Loli, meu ursinho

Capítulo I

Camila sempre foi uma menina igual as outras de sua idade. Brincava de boneca, pega-pega e adorava brincar de se esconder. Não se escondia apenas de suas amigas, mas também de seus pais. Achava “mega” divertido ver a aflição deles em procurá-la. Gostava mais quando era em um ambiente diferente como lojas e mercados, pois nesses lugares havia diversos lugares diferentes onde poderia se esconder perfeitamente e deixar seus pais alucinados à sua procura. Essas brincadeiras acabaram se tornando cada vez mais frequentes, independentemente de onde seriam.

Além de brincar de escode com seus pais, Camila era apaixonada por ursos de pelúcias. Era no seu quarto onde guardava todos. Em inúmeras ocasiões, sempre que possível, pedia para ganhar um ursinho. Já passavam de cem os modelos e tipos diferentes em seu quarto. Grandes, pequenos, brancos, pretos, coloridos, não importava como fossem, ela sempre queria mais e mais. Achava que não tinha o bastante. Entre todos que haviam ali, tinha um que era seu preferido: o Loli. Ele era preto, com os olhos brancos. A ponta de seu nariz, tinha um formato de morango negro. Sua boca era vermelha, apenas uma linha que ia de orelha a orelha. Era como se estivesse sempre sorrindo para quem olhasse.

De origem humilde, mas muito dedicados, seus pais nunca mediram esforços para fazer a sua única filha feliz. Sabiam que Camila era uma menina de um “coração de ouro” e por isso faziam todas as suas vontades. Loli sempre foi o seu melhor amigo, mesmo sendo apenas um urso de pelúcia inanimado, ela sabia que ele nunca iria machucá-la. Poderia ficar por horas e horas falando com ele. Isso era o que ela mais fazia: Falar, falar e falar. Camila amava contar tudo sobre seu dia. Tudo que fez e tudo que viu durante as várias horas do dia que, para uma menina cheia de vida, era pouco tempo para muito aprendizado. Ela aproveitava que Loli estava sempre disponível e soltava a voz.

Quanto completou seus quinze anos, Camila não queria mais saber daquela coleção de ursos que havia em seu quarto. Sentia que aquilo era coisa de criança e agora já era uma moça em busca de novas aventuras. Pediu para que seu pai doasse aqueles bichinhos para outras crianças que pudessem aproveitar e se divertir como ela um dia fez com os ursinhos. Ficou apenas com seu melhor amigo de infância, Loli.

Na noite em que seu pai levou para doações os seus brinquedos, Camila não conseguiu dormir bem a noite. Teve alguns pesadelos com seus amigos. Sonhava que seus ursos pediam por socorro, que estavam em lugares ruins, que seriam mortos e esquartejados por seres fantasmagóricos. Acordou diversas vezes durante a noite com o mesmo sonho. Percebeu que sua cama estava molhada, suava demais naquela noite. Levantou para trocar as roupas de cama e ao abrir o seu guarda-roupa, notou que Loli estava próximo, em uma prateleira quase que escondido por suas roupas. (disse):

- Ah, querido Loli, tadinho, você está aí dentro sozinho! Preciso que me proteja desses sonhos malucos! – Pegou seu melhor amigo, com todo o cuidado, e deu um leve beijo em sua cabeça.

Após arrumar a cama e tomar um copo de leite, Camila e seu amigo, se aconchegaram juntos na cama para tentarem voltar a dormir. “Pelo menos não estou sozinha.” Pensou ela agarrada com seu grande companheiro de muitas experiências.

Dia seguinte, ao acordar, percebeu que Loli não estava mais em sua cama, seus lenços continuavam molhados e não eram aqueles que ela havia trocado na madrugada. Assim que percebeu esse estranho acontecimento, levantou e foi direto no guarda-roupas. Ao abrir a porta, percebeu que Loli estava no fundo da prateleira quase escondido por suas roupas. “Meu Deus, o que aconteceu nesta madrugada? Não estou entendendo mais nada.” Pensava ela, com um medo que estremecia sua alma.

Na noite seguinte, resolveu trancar a porta do seu guarda-roupa e levar consigo o seu urso. Não queria passar por aquilo novamente. Seja o que for, aquele sonho deixou Camila com medo o dia inteiro. Tentou falar com seus amigos e seus pais, mas era impossível não fazer ninguém rir com essa história mais que maluca. Todos diziam que era apenas um pesadelo, pois ela acabou se desfazendo de todos os seus ursos de infância, brinquedos que guardava com muito carinho. Ao deitar, colocou Loli ao lado do travesseiro, próximo ao seu rosto. Assim poderia saber onde ele estava e o que poderia acontecer naquela noite. Com muita dificuldade de pegar no sono, Camila começou a conversar com seu amigo como fazia quando criança. Antes de dormir, sempre dava boa noite aos seus amigos e abraçando Loli, conversava até pegar no sono e ter uma ótima noite cheia de lindos sonhos.

Mas aquela noite estava estranha, não era mais como antigamente, Camila agora estava conversando com seu urso, pois sentia medo e não por desejar contar seu dia para o amigo. Quando percebeu, já era quatro horas da manhã e ela ainda estava batendo um papo com seu companheiro. Após uma pequena pausa, Camila escuta um sussurro em seu ouvido:

- Conte-me mais sobre o seu dia, minha querida.

Não sabia de onde saia aquela voz grave com uma rouquidão que penetrava em seus ouvidos. De olhos bem aberto percebeu que não havia ninguém no seu quarto. O relógio marcava cinco e quinze. “Consegui dormir um pouco, devo estar sonhando.” Pensava Camila, após ter escutado aquela voz.

Olhou para Loli e deu risada do seu suposto sonho. Sabia que a única explicação plausível para ter escutado algo era ser um sonho. Abraçou novamente Loli, e se virando de costas para o urso disse:

-Boa noite amigo, espero que você me proteja de qualquer coisa. – Sua voz foi ficando cada vez mais fraca com o terminar da sua fala.

Dando um salto da cama, Camila acorda assustada, olha para o relógio e percebe que é apenas duas e quinze da manhã. Percebe que Loli não está ao seu lado da cama como ela deixou assim que deitou para dormir. Com medo e sem saber o que estava acontecendo, foi em direção ao seu guarda-roupa e percebeu que não estava trancado como havia deixado. Assim que abriu a porta, Loli caiu sobre suas mãos. Deu um grito, jogando seu urso longe e saiu correndo em direção a sua cama, se tapou com o lençol até a cabeça. Percebeu que ele estava todo molhado de suor. “Mais uma noite difícil de dormir”. Pensava em baixo das cobertas tremendo de medo. Quando de repente escutava uma voz grave e rouca

- Conte-me mais sobre seu dia, minha querida. – Sua voz ficou mais grave. E prossegui: - Não quer mais conversar comigo agora?

Camila tremia ao escutar aquela voz. Não tinha ninguém ali com ela, apenas seu pensamento e um urso de pelúcia que havia caído de dentro do seu armário. Fechou os olhos profundamente com muito medo do que poderia acontecer com ela, quando começou a ouvir alguns passos, de leve, que se aproximavam cada vez mais de sua cama. Estava trêmula, suas mãos estavam quentes, seu rosto estava coberto de suor, quando sentiu ao lado do seu ouvido uma voz que dizia:

- Camila, você está bem, minha doçura? – Era seu pai que ao ouvir o seu grito percebeu que a jovem menina não estava tendo bons sonhos.

- Sai daqui! Me deixa seu demônio!!! – Gritou, Camila, sem perceber que quem estava ao seu lado era seu adorável pai.

- Calma minha filha, sou eu, papai.

Camila lhe deu um abraço muito apertado e começou a chorar em seu peito.

- Estou com muito medo pai. – Disse a menina aos prantos. E acrescentou: - Me ajude.

Com muito carinho, conseguindo mantê-la calma, seu pai fez Camila pegar no sono e colocou-a de volta em sua cama. Percebeu que seu guarda-roupa estava trancado com um cadeado. Achou estranha a atitude de sua filha, nunca viu Camila fazer isso.

No dia seguinte....

(continua)

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Francis Betim e Jéssica Souza
Enviado por Francis Betim em 14/11/2018
Reeditado em 18/11/2018
Código do texto: T6502907
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