A DIMENSÃO CINZA

A DIMENSÃO CINZA

Harmonia é uma cidade do interior gaúcho, que recebeu este nome dado ao povo viver em harmonia, uns com os outros.

Existe uma lenda na cidade, que há muito tempo atas, teria existido um homem que tivera o saco escrotal amputado, e que dentro dele havia os testículos avolumados, ou seja, os escrotos com os testículos dentro.

O conjunto amanheceu pregado num eucalipto centenário, na praça em frente da igreja. Nunca, conta a lenda, apareceu alguém para reclamar o saco escrotal. Diziam os mais antigos que, na mesma época, várias mulheres, todas com as mesmas características físicas, haviam desaparecido. E, que após o aparecimento da mutilação, nunca mais desapareceu mulher alguma na cidade.

A autopsia nos restos encontrados relatava que os órgãos pertenceram a um homem de mais de sessenta anos, e que, possivelmente, teria sido ele o autor dos desaparecimentos das mulheres, que todas, sem exceção, eram morenas, de média estatura, com cabelos compridos e com idades entres dezoito e trinta anos.

Por coincidência ou não, na mesma época, havia desaparecido um homem com a mesma idade que supostamente teria o dono do saco escrotal pregado frente à matriz.

Lenda ou verdade, a comunidade não gostava de falar sobre o caso, quando algum forasteiro perguntava, por ter ouvido falar, os cidadãos desconversavam, dizendo que tudo não passava do imaginário popular, que nada daquilo havia realmente acontecido.

CRISTIANO SCHMITT

Ele nasceu no interior do município de Harmonia. Filho de colonos alemães teve muita dificuldade em estudar quando pequeno. No entanto após os seus dezesseis anos, seus pais se mudaram para a cidade, e ai, ele teve oportunidade de estudar. Trabalhando e estudando, conseguiu se formar em administração de empresa, depois de formado, dedicou-se a produção industrial de metais para semi-jóias. Sua indústria prosperou e ele teve de aumentar substancialmente o parque industrial. Por isso resolveu comprar um terreno para instalar a nova indústria.

Após percorrer todas as corretoras de imóveis, encontrou um terreno a beira da BR, com desejava. O terreno tinha as dimensões de cinquenta metros de frente por cento e vinte e três metros de frente a fundos. Sobre o terreno havia uma casa de alvenaria que cerca de um século antes fora provavelmente à casa de um pequeno cultivador de hortaliças, mas desde então, provavelmente, servia só como abrigo ocasional para algum mendigo.

Em ruínas, apenas estavam erguidas as paredes que eram em pedras de grés.

O resto do terreno estava todo coberto de mata nativa, pois segundo o corretor o terreno estivera abandonado por mais de duas décadas.

O negócio foi fechado, e ele, teve de contratar um homem para fazer o roçado da área, para avaliar o plano altimétrico do terreno.

A terra ao final da limpeza se mostrou ótima para o que queria, quase não necessitava de terraplenagem, apenas sobre o terreno havia as ruínas e um velho poço cavado todo armado com pedras regulares, que fora utilizado para a retirada de água e um pé de amoreira muito grande, que o homem deixou ficar sem qualquer explicação, talvez por tê-lo achado exuberante.

As máquinas tiveram de derrubar as paredes da velha casa. Por ser uma verdadeira obra de arte o velho poço, Cristiano resolveu mantê-lo intacto, apenas mandou colocar sobre ele uma tampa de concreto armado para que animais ou pessoas não caíssem.

Seis meses duraram as obras e finalmente estava tudo pronto, o pavilhão industrial no meio do terreno e o escritório a frente, exatamente onde estivera localizada a velha casa.

O escritório era pequeno, mas abrigava bem as pessoas que nele iriam trabalhar, ele, sua filha e mais cinco empregados. O prédio era composto da recepção, financeiro, administrativo, vendas e departamento técnico.

Sua única filha trabalhava no financeiro, uma jovem de seus trinta nos, formada em administração de empresas, portanto emocionalmente estável. Certo dia lhe disse:

- Pai, o senhor já viu a amoreira que tem lá nos fundo?

- Sim eu a preservei por achá-la estrondosa e muito bonita.

- Aquela arvore me atrai não deixo de vela diariamente, só que quando estou perto dela me sinto angustiada.

Isso passou, ele notou que diariamente sua filha, após o almoço, ia descansar sob a amoreira ou sentar-se sobre a tampa do poço.

O tempo foi passando, já estavam no local há mais de um ano, quando sua filha, certo dia, lhe disse:

- Pai, sabe aquela amoreira, que lhe falei.

- Sim, sei – respondeu – o que é que há com ela?

- Ela fala comigo.

Ele deu uma risada e a conversa ficou por isso mesmo.

Certo dia ele a procurou durante o expediente e não a encontrou, perguntou se ela havia saído lhe disseram que tinha ido para os fundos da indústria. Resolveu procurá-la, quando lá chegou a viu sob a amoreira, estava gesticulando como que estivesse falando com alguém.

Aproximou-se furtivamente e pode ouvi-la dizer:

- Não farei isso! Com que objetivo o faria?

Aproximou-se, ela o viu e foi ao seu encontro.

- Oi papai está me procurando?

- Sim, o que está fazendo aqui?- perguntou com certa preocupação.

- Vim descansar um pouco, o escritório estava muito abafado.

Retornaram ao escritório e não falaram mais no assunto.

Começou a notar que o seu comportamento ficara estranho, que vários dias se ausentava e ia para os fundos do terreno e ficava sob a amoreira, passou a fazer muda da arvore, colocando pequeno galho imerso em água para que enraizasse formado assim a muda.

Perguntou-lhe por que estava fazendo aquilo, lhe respondeu que a arvore tinha pedido que fizesse mudas para dar as pessoas da cidade.

Com o seu estranho comportamento, resolveu levá-la a um psiquiatra, que constatou que estava com algum distúrbio emocional, que poderia ser passageiro, receitou-lhe algum medicamento antidepressivo.

A primavera chegou. A amoreira encheu-se de flores que se transformaram em frutos.

Sua filha diariamente, nessa época, ia aos fundos comer amoras, dizia que estavam saborosas. Certo dia, estanhando a sua demora, foi até a amoreira e lá estava ela, parecia que estava recostada sobre o tronco da arvore, mas, quando se aproximou, logo viu que algo de errado estava acontecendo, ela estava roxa, com a boca e a garganta cheia de amora, tentou recuperá-la fazendo a desobstrução das vias aéreas, mas tudo foi em vão ela já entrara em óbito por asfixia mecânica, causada por uma porção de Harmonia que se entalaram na sua garganta, sufocando-a.

O médico que examinou o corpo, disse que ela quando comia amoras teve um refluxo, justo no momento em que estava engolindo algumas das frutinhas, as quais se entalaram na garganta sufocando-a.

Cristiano entrou em profunda depressão com a morte de sua única filha, sendo viúvo a mais de dez anos, ficara sozinho no mundo, sem qualquer ente querido para consolá-lo.

Começou a beber a noite para conseguir dormir, mas sempre com moderação. Como a depressão não dava sinal de regressão ele resolveu consultar um especialista que lhe receitou um antidepressivo.

O tempo passou, ele sozinho, sem contar com sua filha querida que, tragicamente, havia falecido, dedicou-se de corpo e alma ao trabalho, sem ter horário certo para terminar as tarefas acumuladas.

Um dia, aqueles dias, em que estava saudoso resolveu ir até o fundo das instalações onde se encontrava a amoreira. Lá chegando viu que havia cinco mudas, já grandes e belas, todas plantadas em linha, uma com as outras. Elas tinham sido geradas por estaquia e feitas por sua finada filha. Resolveu conservá-las.

Ficou sob a amoreira mãe, olhava para os seus galhos estrondosos, quando sentiu um ligeiro calafrio. Sacudiu o corpo e logo se afastou, indo para o escritório.

Acumulara funções após a morte de sua filha e, como não estava dando conta dos serviços, teve de realizar algumas horas noturnas.

Trabalhava a noite, devia ser por voltas das vinte e três horas, quando ouvi movimentos vindos da sala ao lado, pensou que o vento estaria entrando por alguma janela que ficara aberta, e continuou trabalhando, iria examinar quando terminasse o trabalho.

Absorto no trabalha, quando ouviu passos, no corredor, levantou rápido e se dirigiu até ele, abriu a porta, olhou, para todos os lados. E nada viu. Voltou ao trabalho. Quando estava novamente absorto, ouviu uma espécie de gemido, representando-lhe que alguém estava em grande sofrimento.

Saltou, ligou todas as luzes, examinou todas as dependências do escritório e nada viu.

Como já passava da meia noite, resolveu deixar o escritório e ir para a casa. Aqueles fatos não saiam de sua lembrança e, ele se perguntava. “Será que estou imaginando coisas?”

Na semana seguinte, novamente teve de trabalhar a noite. Em certo momento, achou que adormecera pelo cansaço, só sabia que quando se deu conta de si, estava sob a amoreira. A lua nova clareava tudo, colocou a mão direita apoiada no caule da arvore, quando em sua mente recebeu a seguinte mensagem- “Você terá de continuar a missão que sua filha não conseguiu realizar.” Esta mensagem ele estava recebendo repetidamente em meu cérebro, parecendo que vinha diretamente da árvore.

Achou que estava sonhando, mas tudo era tão absurdamente real, a lua que, naquele momento, aparecia entre os galhos da amoreira, o solo úmido entre as raízes expostas, que afloravam. Tudo era tão real, chegou a se beliscar para ver se era real ou estava sonhando. Constatou que tudo realmente estava acontecendo. A mensagem agora recebida diretamente no seu cérebro dizia:

“Estas mudas que aqui estão, deverão ser entregues a cinco famílias, sendo elas: A família Silveira, Maldonado, Niemeyer, Fagundes e Machado. Todas desta cidade.”

Esta mensagem foi repetida tantas vezes até ficar gravada no seu cérebro.

Deixou a amoreira e retornou ao escritório, logo foi para casa, com aquela mensagem martelando em sua mente.

No dia seguinte, no escritório, não passava mais que cinco minutos sem que o seu cérebro repetisse a mensagem. Parou de trabalhar e foi logo, pesquisar na lista telefônica, as famílias que supostamente teria de procurar e presentear com uma muda da árvore. As cinco famílias estavam na lista telefônica, com seus endereços sublinhados. Não sabia como isso teria acontecido, sabia apenas, que deveria entregar a cada uma delas uma muda, caso fosse atender a ordem recebida da árvore.

Mais uma vez teve que trabalhar a noite, o que estava sendo uma rotina, pois o serviço estava sempre acumulado. Devia ser por volta das vinte e duas horas, quando ouviu a porta abrir-se e entrar um vento frio. Em um salto, levantou e foi fechar aporta, desta feita, virou a chave, para garantir que não se abriria, logo voltou ao trabalho. Estava absorto, quando ouviu a chave girar, sem que ninguém a manuseasse, logo a porta se abriu e o vento frio invadiu todo o ambiente.

Ficou estático como estivesse paralisado, quando em sua mente recebeu uma mensagem que dizia:

- “Já consultasses a lista e identificaste cada uma das famílias.

“Agora faz chegar até eles uma das mudas da amoreira.”

Ele ficou completamente horrorizado, mas em um impulso de coragem, tremendo de medo, perguntou:

- Quem é? E o que quereis?

Nesse momento, recebeu em seu cérebro a seguinte mensagem:

- “Sou de um mundo paralelo, o chamado mundo cinza, onde nada é branco e também nada é negro, o branco e o negro se confundem num tom cinza. Um mundo que a

Ciência não consegue explicar, pois ainda não reuniu provas cabais de sua existência, e que está situado numa outra dimensão.

Aqui permanecem aqueles que foram injustiçados e estão ávidos de vingança. Você será o instrumento de minhas ações nesse mundo cruel e maligno. Fará, “nos mínimos detalhes, tudo o que eu lhe ordenar.”

Nesse momento uma nuvem cinza envolveu a porta e as paredes formando uma abertura com um diâmetro de mais de três metros, onde ele podia ver cenas horripilantes:

Talvez fosse assim à experiência de um surto psicótico total, mas tudo parecia real.

Contemplou, durante alguns momentos, trêmulo, convulso; o se cérebro girava sob a ação de mil pensamentos incoerentes.

Cinco homens, nos quais, podia ver os rostos com grande nitidez, embora tudo fosse cinza. Eles arrastavam um homem, que impunha uma grande resistência, movendo-se sob as mãos que o agarravam firmemente. As pernas e braços, também tentavam mover-se. Mas, os cinco homens o levam suspenso até chegarem a uma arvore a qual identificou, como sendo a amoreira que havia nos fundos do terreno da indústria.

Pensou - Estou pirando de vez, isso não pode estar acontecendo. Não é real.

O homem é amarrado no caule da árvore, com as mãos para trás e os braços envolvendo o tronco. Sua cabeça é amarrada firmemente junto ao tronco, seus pés são afastados um do outro, presos a uma corda e amarrados em estacas cravadas no solo.

Fechou os olhos e balançou a cabeça para ver se conseguia apagar a alucinação e restaurar a realidade. Mas, quando os abriu, tudo continuava ali.

Um dos algozes baixou a calça do homem, retirou uma faca que trazia as costas, pegou o saco escrotal, esticou-o e o cortou separando-o do corpo. O homem urrou de dor, suas pernas tremeram em um sapateado frenético. O sangue escorreu pelas pernas, seu peito ficou ofegante em espasmos e contorções.

Grunhidos e gemidos de desespero e fúria irrompiam de sua garganta enquanto ele soltava com fúria, ofensas a seus algozes

- Odeio você! Demônios infernais!

Num frenesi, liberou a raiva até ficar exaurido e perder os sentidos. Seu corpo amoleceu e o sangue continuou a escorrer pelas pernas inundando a calça que está retida nos joelhos.

Os cinco verdugos permaneceram ao seu redor, contemplando o corpo inerte. As cordas foram cortadas e o corpo arrastado até o poço e nele lançado. Tudo desapareceu repentinamente. O mundo cinza havia sumido, deixando-o em estado de terror paralisante. Em sua mente podia ver em abstrações recorrentes as figuras dos verdugos, que ficaram claramente gravadas.

Quando passou o terror, pegou a lista e a examinou mais detidamente. Nada que ele já não tivesse visto apenas os sobrenomes e os endereços sublinhados.

Imerso numa duvida profunda e paralisante, chegou a imaginar que estivesse ficando louco, e pensar que isso estava sua filha vivendo antes do terrível acidente.

Imaginou que tudo estava relacionado ao lugar, e por isso buscou informações sobre o terreno.

O corretor havia omitido que na velha casa morara um senhor, que desapareceu subitamente, deixando tudo para uma prima, que morava no Uruguai, como única herdeira.

Como não fora encontrada, e os impostos não foram pagos, o município executou a dívida acumulada. O bem foi avaliado e colocado à venda.

Ele tinha nítido em sua mente que tinha de procurar as cinco famílias as quais deveriam receber a doação de mudas da amoreira.

Na lista o primeiro sublinhado era Brélio Silveira, - Rua da Matriz, 435.

Ainda não se decidira se atenderia a imposição feita pelo espectro, mas resolvera procurar o senhor Brélio Silveira.

A casa era antiga, a moda portuguesa, sem eira nem beira, duas janelas de frente, uma porta e um portão ao lado.

Bateu à porta, uma senhora veio atender.

- Bom-dia, o senhor Brélio Silveira se encontra? – perguntou.

- Sim, quem deseja falar com ele?

- Diga que é Cristiano Schmitt, empresário do ramos de artesanato em metal.

Nisso chega um homem, a mulher lhe franquia a passagem, cedendo-lhe o lugar. Surpreso viu que se trata de um dos algozes, que nítido ainda estava em sua mente, embora vinte anos mais velho. Um homem relativamente forte, aparentando ter mais de cinquenta anos, cabelo cortado curto, tipo escovinha, rosto cumprido, queixo quadrado, dentes desalinhados e um pouco salientes. Ao chegar disse:

- Deixe que eu atendo querida.

- Senhor Brélio Silveira? – perguntou.

- Sim, o que o senhor deseja?

Justo naquele momento ele não sabia o que dizer, pois não se havia preparado para tal situação, pois ainda não resolvera se cumpriria ou não a missão.

- Sou produtor de peças metálicas para artesanato e estou procurando representante comercial. E sendo o senhor distribuidor de bebidas queria ver se me poderia dar alguma indicação nesse sentido.

O homem, mostrando-se solicito e cortes, convidou-o a entrar. Falaram sobre os seus negócios, forneceu-lhe uma indicação. Mas, cada vez que o olhava, vinha sua figura claramente em sua mente, ele pegando a faca, retirada das costa e passando pelo saco escrotal do amarrado.

Em casa, imerso numa dor profunda e paralisante, Cristiano entrega-se à grande tristeza, um estado de torpor, ausência e raiva que com um fervor sinistro o perturbava, levando-o a pensar: - “Certamente a arvore será a vingança cruel que ele preparara a todos os seus executores, e eu, serei o mensageiro sinistro que fará ser possível o ato maligno.”

Os dias passaram e ele não teve coragem de cumprir o que lhe fora ordenado pelo espectro sinistro. Quando estava trabalhando a noite, devia ser por volta da meia noite, estava se aprontando para ir para casa, um vento frio abriu a porta do escritório e ele pode ver o espectro dentro de uma espécie de túnel de fumaça cinzenta. Ele se aproximou de Cristiano, encarou-o, apontou o dedo indicador na sua direção e disse com voz tonitruante:

- O que é que tais esperando para cumprir o que determinei? Falta-te coragem, queres ver novamente o que eles fizeram a mim?

Cristiano ficou paralisado por alguns instantes, buscando forças no mais profundo do seu ser, com voz embargada pelo medo conseguiu dizer:

- Eu tenho que saber por que aqueles homens fizeram aquilo em você, antes de tomar qualquer atitude, afinal, entendo que eles estavam praticando uma vingança, por algum mal que você lhes tivesse feito.

O silêncio reinou por alguns instantes, a nuvem de fumaça foi se abrindo, abrindo, e Cristiano foi engolfado por ela. Viu-se num outro tempo, no mesmo lugar, a velha casa que fora derrubada, estava conservada, toda a área estava cultivada por hortifrutigranjeiros, podia locomover-se tudo estava aparente. O frio era intenso, e enrijecia-lhe os membros, fazendo-o encolher-se perante ele.

Ouve vozes no interior da casa e se aproximou da porta, e logo, adentra e nela vê o espectro, de pé com a mão sobre o ombro de um rapaz que sentado em uma cadeira chorava copiosamente.

Presumiu que fosse jardineiro ou que cuidasse da horta. Tinha luvas de pano e borracha dobradas no cinto, como as que ele próprio usava para trabalhar no jardim de sua casa. Vestia jeans simples cobertos da terra onde estivera ajoelhado e uma blusa azul com manchas de amarelo e vermelho. Cristiano tinha uma impressão de tudo isso, por que eles pareciam entrar e sair de seu campo de visão.

Aproximou-se e pode ouvir o espectro que dizia:

- Filho! Encontrarás outra mulher e só questão de tempo.

- Não meu pai, ela será insubstituível, o que posso fazer se ela não quer casar comigo, prefere outro que tem maior posição social.

- Ela não te merece meu filho, você é um homem direito e trabalhador, qualquer mulher o quereria como marido.

- Não adianta meu pai, eu somente amo e a amarei para sempre.

- Você tem de comer, já faz três dias que não come nada, assim ficará fraco e morrera de inanição.

Uma nuvem cinza mais escura tomou conta de todo o cenário, nada mais podia ver. Abriu-se o cenário, e logo a cena mudou. A sua frente viu-se descortinar uma nova paisagem, e pode acompanhar o espectro que estava rumando para os fundos da pequena chácara. Caminhando entre canteiro cobertos de hortaliças, eles chegam até próximo da grande amoreira. O espectro apontou para a árvore e ele pode ver um corpo dependurado pelo pescoço, era o mesmo jovem com que o espectro na cena anterior conversara, era o seu próprio filho.

A voz tonitruante do espectro lhe disse:

- Meu pobre filho não resistiu tamanha rejeição da mulher que amada e se suicidou, enforcando-se no pé de amoreira. E, se isso não bastasse, sua mãe morreu de desgosto três meses depois, deixando-me completamente desorientado.

Éramos felizes até então, mas de repente, não mais que de repente, tudo se modificou, havia perdido os únicos dois entes queridos que tivera. As noites e os dias, para mim passaram a ser intermináveis. Dia após dia, hora após hora, eu somente pensava; quem seria a causadora da desgraça da minha família. Só sabia que era uma jovem, morena, cabelos compridos, estatura mediana e muito bonita. Eu tinha de encontrá-la.

Passei a procurá-la por todos os cantos, supus que seria uma mulher da noite, pois meu filho costumava encontrá-la quando a lua era a senhora da luz.

Cristiano sacudiu a cabeça, para ver se tudo não passava de alucinações? Ou será que isso realmente aconteceu tempos atrás? Talvez aquilo fosse uma espécie de sonho que logo acordaria. Sabia que sua mente estava divagando, por isso concentrou-se na pergunta que mais queria que fosse respondida. Por que ele fora tão brutalmente assassinado?

E o espectro continuou a sua fala:

- Busquei encontrá-la por vários meses, frequentava bares, boates, cabarés e tudo o mais que funcionasse durante a noite. Não a encontrei em lugar algum.

Foi numa sexta-feira eu levara hortaliças para um supermercado, quando vi uma mulher exuberante, que se encaixava dentro da descrição da mulher que teria levado meu filho ao suicídio. Ela estava finamente trajada e era acompanhada por um homem. Larguei o meu produto na recepção de mercadorias do supermercado e logo fui a sua procura. Logo encontrei o casal e passei a acompanhá-los fingindo que estava fazendo compras. Constatei pelo que falaram que se trata de marido e mulher. Segui-os até sua casa, Na porta estava escrito B. Silveira, Representações Ltda. Passei a vigiar a casa, dia e noite, até que na semana seguinte, o homem despediu-se da esposa dizendo que lhe telefonaria todos os dias a noite enquanto estivesse viajando. Eram dez horas da noite quando eu vi um rapaz bem apessoado bater a porta, a porta foi aberta e ele entrou. Permaneci até o outro dia às seis horas quando ele furtivamente saiu, antes de começar os movimentos de rua. A cólera foi tanta que bati à porta e ela a abriu, talvez pensando que fora o amante que havia retornado. Quando ela abriu, coloquei o pé na abertura e empurrei, jogando-a no chão. Antes que gritasse, coloquei a mão em sua boca. Amarrei-a e a amordacei e fui buscar a minha velha caminhoneta de carregar verduras. Coloquei-a na carroceria e a levei para chácara e a joguei-a no fosso para ter com o meu filho que também lá estava.

Passaram-se mais algumas semanas e eu pude ver outra mulher que se assemelhava com primeira, pensei poderá ter sido esta. Assim no total foram cinco mulheres, que coloquei junto com o meu filho no poço, imaginando que uma deles teria sido a que ela amava. Todas dentro da descrição que ele próprio me dera, quando em seus delírios amorosos.

Um dia chegaram a minha chácara, cinco homens, que cada um reclamava uma das mulheres, um dizia que uma delas era sua irmã, outro, sua mulher e ai você sabe o que aconteceu. Eles me pegaram, dentro da minha própria casa, começaram uma sessão de tortura, primeiro fui amarrado a uma cadeira, com a frente para as costas da cadeira, levantaram a minha camisa e com um varilho de ferro de construção, começaram a bater em minhas costas, ao mesmo tempo, que perguntavam o que teria feito com as mulheres.

Disseram que tinham certeza do que estavam fazendo, pois eu tinha sido visto, rondando as casas de cada uma delas e eles logo desapareceram. Como nada disse, aqueceram o varilho no fogão a lenha ate que ele ficasse em brasa, e começaram a aplicá-lo sobre os ferimentos. Não resisti à dor crucial e confessei que todas estavam no fundo do poço. Eles me levaram para debaixo da arvore e não preciso lhe dizer mais nada, o que aconteceu depois vocês já viu.

Naquele momento Cristiano sentiu que estava pendurado sobre um abismo sem fundo e teve medo de que, se deixasse levar, perderia o controle de tudo, se é que tinha algum. Procurou algo para dizer ao espectro, mas finalmente só conseguiu falar com os dentes trincados:

- O que as mudas farão, são apenas arvores, inanimadas, nada poderiam fazer contra seus algozes?

- Ledo engano! No momento de minha morte, pelos males que havia feito, eu seria levado para o mundo negro, seus agentes já estavam a minha espera, mas no último momento, meu espírito agarrou-se na arvore e conseguiu penetrar dentro do seu âmago e ali permanecer, logrando desorientar os agentes do mundo negro.

Hoje estou no mundo cinza, como já lhe disse, onde nada e branco e nada e negro, faço parte desta arvore até que meus algozes sejam sacrificados e cheguem ao mundo negro, ai e somente ai, para lá poderei ir.

- Mas, diga-me uma coisa, que ainda não entendi! Como fará a sua vingança, com árvores tão pequenas, levarão vários anos para frutificarem.

- Você não conhece nada desta dimensão, aqui tudo nos é possível, dez de que, saibamos mover as peças no tabuleiro.

- Entendi não quer me dizer, é isso né? E se eu me negar a fazer o que está ordenando, que fará comigo?

- Ficará preso a esta dimensão até que resolva atender as minhas ordens. E se eu o enganar dizendo que farei o que deseja, somente para deixar-me ir para a dimensão original, o que fará?

- Eu o punirei exemplarmente.

- Assim como fez com minha filha?

- Não, não ela se engasgou com amoras, não foi o que o médico disse?

- Sim, foi, mas não é o que eu penso.

Imerso numa dor profunda e paralisante, Cristiano entregou-se à grande tristeza, um estado de torpor, ausência e raiva, que com um fervor sinistro, o fizeram pensar: - Miserável, matou a minha filha sem a menor piedade, eu a ouvi recusar-se de cumprir as suas ordens.

Reagiu e a consciência voltou, a adrenalina baixou e ele, com um esforço hercúleo disse ao espectro:

- Então o que tenho que fazer é apenas com que cada um dos seus executores receba de bom grado uma muda da árvore, é isso?

- Sim, apenas isso nada mais lhe pedirei.

- Então me deixe ir para a minha dimensão.

A nuvem que cobria tudo de cinza se dissolveu e Cristiano, novamente se encontrava em seu escritório.

No dia seguinte:

- Alo! Bom-dia, é Cristiano Schmitt falando, posso falar com o secretário de obras.

- Olá Senhor Cristiano, em que lhe posso ser útil, o melhor a Prefeitura de Harmonia pode lhe ser útil?

- Secretário! Eu preciso que o senhor disponibilize uma retro e um operador de moto-serra, quero cortar uma arvore nos fundos do terreno da indústria. Pode ser para hoje?

- Claro, só que na parte da tarde, pode ser?

- Tá bom para mim. Espero hoje à tarde. Muito obrigado pela atenção.

Ele passou a maior parte da manhã no computa-dor. Sentado confortavelmente no escritório, deu telefonemas de vendas. Parava com freqüência, ouvindo o som da chuva cristalina tilintando na janela e vendo o acúmulo de água lá fora. Estava se tornando inexoravelmente uma possível vítima do espectro, mas valeria à pena, queria ver o que faria quando a moto-serra rasgasse o tronco da amoreira e a retro arrancasse-a com raiz e tudo. Quando pensava o que lhe poderia acontecer, seu corpo era irrigado por intensa dose de adrenalina, suas glândulas sudoríparas eram estimuladas e o suor corria-lhe das axilas, molhando-lhe a camisa. Mas com muito prazer faria com que o espectro fugisse da árvore, sendo pela lógica, levado para a dimensão negra.

A chuva intensificara e tudo ficou alagado. Cristiano tenso e inquieto esperava a retro, que também traria o serrador. Às catorze horas chegou à retro escavadeira. O portão elétrico foi aberto e ela adentrou no pátio da empresa. Cristiano já estava esperando. A chuva havia amenizado, seria possível a operação de corte e arranque da amoreira.

A máquina foi colocada próximo da árvore e o operador da moto-serra, empunhando-a dirigiu-se para árvore, quando o sabre encostou a corrente de corte na árvore, esta se movimentou como tivesse sido atingida por uma rajada de vento e começou a balançar seus galhos. O sabre e a corrente que nele deslizava, arrancava serragem que saltava longe e se acumulava no solo. O entalhe estava completado, agora seria o corte pelo outro lado para fazê-la tombar. Cristiano de longe apreciava a cena que se desenvolvia e pensava:

- como o espectro está se vendo, sem o seu habitat sinistro?

A amoreira tomba no solo, agora seria a vez da retro, arrancar o tronco com todas as raízes. Simultaneamente, o serrador cortava os galhos enquanto a retro arrancava o tronco e as raízes.

Tudo estava terminado. A árvore tombada, e reduzida a pedaços para a queima. No dia seguinte a prefeitura mandaria um caminhão buscar a lenha para queima.

Cristiano deixa o local pensando – eu tinha razão, sem a árvore ele deve ter sido levado para a dimensão negra, lugar onde devia estar há muito tempo. Minha filha foi vingada e eu não tenho de ser instrumento de vingança do espectro.

As duas próximas semanas foram de tranquilidade, Cristiano trabalhara apenas no período diurno e tudo estava indicando que o caso do espectro estava resolvido com o corte da amoreira.

Cristiano estava trabalhando a noite, devia ser por volta da meia noite, quando a porta do escritório se abriu e uma rajada de vento frio adentrou. Teve um sobressalto, seu coração disparou, reagiu instintivamente levantando-se e fechando a porta com a chave.

Novamente absorto em seu trabalho, é despertado pelo barulho da chave girando na fechadura, ai ele teve certeza que o espectro não tinha sido neutralizado. Muniu-se do resto de coragem que ainda possuía e se dirigiu a porta, abriu-a e pode ver a nuvem cinzenta que cobria o espaço do outro lado da porta. Meteu-se no centro da nuvem e por ela foi engolfado. Olhou e lá estava o espectro, com o dedo polegar apontado para ele.

- Achou que me tinha embaraçado que sem a amoreira eu estaria perdido, nesta dimensão, ledo engano, meu caro. Agora sei que não posso confiar em você.

Sem saber de onde tirava a força que estava tendo naquele momento, redarguiu:

- Nada mais tenho a temer de sua parte, já me fizeste mais mal do poderia eu imaginar que poderia fazer. Sou um homem honrado e trabalhador, não vou temer suas ameaças. Faça o que tiver de fazer nada mais me amedronta.

- Quero de você apenas um pequeno favor, que faça as mudas chegarem aos seus destinatários os quais, já o informei, apenas isso e nada mais, lhe custa tanto fazer-me um favor?

- Seus propósitos são escusos, se pedisses que envolvesse seus algozes nas malhas da lei, certamente eu lhe atenderia.

- Como faria isso? – perguntou o espectro.

- Não sei ainda, mas posso pensar nisso.

- Pois pense e nós voltaremos ao assunto.

Tudo se dissipou, Cristiano voltou a ficar sozinho e pensou- “sei de uma história que ninguém sabe, salvo os envolvidos, posso tirar vantagem disso. Vou colocá-los a par dos acontecimentos, reuni-los aqui e ver o que pode acontecer, eles é que devem enfrentar o espectro, não eu que nada tenho a ver com tudo o que aconteceu, mas antes tenho de ter um novo encontro com o espectro para lhe propor o assunto e fazer-lhe algumas exigências.”

Passaram-se duas semanas, havia trabalhado a noite por vários dias e o espectro não havia aparecido para cobrar-lhe os feitos. Era uma quarta feira, por volta das 23 horas, quando Cristiano estava trabalhando no escritório, uma rajada de vento frio abriu a porta do escritório, a nuvem cinza cobriu tudo e no centro estava o espectro, que com o dedo indicador apontado para Cristiano disse:

-Você não está cumprindo o prometido, o que está havendo?

- Não se apoquente, eu queria mesmo falar com você. Tive uma nova ideia e quero colocá-la a sua apreciação. Posso tentar reuni-lo todos aqui e entregá-los a você, mas há uma condição. Você pode assustá-los, porém não os poderá ferir ou matá-los, e mais, devo presenciar tudo o que acontecer com eles.

O espectro maneou a cabeça em sinal de reprovação, parou por alguns instantes, como estivesse em dúvida sobre o a provar ou não as exigências de Cristiano e finalmente disse:

- Aceito as condições, somente não me responsabilizo de eles morrerem de susto, está bem para você?

- Sim, está bem, eu concordo, devo tê-los aqui na próxima quarta feira.

O espectro desapareceu com a nuvem cinza que o envolvia.

Cristiano foi ter com Brélio Silveira, já seu conhecido de uma visita anterior.

- Bom-dia, senhor Brélio, - disse ao ser recebido na porta.

- A que devo a visita, senhor Cristiano, entre, por favor.

Sentados na sala de estar, Cristiano sem quaisquer rodeios disse:

- Senhor Brélio! Nós nos conhecemos dias atrás de uma visita que lhe fiz, sob o pretexto de obter uma informação. Na verdade eu queria conhecê-lo. Eu comprei um terreno, onde construí uma indústria. Nesse terreno, há um poço cavado e murado com pedras e a frente do tal poço, havia uma grande amoreira, a qual mandei cortar a poucos dias atrás.

Eu quando comprei o terreno, não sabia que ele era mal assombrado, lá aparece um espectro, que me contou uma história horripilante, mais que isso, fez-me assistir o desenvolver dessa história. E, nela, o senhor é um dos protagonistas, junto com mais quatro homens. Assisti vocês torturarem um homem, levá-lo até a amoreira, amarrá-lo, e o senhor, com uma faca cortou os escrotos do tal homem.

Nesse momento Brélio Silveira começou a tremer, sua face ficou pálida, o suor correu-lhe da testa, lágrimas surgiram de seus olhos e, com voz, tremulante pode dizer:

- Mas isso foi a mais de vinte anos, na época tínhamos sobradas razões para fazer o que fizemos.

- Também sei desse detalhe sórdido senhor Brélio. Acontece que o tal espectro, não me deixa em paz, e exige que eu o ajude a reuni-los no local. Segundo ele narrou, está preso em uma dimensão intermediaria, e somente sairá dela após haver punido vocês.

- Que espécie de punição ele quer nos impor?

- Não sei, mas eu o fiz prometer que não os ferirá nem os matará e que eu estarei presente, junto com vocês.

- E se não concordarmos o que acontecerá?

- Eu somente estou querendo ajudar-los, pois ele os alcançará de outra forma, a qual não sei dizer. Eu estou fazendo a minha parte, pois indiretamente estou envolvido, pois os fatos ocorreram na minha propriedade.

- Vou tentar reunir os demais, não lhe prometo que iremos.

- Estarei esperando-os, na quarta feira próxima, às dez horas da noite no meu escritório. Passar bem.

A quarta-feira chegou, Cristiano os aguardava no escritório, quando começaram a chegar, Brélio acompanhado de mais quatro homens, todos com idade, próxima dos sessenta anos.

Apresentações foram feitas e Cristiano convidou-os a sentarem em cadeiras que já estavam preparadas no escritório. O senhor Brélio disse:

- Senhor Cristiano! Peço que o senhor repita a esses senhores o que me disse na semana passada em minha casa.

- Pois não.

Cristiano narrou tudo o que lhe tinha acontecido até o presente momento. Todos o ouviram com grande atenção e pavor.

Passava das vinte e três horas, quando uma rajada de vento frio inundou a sala a porta se abriu e uma nuvem cinza cruzou o espaço, e uma voz disse:

- Eu os estava esperando.

Correram em direção a lugar de onde havia partido o clamor, e foram engolfando pela nuvem, que aterrorizados permaneceram estáticos petrificados pelo medo.

Logo surge o espectro. Não era a mesma figura que costumava aparecer a Cristiano. Tinha um aspecto horrorizante, suas vestes estavam rasgadas e sujas de sangue que corria, sua calça estava arriada, não tinha o escroto, apenas o lugar que saia sangue, que corria pelas pernas, indo se depositar nas calças, que estavam abaixadas. Sua fisionomia era de dor e sofrimento, se contorcia todo. Apontando o dedo indicador para o grupo disse:

Nas mortes violentas, por suplício o espírito fica surpreso, espantado e não acredita estar morto. Sustenta essa ideia com insistência e teimosia. Entretanto, vê o seu corpo, sabe que é o seu e não compreende que esteja separado dele. Tem nesse momento duas alternativas, se puro e tendo levado uma vida de paz e bondade, surgirão espíritos de luzes que o levarão ao encontro da claridade, onde se encontra a dimensão branca. Se mau e tenha levado uma vida desregrada e nociva aos seus semelhantes, será buscado por espíritos sofredores que vem das trevas e o levarão para a escuridão.

- Vejam agora tudo o que me fizeram a mais de vinte anos atrás. O que me fez permanecer na dimensão intermediária, a dimensão cinza, dentro das entranhas de uma árvore, para não ser levado para as trevas.

Apareceu na cozinha, cinco homens, quatro seguravam o incauto, enquanto outro o açoitava com um vergalhão de ferro de construção. A carne a cada açoite saltava em uma verga sanguinolenta. Quando as costas estavam completamente cobertas de chagas, o ferro foi colocado no fogão e retirado em brasa e encostado nas chagas. A vítima urrava de dor e perde os sentidos. Os verdugos o levam de arrasto até a amoreira onde termina o martírio com a amputação dos escrotos da vítima.

A nuvem cinza cobre tudo novamente e aparece o espectro, da mesma forma que sempre apareceu a Cristiano.

Com o dedo indicador apontando para todos disse:

- O que é que vocês acham que os espera após terem visto tudo o que fizeram comigo?

Todos estavam em estado de paralisação total, dado ao estado de terror que se encontravam, apenas Cristiano, que de qualquer forma já estava mais habituado ao que estava ocorrendo disse:

- Não esqueças de que me prometestes não feri-los nem matá-los.

- Sim! Não me esquecerei do prometido. Acontece que estamos na dimensão cinza, onde nada é branco nem preto, nesta dimensão eu sou o dominador, somente eu poderei abrir-lhes a porta de saída. Permanecerão aqui o tempo que eu determinar.

Como não posso feri-los e nem posso matá-los, permanecerão sob os meus domínios assistindo o que fizeram comigo uma vez após outra para todo o sempre.

- Espere ai, isso não foi combinado – intervêm Cristiano em tom enérgico.

- Sim senhor Cristiano! O senhor pode ser liberado. Agora não necessito que envie uma muda para cada um deles, as mudas apenas serviriam de portal para a dimensão cinza, fazendo com que eu pudesse alcançá-los.

- Não foi o combinado, se eles permanecerem na dimensão cinza, eu os acompanharei, afinal, nada mais tenho no mundo que me possa interessar, minha única filha se foi.

Cristiano pode ver que na dimensão cinza a árvore estava intacta, o poço ainda não tinha sido coberto e as mudas não existiam.

Conta-se hoje em Harmonia que seis homens se reuniram no escritório da velha e abandonada fábrica de metais, para artesanatos, e nunca mais foram visto. O vigilante que os recebeu, disse no dia seguinte que o dono da fábrica se reuniu com mais cinco homens no escritório e nunca mais saíram, nem foram encontrados.

rocado
Enviado por rocado em 18/12/2018
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