Temperamental

Ah, aquelas conversas... Tudo aquilo me intrigava bastante; até porque ele tinha contato acentuado com a espiritualidade. “_Bom, falar sozinho, todos falamos.” – era o que eu pensava. E, de certa forma, eu nunca tive coragem de perguntar com mais veemência do que tudo aquilo se tratava. Só que aquela “maluquice” estava indo longe demais. Até o dia em que pude comprovar que meu namorado estava falando com alguém que não era eu, ainda que só estivéssemos os dois em casa. Um gesto com a mão foi o que mais me surpreendeu. Ele falava como se alguém mais estivesse ali. Tomei coragem e lhe perguntei se era algum espírito e, mais uma vez ele se esquivou, dizendo que adorava falar sozinho e que aquilo era um costume; talvez por não ter alguém para conversar todos os dias, já que não morávamos juntos. Aquilo não me convencia mais. Foi então que um dia ele saiu e eu fiquei naquela casa sozinho. Resolvi tomar uma atitude e procurar respostas para aquele enigma. Vasculhei gavetas, armários... Até que achei um livro diferente dos que ele tinha em casa. Era sobre contato com o outro mundo. Comecei a lê-lo e descobri que estava certo. Ao recolocá-lo em seu lugar, para que ele nada percebesse, senti como se tivesse levado um choque elétrico. Algo beliscou meu tornozelo; o que me assustou bastante. Depois eu contei a ele o ocorrido. Ele ouviu atentamente, sorriu de forma debochada, mas logo se fechou e fixou o olhar em algo que parecia estar atrás de mim. Naquela noite não consegui dormir e pela manhã notei que ele estava no banheiro, falando com alguém de forma bastante agressiva. A princípio pensei que estivesse brigando com alguém por rede social, mas depois outra coisa me veio à mente. Ele falava como se estivesse sendo ameaçado e parecia bastante preocupado. Quando me viu, sorriu e disfarçadamente aproximou-se de mim, beijou-me e foi preparar o café da manhã. Naquele sábado ele teria obrigações religiosas e eu teria que ficar novamente sozinho naquela casa. E assim aconteceu. A solidão levou-me direto para o quarto dele. Fui procurar um filme que pudesse me distrair e logo o encontrei. No outro quarto, algumas velas acesas e tudo parecia tranquilo... Lá pelo vigésimo minuto do filme, senti um cheiro de fumaça e percebi que vinha do outro quarto. Qual foi a minha surpresa quando vi o tapete pegando fogo! Fiquei com medo que se alastrasse e não tive ação. Para minha sorte, assim que olhei para trás, lá estava o meu namorado, que havia esquecido um livro, olhando para mim assustado. Eu retribuí o gesto e sem mais, ele apagou o fogo rapidamente. Foi então que ele me contou que, quando era adolescente, tinha um tipo de “amigo imaginário” e que ele era bastante temperamental. Irônico que sou, eu disse: “_É, eu percebi, mas o que você pretende fazer a respeito? Ele te ameaçou, não foi?” Ele balançou a cabeça, confirmando. Então ele pegou tal livro de contato com o além, disse algumas palavras e a tal energia aproximou-se dele. Eu nada podia ver, mas senti alguém assoprando a minha nuca; o que me causou calafrios de pavor. E, como quem assiste uma reconciliação, eu vi meu namorado falando de forma mais delicada, pedindo para fazer as pazes com o tal ser sobrenatural. Por fim, ele sorriu, aliviado e me pediu que nunca mais mexesse em suas coisas. Desde então, a paz reina entre nós e temos sido felizes.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 04/12/2018
Código do texto: T6518849
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