O BRILHO DOS OLHOS NÃO ERAM DE UM GATO

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'Cidade pequena, caminhos vazios, noites escuras perfumadas de orvalho, tranquilidade absoluta. Casas de portas e janelas abertas, gente pacata e hospitaleira, mas, a casa dois da Rua Primeira tinha um temporário hóspede...'


 Paulina adorava passear descalça pelo mato, principamente à noite, gostava do cheiro, do contato com as folhas sob seus pés, catar sementes para atirá-las entre as árvores, como se fosse uma colaboradora da mãe natureza. Fazia isso muitas vezes, naquele lugar não havia perigo, no máximo pisaria num rabo de um gato adormecido, até ria deste pensamento, tão brejeira aquela moça...

No inerior, parece que anoitece mais cedo, depois do jantar, Paulina arrastando as chinelas brancas sai para dar uma voltinha, havia umas plantas com florada nova, deixando no ar um aroma adocicado, noite perfeita para caminhar e desfazer um pouco do bolo de milho com carne, sua mãe caprichara e ela comera além da conta.

Próximo dali encontrou logo as flores novas, realmente adoráveis, uma delas meio roxinha ficava um pouco mais para dentro da mata, mas, que mal havia...então, foi até a nova flor, de repente um par de olhos iluminados, Paulina ate riu, pois lhe veio à mente o perigo de pisar no rabo de um gato adormecido, ela nem teve como se defender, a mão pesada lhe esbofeteou com tanta violência, que ela perdeu os sentidos.

Rodriguez, criminoso cruel, fugitivo de um presídio localizado há muitos quilômetros daquela cidadezinha, viera se esgueirando pelos caminhos e matas, no caminho roubara um rapaz mochileiro, deixando o rapaz nú com a garganta rasgada jogado num córrego próximo. Rodriguez era um homem, jovem,  baixo, claro e insuportavelmente, cativante. Engabelar os idosos moradores da casa dois da Rua Primeira fora muito fácil, inventou uma estória de ter se perdido e que precisava de pousada por dois dias, depois inventou um mal estar, o que preocupou o casal e a partida foi adiada por mais uns dias. Se fez prestativo, consertava coisas na casa, sempre atencioso com os donos da casa, realmente uma pessoa agradabilíssima. Na noite em questão, Rodriguez estava agitado e cansado de fingir tanta delicadeza, sufocou o velhinho com um travesseiro e quebrou o pescoço da esposa dele, na hora em que ela preparava um cházinho para ele. Enrolou o casal em cobertores e os jogou no poço do quintal, já estava de saco cheio de tantos salamaleques. Resolveu dar uma corrida pelo mato para aliviar a adrenalina, depois resolveria que rumo dar à sua fuga, aí ele viu Paulina, aquela mocinha linda e descalça, ficou ali admirando aquela presa tenra, delicínha rsss...

Enquanto Paulina estava desacordada, Rodriguez apenas a despiu vagarosamente, por algum motivo, não sentia desejo, apenas uma ânsia, uma volúpia mórbida, queria ver suas entranhas abertas, chegou a salivar como uma hiena com este sádico pensamento. Com medo da mocinha acordar, lhe deu um violento soco e com uma faca rasgou seu ventre rindo em júbilo, ficou olhando o sangue correr, remexeu os órgãos, praticamente mudando suas posições, sentia-se um arquiteto de reconstrução. Só depois se deu conta que estava coberto de sangue e depois do que fez com Paulina, a satisfação desapareceu, precisava se livrar do corpo e se limpar, lembrava de ter visto um riacho um pouco mais para dentro da mata. Foi arrastando o corpo da moça.

Quando chegou junto a margem, amarrou uma pedra grande com um cipó enlaçou o pescoço da moça e atirou o corpo no rio, depois enterrou a jaqueta, lavou a camiseta batendo nas pedras, a bermuda sujou de terra e lavou no rio, ficou parecendo suja de terra e não de sangue. Tomou um banho longo e voltou para 'casa' , comeu, bebeu regiamente e dormiu o 'sono dos justos' na cama dos idosos hóspedes do poço. No dia seguinte resolveria para onde iria, mas, pela manhã a pequena cidade estava alvoroçada, ficou ouvindo por detrás da cortina da janela da sala, a tal delicinha era muito querida por ali, pelo que pode perceber, precisava sumir dali rápido, todos estavam se encaminhando para a delegacia. Rodriguez aproveitou a chance para invadir três casas, roubou todo dinheiro que encontrou, uma jaqueta, enfiou outras roupas numa mochila e se embrenhou na mata, à noite ganharia a estrada.

Ao anoitecer saiu da mata pelo lado Leste, foi andando calmamente pela pista pouco movimentada, havia adquirido uma bela barba naqueles dias, se sentiu confiante e seguiu em frente, iria encontrar uma outra cidade pequena, depois outra até alcançar a fronteira do País vizinho, mas, seus planos ficaram estirados no pó da estrada junto com seus miolos. Os policiais que estavam a sua procura o encontraram e reconheceram, colocou a mão no bolso para pegar um cigarro, mas, não lhe deram chance alguma.

Claro que para tudo o que fez, a pena de Rodriguez foi bem leve. Uma investigação tensa se deu nas semanas seguintes na pacata cidade, tantos corpos apareceram, mas, para a inocência confiante e bovina daquele povo, nunca pode explicar...
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 31/12/2018
Código do texto: T6539351
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