Eu espero que você tenha se Fe...

Não conseguiu completar a frase, estava horrorizada com o que virá. O cão estava em cima de um corpo. Era provável pelo tamanho que fosse uma criança, mas não daria pra identificar mais do que isso. Tinha sido estraçalhado por algum ser horrendo. Logo depois de recuperar fôlego, ela correu, gritou o mais alto que pode e esqueceu o cão junto ao cadáver.

De um bairro pacato, para o lugar mais movimentado da cidade da noite para o dia, polícia, imprensa e curiosos estavam espalhados por todos os lados. Os moradores que ali viviam, estavam devastados com o crime e prestaram solidariedade à família do garoto em suas portas. Apenas uma casa não havia sinal de vida do lado de fora. O número 75 era como qualquer outra casa padrão da vila, mas por dentro naquele momento, estavam acontecendo coisas que ninguém poderia imaginar. No banheiro do andar de cima, um jovem rapaz de aparente Dezoito anos, estava completamente ensanguentado.

- Ele matou a criança. Isso será uma catástrofe, será que você não percebe? –ecoa a voz grossa e austera de um homem mais velho, no fim do corredor.

-Ele é nosso filho. Não consigo pensar em entregá-lo para aqueles monstros. – A voz era de uma mulher loira já com seus quarenta anos, desesperada.

- O conselho irá descobrir, se souberem que não o entregamos, vamos todos morrer. Talvez agora, eles o deixe em prisão eterna. –o homem tentava conversar a esposa que era a melhor saída para salvar as suas vidas e dos outros filhos.

Anne se jogou de joelhos no chão. Sua família foi acometida pela desgraça, nada poderia ser feito para reverter aquilo. O marido já estava a fazer a ligação quando ela decidiu e ver o filho. Aproximou-se da banheira em que o jovem ensanguentado estava em aparente transe.

-Filho. – Ela disse com uma voz calma de mãe acolhedora.

O rapaz não teve reação alguma a sua voz. Era de conhecimento de toda vizinhança, que ainda menino Joffrey foi diagnosticado com esquizofrenia, mas nunca em momento algum de sua vida até então, causou algum mal a uma abelha sequer.

-Eu avisei o conselho. Eles estão a caminho. –As palavras do marido soaram como uma facada em seu coração.

Alguns minutos depois a campainha soa. Anne olha apreensiva para o marido, sabia exatamente quem estava na porta.

-Vá para o quarto com as crianças. Eu atenderei. –disse ele.

Desceu a escada e abriu a porta. Estavam à sua frente dois homens altos. O primeiro era o mais forte, pele negra, cabelos curtos e olhos amarelados. Usavam os dois roupas similares, camisa vinho, com um blazer cinza escuro.

-Senhor Edward Cannis? –perguntou o primeiro homem.

-Sim, ele mesmo.

-Sou Fox e esse é meu parceiro Linner. Somos agentes do Conselho Tribuno. Viemos buscar o rapaz.

Com uma dor que talvez ninguém imagine o tamanho, ele os levou até a sala.

-Vocês não vão machucá-lo?

-Não se preocupe. Vamos levá-lo para investigação. O conselho de ministros é que dará a sentença. Onde ele está?

O senhor Cannis subiu com eles até o corredor.

-Ele está calmo, na banheira. Não disse uma palavra desde que chegou.

O homem de olhos amarelos se aproximou da porta do banheiro, mas não deu tempo de olhar muita coisa, de dentro saiu o rapaz em forma de um grande lobisomem, empurrou o agente Fox na parede e correu em direção seu pai. O Sr Linner rapidamente ergueu a mão, em direção ao lobisomem e desferiu um feitiço com seu anel, que estava no dedo indicador.

-Impediendum. –gritou Linner.

Jofrey caiu no chão paralisado. O agente Linner apontava o anel para ele com um olhar fixo, enquanto Fox se aproximou, levantou a mão e sem precisar dizer uma palavra fez surgir correntes, que algemaram os pés e as mãos do lobisomem. As lágrimas caíram dos olhos de Edward Cannis, ver seu filho primogênito sendo levado com toda a certeza para o beco da morte, não era uma imagem fácil para nenhum pai aguentar.

-Soltem o meu filho!

Sr. Fox ouviu, mas antes de perceber, a senhora Anne havia se transfigurado. Tentou virar para usar o anel, mas foi pego de surpresa. Com um forte ataque de suas garras, Anne decepou o braço do bruxo.

-Anne nãooo. – Edward deu um grito desesperador.

Em fração de segundo de reação, enquanto seu parceiro caia de joelhos no chão consternado com a dor, Linner dispara um feitiço que joga Anne na parede do fim do corredor. Foi seu último golpe. Para proteger a esposa, Cannis se transfigurou e deu uma fatal mordida em Linner, que separou de imediato pescoço e cabeça do resto do corpo. O corredor agora era banhado de sangue. Fox ainda vivo, tenta alcançar o seu braço decepado para pegar o anel, quando viu o Sr. Cannis como um gigantesco Lobisomem se aproximando.

-Seu maldito animal. Por isso que os Vampiros os odeiam.

Foram as últimas palavras ditas por ele, com uma mordida brutal Cannis estraçalhou sua cabeça. Se antes a desgraça sobre sua família era grande, agora era um trágico fim para toda sua linhagem. Destransfigurou-se de imediato, indo ajudar sua mulher que ainda estava tonta do golpe sofrido. Ao ver os corpos no chão, o filho caído acorrentado e o marido sujo de sangue, Anne cai em prantos.

-Me perdoe.

Ele lhe dá um forte abraço.

-Olhe para mim. Não há mais volta para o que fizemos aqui. Pegue tudo que precisar e coloque no carro com as crianças.

-Pra onde vamos? –ela disse ainda em soluço.

-Tenho um amigo, em Saint Louis. Vamos precisar dos anéis. Agora vá o mais depressa possível.

Enquanto ela arrumava as coisas em uma mala com ajuda das crianças, ele foi soltar Joffrey das correntes. Chegou perto do rapaz que já estava com seus aspectos humanos.

Me perdoe por ter agido errado, nós somos uma família. Sangue do mesmo sangue. Vai ficar tudo bem.

Abraçou o filho e tirou as correntes.

Suzy Muniz
Enviado por Suzy Muniz em 22/04/2018
Código do texto: T6315667
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