enterro prematuro

Pobre Laura gritava atormentada com aquelas imagens destorcidas de si mesma ,caída sobre um chão frio e úmido ,sua alma clamava pela misericórdia de uma sanidade que lhe dava as costas .

A madrugada seguia seu curso lentamente, as forças lhe faltavam,a sua frágil voz havia lhe abandonado .os lagartos do dia agora eram enormes dragões que se alimentavam de almas atormentadas, quando ela ousava olhar pela janela ,um espantalho lhe observava com uma expressão fria e vazia absorvendo toda a sua coragem.

Laura era uma menina fria e melancólica, suas vestes negras só refletia uma alma velha e sem vida. Laura passava dias em seu quarto desenhando fantasma, demônios e anjos amaldiçoados.

Laura costumava selar as portas de seu mundo com uma certa frequência, mais sempre mantendo uma fresta para a realidade, em seu mundo existia apenas dor, a dor era a força principal que o movia, mais isso não era uma coisa ruim mas sim uma capa que a protegia dos flagelos mortais.

Os monstros que ela criava estavam ganhando força cada dia mais, seus sonhos foram se difundindo com a realidade e se misturando com os pesadelos, o resultado eram os piores , anjos com asas de morcego, fadas com sede de sangue, serpentes em chamas e híbridos clamando pela morte

Laura então passou a cavar covas em seu quintal para enterrá-los , sonhos defeituosos só causam problemas, confundem a mente em meio de tantas covas Laura fez a sua própria pois acreditava que sob a proteção das sombras os anjos não poderiam tocá-la ,a cova de Laura funcionava como sua “fortaleza da solidão”, pois era lá que ela se escondia quando sentia medo ,seu refúgio do mundo humano

Um certo dia Laura estava comendo uma maçã e cortou seu dedo com uma faca e se deu conta que sangrava ,que sentia dor física , que estava exposta a morte, que a imortalidade não lhe foi ofertada, isso a fez surtar, enlouquecer consideravelmente com tal pensamento ,até aquele momento a morte nunca havia sido uma questão que costumava considerar ,ela acreditava que sua percepção superior aos dos seres comuns , a deixava isenta da morte .

Aquele pensamento a atormentava dia após dia e deixava seus sonhos desorientados ,sem controle algum e expostos a qualquer força externa ,presa em seu quarto sozinha em casa , as vozes se confundiam com seus pensamentos , as paredes vibravam , o chão estava prestes a engoli-la , as sombras erguiam –se das paredes e do chã tentando alcançá-la, Laura tentava sair do quarto desesperadamente mais seus esforços eram em vão .

pobre Laura caiu fraca e ofegante no sórdido chão , que ria de sua agonia , dragões entravam pela janela e as luzes tentavam queimá-la ,seu sangue que inexplicavelmente se soltava de seu corpo, se misturava com a tinta azul da parede que derretia e tentava engoli-la, na janela a rasga mortalha cantava em mau agouro.

Com um esforço inacreditável Laura conseguiu se solta do chão devorador, e seguiu pelo corredor que se espremia tentando impedi-la os moveis eram obstáculos fora do comum, haviam cobras nas escadas que ameaçavam derrubá-la a qualquer momento, os quadros debochavam de seu tormento.

Ofegante e quase sem forças por baixo de uma chuva que caia com tamanha força, ela conseguiu chegar até seu tumulo, com tamanho medo e desespero suas mãos percorriam ferozmente a terra molhada para cobrir seu corpo, mais que infelicidade a cova estava funda demais a chuva fazia a terra pesar mil vezes mais pesado que de costume , seu corpo estava sendo tragado pela lama , que estava levando seu corpo cada vez mais para o fundo.

Aos poucos sua vida foi se diluindo, enquanto encarava sua mais nova amiga ela declamava “o corvo’’ de Edgar Allan Poe pensava em seu enterro prematuro, e na ironia de perder sua vida da mesma forma que enterrava seus mais insanos pesadelos.

JOSEFF GRIMM
Enviado por JOSEFF GRIMM em 14/02/2019
Código do texto: T6574939
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