Dejà vu

Estou em um local escuro, lotado de pessoas e de escadas que dão acesso a inúmeras salas. Parece uma escola, mas depois parece um centro de eventos. No início fico perdida sem saber muito bem onde estou e o que estou fazendo lá. De repente todas as estranhas pessoas que estavam sentadas nas escadas que davam acesso às salas correm na mesma direção com um prato e talheres na mão. Estranho,mas permaneço observando. Após a correria todos voltam a ocupar os degraus da escada. Alguns deitados de modo que não consigo subir com facilidade, peço licença, mas sou ignorada como se fosse invisível. Finalmente encontro um corredor vazio e cruzo com o Padre Marcelo Rossi, peço uma foto, ele atende ao pedido, mas apenas consegue tirar a foto após conectar o seu aparelho celular ao meu, não entendo. Ele está com pressa, na saída esquece de desconectar os celulares então recebo uma notificação de um aplicativo de táxi que avisa que chegou.

Sigo o corredor e logo à frente esbarro em uma mulher que corre puxando um menino pela mão. A semelhança dela comigo é assustadora. Continuo pelo corredor e mais à frente uma escada que dá acesso a uma sala. Subo as escadas e tento ver do que se trata. É um auditório. Parece está acontecendo uma palestra sobre gravidez na adolescência, maternidade precoce, algo assim. Decido entrar. A sala está lotada. Vejo o Renato, meu ex colega do ensino médio, a Toinha, minha irmã, a Gabrielly, minha sobrinha e muitas outras pessoas que lembro serem antigas vizinhas de Ipueiras. Percebo que o tema da palestra desperta estresse/raiva na Toinha que começa a xingar e discutir com a Gabrielly. Misteriosamente um pequeno pedaço de metal surge preso no meu lábio inferior, entro em desespero tentando tirar até que consigo. Mas tiro também um pedaço de carne e muito sangue. Entro em desespero e desço as escadas correndo à procura de um banheiro com as mãos e a boca ensanguentadas. Reencontro o garoto que antes estava sendo puxado pela mulher extremamente parecida comigo, dessa vez sozinho e com sangue nas mãos. Ainda mais desesperada pergunto o que aconteceu mas o menino está em choque. Em poucos minutos um homem completamente ensanguentado grita meu nome enquanto corre em minha direção proferindo xingamentos. Sem entender absolutamente nada corro enquanto puxo o menino pela mão. Já na rua somos quase atropelados por um carro, que para e grita para entrarmos. É a mãe do menino. A mesma que se parece assustadoramente comigo. Entramos no carro e ela começa a dirigir em alta velocidade fugindo não sei exatamente do quê ou de quem. Mais à frente descubro que estamos fugindo do mesmo homem. Descubro também que ele é marido dela e que ele tentou matá-la com uma navalha. Descubro ainda que o menino, tentando ajudar a mãe, feriu o pai também com uma navalha. Entro em desespero mais uma vez quando percebo que há um carro nos perseguindo. É o marido da mulher. Ela dirige ainda mais rápido, mas batemos o carro. A mulher fica inconsciente, parece estar morta. Desço do carro apavorada puxando o menino pela mão. O homem se aproxima com uma navalha na mão e tenta me acertar. Tento fugir sem sucesso. Ele me acerta o rosto, as mãos, os braços. Estou sangrando muito. O menino fugiu e se escondeu em algum lugar onde não posso avistá-lo. De repente noto a camisa branca do homem ficando completamente vermelha de sangue. O menino acertou o pai com um golpe de faca pelas costas, deixando-o caído e completamente ensanguentado. Pego o menino pela mão e tento voltar para o prédio de onde saí, em busca de socorro. O menino tem uma navalha nas mãos e tenta se ferir, enquanto chora e repete que não quer crescer e se tornar como o seu pai. Sem entender muito bem o que o menino fala, tento conversar com ele e acalmá-lo. Descubro então que, na infância, o pai do menino também matara o seu pai tentando impedi-lo de matar a sua mãe. Finalmente compreendo que a história está se repetindo e que o menino teme repetir os mesmos atos de seu pai, também vítima de traumas e violência no passado. Estranhamente aquela história começa a me parecer familiar, é como se eu já tivesse vivido tudo aquilo antes. Começo a estranhar o fato de ninguém me ajudar e ignorar a minha presença. Tento conversar com as pessoas. É como se não me vissem e nem me ouvissem. Entro em pânico. De repente, a mãe do menino aparece e me abraça. Em seguida me indaga: "você não entendeu nada, não é mesmo? Você sou eu. Nós estamos mortas. Ninguém pode nos ver, além do nosso filho. Mas ele, assim como você, não sabe que está morto."

Izabel Reinaldo
Enviado por Izabel Reinaldo em 07/05/2018
Código do texto: T6330094
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